Mais de 85% das universidades federais estão em greve neste país. Existem mais de um milhão de estudantes de graduação sem aulas. Pela TV, pelos sites dos sindicatos e por todos os meios de comunicação é possível saber exatamente o caos em que se encontram todos aqueles que participam diretamente do ensino superior deste país.
Apesar disto, nem todos estão cientes do processo que realmente ocorreu para que esta greve fosse decretada pelas secções sindicais da ANDES nas Universidades federais brasileiras. Ocorreu no dia 26/Agosto/2011, a assinatura pela ANDES juntamente com o PROIFES do acordo n. 4/2011 no qual ambos se comprometem acatar o Plano de reestruturação da Carreira nas IFES, e ACEITAR as tabelas salariais com aumento de apenas 4% a vigorar a partir de Março de 2012. Morreu em seguida o Secret. Duvalier do MEC e depois foi nomeado outro representante do governo, para continuar as negociações sobre estes temas. Estas negociações só aconteceram depois de Março de 2012, após muita pressão dos representantes sindicais das IFES. O fato concreto é que no final de Abril de 2012, depois de muitas reuniões, o atual Ministro da Educação solicitou que a presidente Dilma assinasse uma Medida Provisória para cumprir aquilo que foi acordado pela ANDES e PROIFES para não prejudicar mais os professores.
A “proposta” da ANDES não foi aceita pelo governo e sim a “proposta do PROIFES” que resultou na medida provisória assinada em Maio deste ano. A partir disto, foram feitas “assembléias de base” nas IFES vinculadas a ANDES e os professores decidiram pela greve em 17 de Maio de 2012. A pauta de “reivindicações” da ANDES tem no mínimo três páginas e com uma proposta de 20% de aumento salarial aos professores. Constam da pauta, vários itens sobre a falta de infra-estrutura nas universidades, e uma série de alterações que provocam uma profunda mudança na política da educação superior. Esta pauta da ANDES, embora justa e ótima para todos nós, é impossível de ser cumprida pelo governo federal, porque envolve todos os funcionários públicos do mesmo. Mais do que lógico é entender que todo o processo desta greve em 2012, plenamente justificável para nós professores, tem muita conotação política atrelada, e escamoteada por alguns dirigentes sindicais. As negociações com o governo ainda continuam com o PROIFES até o final de junho. A ANDES, por sua vez, está muito feliz com esta “força da greve” e com os velhos métodos arcaicos de deliberações em” assembléias democráticas” com menos da metade dos professores em greve deliberando sobre o destino de todos. No comando de greve em Brasília, das 50 IFES existem apenas 25 IFES representadas atualmente, e o “comando de greve” está solicitando “uma ajuda de CAIXA” para as secções sindicais filiadas. Isto porque o tal “ fundo de greve” está acabando e não existe dinheiro para manter os ilustres representantes dos 47 comandos de greve em Brasília, durante tanto tempo. Portanto, as informações recebidas ainda não estão claras quanto a tal “força da atual greve”, não existem percentuais definidos de quantos professores nas IFES estão realmente parados, nem mesmo quantos professores realmente entraram em greve nas IFES.
Este cenário é bem conhecido por todos nós professores e sabemos perfeitamente qual vai ser o RESULTADO FINAL de tudo isto. Simplesmente em nada, como muitas outras greves realizadas anteriormente já demonstraram. Tal situação não vai ajudar na melhoria das condições de trabalho dos professores universitários deste país, nem mesmo na melhoria salarial que todos nós professores merecemos há vários anos.
O governo atual vai justificar até o final da greve que ocorreu um “aumento real de salário” para os professores, indicando que houve um acordo assinado pela própria ANDES, como já fez o Ministro Mercadante. Apesar disto, todos sabemos que o próprio governo embutiu na medida provisória assinada, uma série e “maldades” que de fato diminuíram os salários de algumas categorias de professores nas IFES. Além disto, com apoio da mídia e dos meios de comunicação, vai ficar claro para toda a população deste país, que neste governo se investiu muito dinheiro em ensino superior do país, um total de mais de um bilhão para obras de infra-estrutura e laboratórios. De fato, os números que o governo apresenta, irão demonstrar de forma clara e precisa que ele está atendendo as necessidades do ensino superior deste país, dentro da política adotada. Basta ver a entrevista dada pelo próprio Ministro Mercadante no site da ANDES.
Por sua vez, a ANDES vai contestar tudo isto e vai demonstrar vários números que existem várias distorções absurdas e uma falta crônica de verbas para manter a infra-estrutura básica nas IFES para permitir uma educação superior de qualidade, como todos nós já sabemos e sofremos cotidianamente com isto.
