PCdaUFSC?

O exercício da democracia tem seus riscos. Um deles é o de aceitar a participação de grupos que atentam contra a própria democracia. Entre estes, os comunistas formam o grupo mais atuante, organizando-se em vários partidos. Sua ação, contudo, é mais ampla infiltrando-se também em movimentos sociais, estudantis, sindicatos, universidades etc. Talvez com pequenas variações, esta infiltração visa a formar o que o PCdoB chama de organizações de base. Para entender a sua importância selecionei o trecho abaixo para análise [1]:

“As Organizações de Base são os alicerces do PCdoB. Elas são formadas nos locais de trabalho, de moradia, de estudo, em todo lugar onde o Partido tem militantes. O PCdoB luta para que todo militante esteja integrado na sua Organização de Base e para que todo o trabalho partidário se desenvolva através das OBs, coletiva e organizadamente. (….) Estudantes, servidores técnicos-administrativos e professores compõe o PCdoB na Universidade, organizados em um espaço de debates, deliberação e, principalmente, ação: a base. Os comunistas da UFSC estão em um intenso processo de diálogo com diferentes setores da Universidade visando um posicionamento nas eleições para a Reitoria.”

O texto acima, datado de 2007, continua atual e sugere a interferência partidária em assuntos da universidade. Devemos questionar até que ponto tal intromissão é admissível. Como cidadãos, todos podem expressar sua posição ideológica mesmo que a história já tenha mostrado, no caso do comunismo, ser essa posição uma opção abjeta e autoritária. É o risco democrático. Agora, quando um grupo de pessoas se mobiliza em nome de interesses partidários para ocupar posições chave da administração pública ou de sindicatos temos o aparelhamento da administração. Qual a consequência dessa interferência partidária na atuação de um reitor que deve administrar uma instituição cuja principal finalidade é a livre produção e divulgação do conhecimento que se combinam para a formação intelectual das pessoas? Procuremos a resposta entre o segmento que deu a vitória à reitora. Vejamos o que diz a estudante Caroline Bellaguarda da União da Juventude Comunista (UJC)  – Base UFSC [2].

“A candidatura da Roselane se coloca como uma alternativa ao encarar e enfrentar a postura de subserviência aos interesses da ordem do Capital, do atual reitor Álvaro Prata, que tomou durante os quatro anos de sua gestão e que apresenta como bode seguidor o candidato Paraná. Entendemos que não é somente com a transparência de gestão nem com o fim de práticas paternalistas e de apadrinhamento que faremos a educação pública. Exigimos uma Universidade que esteja ligada às necessidades sociais e não às necessidades dos lucros dos capitalistas. Exigimos que a pesquisa volte-se às questões mais emergentes na sociedade e que retorne à comunidade o conhecimento produzido por esta universidade pública. Não nos basta a educação, pública e de qualidade. Isso, dentro das necessidades do mercado, já existe. Exigimos e buscamos mais! É necessário construir uma Universidade que além do conhecimento técnico e científico tenha também uma visão critica e transformadora, e contribua na mudança da realidade na direção do socialismo. Por isso defendemos a bandeira da construção da Universidade Popular! ”

Não me deterei na elucidação do termo “Universidade Popular” pois já fiz isso no texto “Universidade Pública x Universidade Popular” que está disponível no boletim da APUFSC nº 755, e também porque o texto de Caroline Bellaguarda já deixa claro que a Universidade Popular nada mais é que um instrumento para a marxização da sociedade. A autora, contudo, não revela que o resultado deste processo é inevitavelmente uma opção autoritária e brutal como se vê em todos os regimes ditos socialistas. Ao ler esse texto vemos que os jovens comunistas da UFSC se advogam o direito de exigir que as pesquisas se voltem somente para aquilo que consideram de importância na edificação do socialismo, provavelmente condenando qualquer purismo à condição de mera “delicatessen” burguesa. Não satisfeitos, combatem o livre conhecimento que é substituído pela doutrinação marxista. Haja fanatismo!!! Aos jovens não doutrinados da UFSC vale lembrar a regra: da mesma forma que a universidade não deve se inclinar à ordem do capital, também não deve se submeter aos ditames autoritários do Movimento Comunista Internacional. Se querem ser fiéis a esse princípio, afastem-se, então, dessas organizações comunistas e mobilizem-se para refundar o movimento estudantil da UFSC livre de ideologias.

