Apesar de o mercado alardear o Equotd+apagão de mão de obraEquotd+, a cada ano mais gente recebe diploma de graduação e espalha currículo feito spam. Para entender essa incoerência à brasileira, uma pesquisa ouviu empregadores, egressos dos cursos superiores e instituições de ensino. A resposta é simples: como praticamente inexiste diálogo entre as empresas e a academia, a maioria dos formados não está apta a atender às expectativas de um contratante cada vez mais competitivo e exigente.
Um cenário que se mede pela própria percepção do egresso: apesar de a maior parte deles acreditar que finalizar um curso superior abre oportunidades de trabalho, 30% dizem que lhes falta conhecimento técnico.
Equotd+Isso nos sinaliza que ou as instituições não estão ensinando corretamente, ou dão ênfase ao que não é necessárioEquotd+, diz Thiago Rodrigues Pêgas, diretor do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp), que encomendou a pesquisa em conjunto com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
O levantamento, que funciona como um projeto-piloto, foi realizado na região de Campinas, área com predomínio de empresas mecânicas, de eletrônica, tecnologia, química e alimentícia. A ideia, agora, é aplicar o questionário em todo o Estado de São Paulo. Equotd+Mas essa amostra já indica que, se o País quiser mesmo figurar entre os maiores, precisamos aumentar esse diálogo. A indústria já percebe que somos parte da cadeia produtiva. Agora precisamos nos organizar para mudar a imagem que o setor produtivo tem da academia, de que é lenta e pouco afeita a mudançasEquotd+, sintetiza Pegas.
Paliativo. Enquanto persiste a falta de sintonia, as grandes empresas utilizam-se de seus programas de trainee – tão disputados que chegam a ter mais de 500 candidatos por vaga – para pinçar seus profissionais. No Itaú, por exemplo, foram mais de 25 mil inscritos para as 87 vagas do processo de 2012.
Equotd+Como não existe uma faculdade para banco, o que a gente aproveita é o background matemático e a forma com que esse profissional raciocina. O restante, complementamos no programaEquotd+, diz Marcele Correia, supervisora da área de pessoas. Na última turma, por exemplo, 36% são engenheiros. Equotd+Pode-se pensar, mas por qual razão engenheiros em banco? Vou aproveitar o raciocínio lógico, a forma de ele pensar os processos.Equotd+
A lista de aprovados revela um outra faceta da seleção que também aparece na pesquisa: os programas de trainee recrutam majoritariamente os oriundos de universidades públicas e das instituições privadas mais conceituadas. Uma escolha que acontece até mesmo quando a análise do currículo não é a primeira fase do processo de seleção, como é o caso do próprio Itaú. Por lá, o local de formação só vem à tona na quarta etapa e, mesmo assim, é raro chegar até ali um candidato que não seja egresso dessas instituições.
Equotd+Existe um rankeamento baseado no mérito que economiza tempo do empregador. No mundo todo é assim. É uma forma de avaliar o talento, não é uma exclusãoEquotd+, avalia VanDick Silveira, presidente do Ibmec.
O mineiro Augusto Vilela, por exemplo, se formou em Administração na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e diz que sua experiência de vida foi fundamental para ser trainee do Itaú. Equotd+Meus professores eram ótimos, mas muitos nunca tinham atuado no mercado. Ao perceber isso, fui buscar outras oportunidades. Trabalhei na empresa júnior da universidade e fiz dois programas de estágio.Equotd+
Ele acredita que essa vivência fez com que se destacasse nas dinâmicas de grupo, quando demonstrou capacidade de resolver problemas, espírito de liderança e habilidade na gestão de pessoas. Equotd+Se tivesse ficado só na sala de aula, não teria desenvolvido essas competências.Equotd+
Além do despreparo técnico, Karina Ude, gestora de recursos humanos da Bosch, diz que falta aos recém-formados um entendimento do mundo corporativo. Equotd+É um choque cultural. Esse profissional chega sem as competências comportamentais desenvolvidas. Não sabe como se portar em uma reunião.Equotd+
Por isso, o programa de treinamento da multinacional alemã dura dois anos e, além da capacitação técnica, tem módulos focados em autoconhecimento e no alinhamento da cultura pessoal com a organizacional, com mentoria de executivos.
Solução. Para Francisco Almeida, um dos coordenadores da HSM, a distância entre mercado e academia é reflexo da tradição brasileira, que valoriza o professor pelo número de pesquisas e publicações e não se importa se muitos deles não têm experiência de mercado. Equotd+É só ver que, no lattes, um artigo publicado ocupa o mesmo espaço de uma experiência profissional.Equotd+
Uma tradição que deve ser quebrada no curso de Administração da instituição, com previsão de lançamento em 2013 no Rio de Janeiro. Para a concepção do projeto, a instituição fez encontros com diretores de RH e estruturou um curso para atender às exigências técnicas e comportamentais do mercado.
Nos trabalhos em grupo, por exemplo, a avaliação do professor deve contemplar, além do conteúdo, a maneira como o aluno se expressa e o relacionamento com a equipe.
Outra estratégia simples, diz Pêgas, do Semesp, é repensar o comportamento paternal da universidades. Equotd+Se o aluno não entrega um trabalho no dia apropriado, o professor aceita no seguinte, porque um dia não interfere na qualidade do material. No ambiente corporativo não é assim. Não há essa tolerância.Equotd+
Sem isso, adverte, uma lógica perversa continuará a valer: a de que as empresas contratam por requisito técnico e demitem por mal comportamento.