Li, com interesse especial, o artigo “Ser negro é fator de risco no Brasil”, do Professor Marcelo H.R. Tragtenberg, boletim n° 766. Lamento, profundamente, que casos de racismo, explícitos e implícitos, ainda ocorram em nosso país, e até sejam justificados por autoridades, como há não muito tempo ocorreu. A adoção das cotas raciais é um fator que reavivou esse comportamento.
Porém, o que me chamou a atenção no artigo do professor Tragtenberg foi a exemplificação. Com certeza é bem fácil reunir um conjunto de exemplos, até bastante amplo, em que as vítimas são pessoas brancas e os discriminadores de outras cores, todos da raça humana (que é uma só). Não vou a campo em busca de exemplos, mas relato fatos que aconteceram ou são relacionados a membros de minha (pequena) família, os quais acho suficientes para sustentar o título deste artigo.
Há certo tempo, eu e minha esposa fomos envolvidos num acidente de trânsito no Rio de Janeiro. Chamadas as autoridades para as providências cabíveis, um policial, negro, lavrou o auto do acontecimento. Quando exigimos os dados dos culpados ele nos disse que fôssemos embora porque estrangeiros lá não tinham vez.
Um segundo exemplo inacreditável nos ocorreu há mais ou menos dois ano quando, na mesma cidade do Rio de Janeiro, estávamos numa fila de supermercado (Pão de Açucar de Humaitá). Feitas as compras, entramos na fila do caixa. Eis que entra na mesma fila um casal negro, atrás de nós, e sem mais nem menos, de graça, começa a nos ofender “racialmente”. Não satisfeitos ainda forçam e passam à nossa frente. Saí da fila por me sentir inseguro.
Terceiro: minha filha é médica ginecologista e obstetra, mora no Rio de Janeiro. A meu pedido leu seu artigo, Professor Tragtenberg, e fez algumas observações interessantes. Até pouco tempo atrás ela, como funcionária pública do Estado do Rio de Janeiro, trabalhava no Hospital Rocha Faria, onde eram atendidas as mulheres presas do complexo Bangu. Todas as presas grávidas, a maioria branca, eram algemadas por uma perna, sendo libertadas apenas na hora do parto. Quanto à afirmação de as mulheres negras receberem menos anestesia, ela mostrou-se cética. Em sua experiência profissional de quatro hospitais públicos do Rio de Janeiro e da favela do Jacarezinho, ela jamais viu ou ouviu nada a respeito. Ela até levantou a hipótese de, pelo fato de haver percentagem representativa de mães pobres entre as mães negras, tendo estas mais filhos que a média, o organismo não exija tanta anestesia.
Quarto: meu falecido pai, quando vivo, já idoso, foi estrangulado (isso mesmo) por um jovem negro. Poderia relatar mais dois casos acontecidos comigo, mas creio que os expostos são suficientes para provar, dentro dos critérios do professor Tragtenberg, que ser branco, no Brasil, é um fator de risco e com base nos mesmos critérios, posso até afirmar que se instaurou, também, uma cruel discriminação contra os brancos. Cadê a secretaria da igualdade racial?
Claro, todo mundo sabe que uma área da atual UFSC serviu de campo de confinamento para “alemães” (da raça ariana?) durante a guerra 1939-1945. Na mesma época, no norte do Brasil, quem recebeu este tratamento foram os japoneses e seus descendentes. Alguém já fez a devida reparação histórica? Quantas quotas foram oferecidas à “raça ariana” e “amarela” pelas perseguições a elas infligidas? Ninguém quer assumir esta causa?
Minha conclusão é óbvia, os interesses políticos estão formando pessoas com visão social seletiva. Cotas, se adotadas, devem ser para as pessoas carentes, de qualquer cor e não para grupos sociais ou raciais visando apoio político.
Renato Antonio Rabuske
Professor Aposentado