Entre os professores, há aqueles que não escondem a defesa do mesmo projeto autoritário de marxização da sociedade. Isto fica claro em um texto do prof. Waldir Rampinelli no boletim da Apufsc nº 756 quando ele afirma que a maior função de um reitor é a “defesa da universidade como instrumento de emancipação das classes subalternas”. Emancipação que, sabemos, se dará com a implantação do mesmo regime autoritário e brutal que os jovens comunistas da UJC defendem. Vemos aqui a estreita afinidade ideológica do prof. Rampinelli com o mesmo grupo que compõe as ditas organizações de base da infiltração comunista na UFSC.

Nesta conjuntura, em breve teremos uma nova administração na UFSC e lembremos um dos compromissos da futura reitora [3]:

“Criar mecanismos democráticos de tomadas de decisões, para ouvir as pessoas e construir um planejamento institucional, que visa agregar pessoas e, a partir daí, constituir os indicadores de realidade. Acho que essa é a nossa principal questão.”

Como se dará isso sem contrariar os interesses dos grupos (partidários) que maciçamente a apoiaram? Para entendermos o problema que se avizinha da próxima administração basta analisar a estratégia que esses grupos utilizaram para dar a vitória à prof. Roselane Neckel. Lembremos o cenário do segundo turno das eleições da UFSC quando se intensificou artificialmente um discurso que sugeria um embate entre dois grupos, um formado por “conservadores” e outro por “reformistas”. Tal polarização não funcionaria caso a disputa ocorresse entre outros candidatos, o que não implica necessariamente que o prof. Paraná seja conservador ou reformista, mas sim que a feição de conservador se encaixou de forma perfeita nele somente por ter sido vice-reitor do prof. Álvaro Prata que, nas eleições passadas, derrotou um candidato que é um simpatizante fiel dessa corrente marxista infiltrada na UFSC (não esqueçamos que marxistas se consideram reformistas enquanto estratégia para tomar o poder, nesse estágio é que chamam seus adversários de conservadores.).  Ademais, tal polarização é um discurso rasteiro e típico de mentes sectárias que dificilmente afetaria pessoas dotadas de um mínimo de discernimento pois, obviamente, dependendo do contexto, ser conservador ou reformista pode ser algo bom ou ruim como se deduz da leitura da obra magistral de G.K. Chesterton, “Orthodoxy”. O fato é que a estratégia da polarização capitalizou (ou seria melhor dizer socializou?) para um dos candidatos o voto majoritário dos estudantes. A única explicação plausível para tal assimetria talvez seja o fato de muitos ainda não terem desenvolvido plenamente a capacidade de discernir a manipulação do discurso (polarizador) que lhes foi apresentado.

Concluímos então que pelo menos parte dos que apoiaram a prof. Roselane Neckel estão vinculados a grupos que defendem interesses espúrios, neste caso, um projeto de usurpação da universidade como mero instrumento de marxização da sociedade. Unidos nesse projeto autoritário tais grupos parecem ter grandes expectativas quanto à futura administração da UFSC o que, de certa forma, se opõe à intenção da própria prof. Roselane Neckel de querer “construir um projeto institucional que vise agregar pessoas”. A menos que tenha coragem de contrariar os interesses específicos destes grupos autoritários que a apoiaram, não permitindo o aparelhamento da universidade, ela não conseguirá cumprir sua missão de administrar a UFSC de forma democrática, apartidária, para todos e ao largo de ideologias. O tempo dirá.

Referências:

[1]http://www.pcdob.org.br/noticia.php?id_noticia=21200Eampd+id_secao=3:

[2] http://ujcfloripa.wordpress.com/

[3] Boletim da APUFSC # 763

Marcelo Carvalho
Professor do Departamento de Matemática