Depois de algumas semanas de várias declarações de ambos os lados, o governo vai dizer que não tem dinheiro suficiente para atender a tudo que foi solicitado, pela ANDES e ponto final. A ANDES vai alegar os “grandes avanços” obtidos com a greve, como de fato aconteceu em algumas greves das muitas realizadas nestes moldes. O professor vai voltar às salas de aulas e ao seu laboratório de pesquisa e vai ter que repor as aulas nas férias, vai continuar seu trabalho sem melhoria da infra-estrutura precária existente, fazendo das tripas coração para manter a frágil qualidade do ensino superior neste país. Simples assim. Tal resultado é muito claro para mim e para muitos que já participaram de muitas greves, todas sempre com o mesmo cenário e sempre com os mesmos “avanços”.
Sempre soubemos que a sociedade não está preocupada com o ensino superior. É fácil saber que, mesmo que o Congresso Nacional tenha um “ataque de bom-senso”, e que os políticos deste país realmente comecem a se preocupar com a educação do mesmod+ uma greve de professores universitários das IFES nunca vai modificar a “opinião do povo brasileiro” sobre o funcionalismo público federal ou sobre os professores universitários como quer a ANDES e seus representantes. A greve via apenas dar um enorme “lucro financeiro” ao CAIXA do governo, exatamente isto que ele necessita neste momento de crise financeira internacional. Estamos fazendo exatamente o “jogo do inimigo” atirando no próprio pé. Não se esqueçam que o Ministro Mercadante é um dos fundadores da ANDES, sabe de longa data como agem os seus afiliados.
Nós não temos a mesma importância do que um “motorista de ônibus” na sociedade. Eles conseguem parar uma cidade inteira com uma greve, com ocorreu aqui em Florianópolis. Não somos tão essenciais para o cotidiano da população, a não ser quando formamos um profissional que não tenha qualidade, como muitos dos atuais políticos que estão hoje no poder central. Basta ver o noticiário dos jornais e acompanhar na TV as barbaridades que ocorrem neste país, quando as universidades formam os “maus profissionais”. A universidade tem que lutar por méritos e não por números, como querem os atuais políticos.
Existem maneiras mais eficazes de mobilizar e modificar a “opinião pública” sobre os professores universitários e servidores das universidades federais. Uma delas é mostrar à opinião pública o trabalho que é realizado nesta UFSC, por todos os bons profissionais desta universidade. Devemos mostrar claramente ao “povo brasileiro” o quanto ganha um professor ou um servidor das IFES, em relação aos outros profissionais com o mesmo título acadêmico que estão em outros órgãos do governo. Necessitamos colocar de forma clara e didática à sociedade, que isto que o governo quer não é aquilo que ela necessita, as medidas adotadas não vão solucionar a “falta de infra-estrutura crônica” que prejudica o trabalho de formação de bons profissionais, que esta população necessita. Temos a obrigação de fazer isto, como única instituição pública que existe para este tipo de trabalho, que é produzir avanços científicos socialmente justos e desenvolver o espírito crítico na sociedade. Para isto, a sociedade nos paga.
Precisamos convocar todos os professores, alunos e servidores UMA ÚNICA VEZ para realizar um único PROTESTO no próprio campus da UFSC, com hora marcada de início e hora marcada de término, para este tipo de evento. Sem greve, apenas uma única manifestação conjunta mensal ou semanal se quiserem, para demonstrar nossa unidade e coerência com a nossa missão de formar bons profissionais. Vamos juntar nossas forças e não dividi-las, com quer o inimigo e faz isto com muita competência.
Isto pode ser organizado pelos dois sindicatos (de professores e servidores) que fazem parte da UFSC, em conjunto com a própria administração central e com apoio total dos nossos estudantes. Creio que a organização disto, ocorrerá naturalmente, porque estamos sofrendo á vários anos as conseqüências da política governamental adotada para o ensino superior. Neste ato único mensal, com milhares de pessoas reunidas (somamos mais de 20.000 pessoas na UFSC), toda a mídia deverá estar presente e ser municiada com informações precisas e claras, de FORMA DIDATICA. Poderemos ter manifestações, curtas, claras e objetivas para demonstrar nossas principais reivindicações. Podemos mostrar a situação caótica que se encontram alguns laboratórios e salas de aulas e os nossos salários ridículos, em relação aos outros profissionais de mesmo nível. Temos professores e servidores muito competentes para isto e um enorme arquivo com todos estes dados. Poderemos mostrar aquilo de melhor que realizamos com o dinheiro público, sem greves, sem passeatas, sem assembléias, sem muito esforço criativo, apenas usando nosso cérebro. Mas para isto, devemos ter competência profissional, consciência política, clareza nos nossos objetivos e não permitir absurdos políticos ou abusos de qualquer natureza durante este tipo de evento. Nossos estudantes devem participar deste processo com toda a sua força, mostrando também sua indignação quanto ao descaso do governo federal com a educação superior deste país, e com certeza deveram apoiar totalmente este tipo de evento, sem causar prejuízos de qualquer natureza aos que estiverem defendendo a nossa universidade neste tipo de ato. Sei que isto é apenas um sonho, espero um dia em vida poder vivê-lo. Sei de longa data, que nós somos a classe mais desunida da sociedade. Até que este sonho não se concretize, me limito a assistir o “resultado de mais uma greve”.
Ricardo Tramonte
Departamento Ciências Morfológicas