Greve em federais afeta 75% das vagas do Sisu

As inscrições de meio do ano no Sistema de Seleção Unificada (Sisu) começam hoje com 75% das vagas disponíveis em instituições que estão em greve. Das 30.548 vagas oferecidas no processo, 22.902 estão em universidades e institutos federais com parte das atividades paralisadas por conta do movimento. A greve pode prejudicar o calendário das universidades e a matrícula dos novos alunos.

O Sisu é o sistema informatizado que concentra as vagas das instituições de ensino que adotam o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como processo vestibular. O processo é aberto duas vezes por ano, no fim e no meio.

Das dez instituições que mais oferecem vagas nessa edição, apenas duas não estão em greve (mais informações nesta página). A campeã em oferta, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com 3,6 mil vagas, é uma das que estão em greve.

Com exceção da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) – que mantém indicativo de greve, mas ainda não aprovou a adesão -, todas as universidades federais que participam do Sisu no meio de ano aderiram à paralisação nacional. As instituições que não estão em greve e participam do Sisu são institutos e universidades estaduais.

A greve dos professores das instituições federais completou ontem um mês. Ao longo desse período, o movimento cresceu e conta com 54 instituições. A categoria pede, sobretudo, a reformulação no plano de carreira, mas a melhora na precariedade dos câmpus e unidades também entrou na pauta.

Na semana passada, os servidores técnicos também cruzaram os braços. Em geral, são eles que efetuam as matrículas, marcadas para o dia 29. Decisões judiciais anteriores exigem que os servidores mantenham mínimo de 30% das atividades em funcionamento mesmo com a greve.

Reunião. Com receio que a greve continue crescendo e atinja outras áreas do funcionalismo, o governo convocou uma reunião com os sindicatos, na última terça-feira. Pediu uma trégua de 20 dias – em uma aposta para garantir o retorno às aulas e a normalidade das matrículas. Mas a categoria recusou interromper o movimento sem ouvir uma proposta.

Equotd+É uma indecência o governo pedir uma trégua sem uma proposta clara em relação à carreiraEquotd+, afirma Clarisse Gurgel, do comando nacional de greve do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes).

O Ministério do Planejamento, que está tocando as negociações, marcou para amanhã uma segunda reunião para detalhar a proposta. O encontro acontece às 10 horas, em Brasília. Os professores mantêm a expectativa, mas a opinião geral é de que a greve não deve terminar.

Na negociação anterior, semana passada, o Planejamento vislumbrou que a ideia do governo era oferecer um projeto de carreira parecido com o dos docentes ligados ao Ministério da Ciência e Tecnologia – o que não animou os sindicalistas.

Equotd+Eles estão com a perspectiva de uma proposta salarial e esquecem a proposta de uma carreira. E a referência é na Ciência e Tecnologia, que tem problemas, é muito voltada para a política de gratificação por produção, o que não é interessante para os docentesEquotd+, completa Clarisse.

A professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Virginia Junqueira, presidente da associação dos docentes, lembra que os representantes do governo sequer tocaram em muitas das reivindicações.

Equotd+Precisamos da valorização da dedicação exclusiva, lutamos para que o professor que se dedique à universidadeEquotd+, diz ela. Equotd+Eu acredito que a greve não acabe amanhã. Os professores estão conscientes que é importante o debate da carreira, não só o salário.Equotd+

Crescimento. Mesmo com o aceno do governo, a greve só tende a crescer. Além das Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) manter o indicativo de greve, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) também deu o mesmo sinal e deve parar a partir de amanhã.