Todos nós conhecemos a frase “o pior analfabeto é o analfabeto político”. O que realmente me causa espanto, na atual situação que vive a UFSC durante estas eleições para escolha de um novo reitor, é a “falta de visão política coletiva”, escancarada durante este processo considerado “democrático” pela maioria daqueles que estão vivenciando o mesmo.
Vamos aos fatos concretos deste processo dito “democrático”. Em primeiro lugar, nunca se viu tanta gente trabalhando com afinco e dedicação para mostrar a todos as “qualidades” de cada uma das três chapas concorrentes. São pessoas que dedicam um tempo considerável de sua vida acadêmica (estudante, servidor técnico ou professor) para realizar uma “campanha política” no âmbito da UFSC, apenas para convencer seus pares de que o seu candidato a reitor é melhor do que o outro.
Neste processo, levanta-se com muita dedicação todos os problemas e as “soluções possíveis” para a maioria dos mesmos. Coloca-se na UFSC, com bastante veemência, em “debates” e diálogos particulares ou coletivos, todas as idéias de como deverá ser conduzida a instituição UFSC nos próximos quatro anos.
Aparentemente, esta situação é bastante salutar, mas só aparentemente. O principal motivo desta “aparência” é que terminado o processo dito “democrático”, aberta as urnas e conhecido o nome do novo Reitor, MUDA TUDO.
Aqueles que perderam as eleições “democráticas” se transformam imediatamente em “oposição à atual gestão” e vão se reunir novamente para verificar o “porquê” de terem perdido as eleições e de nenhuma forma vão participar da administração central da UFSC, mesmo que suas “soluções para os problemas da UFSC” sejam as melhores.
Em segundo lugar, o processo de eleição para reitor, em qualquer Instituição Federal de Ensino Superior (Ifes) deste país, é realizado para elaboração de uma “lista tríplice” que deve ser enviada ao MEC pelo CUn. Após isto, o MEC, e somente o MEC, indica e nomeia o futuro reitor da UFSC, com poderes plenos para destituí-lo no momento em que o MEC achar conveniente. Portanto, todo o processo “democrático” de eleições de todas as Ifes é feito e respeitado pelo MEC, apenas para manter as “aparências” de uma democracia sólida e eficaz.
O mesmo MEC faz a “política para as Ifes” e pelo visto ela não tem sido muito eficaz, dada a quantidade de problemas que as Ifes estão vivenciando atualmente. Resumidamente, gastamos tempo e muito dinheiro para, no final das contas, entregar ao MEC uma lista tríplice, elaborada pelo CUn, para que o MEC nomeie um reitor, que vai ficar quatro anos sob as ordens do MEC, com um “grau de liberdade” extremamente pequeno para poder implementar TODAS AS MUDANÇAS propostas durante o processo “ democrático” realizado na nossa UFSC.
Eu pergunto se não seria mais fácil e salutar a todos se os nossos representantes do CUn realmente cumprissem a sua função de representar TODOS os segmentos da UFSC, com toda sua diversidade e pluralidade, e indicassem DENTRE os seus membros aquele que reúne as melhores condições de ser REITOR. Pelo que me consta, os representantes do CUn na UFSC são ELEITOS pelos seus pares em um processo também “democrático”.
Acredito que as três chapas concorrentes tem como principal objetivo a MELHORIA DA UFSC como um todo, têm programas já colocados nos seus sites para que todos possam analisar e dar palpites, têm pessoas competentes e dedicadas etc. Então, porque estamos perdendo um TEMPO enorme e gastando nossas energias e nosso dinheiro para realizar um processo de eleição para reitor?
A única explicação razoável para a pergunta é que um “grupo” de pessoas resolveu assumir o PODER dentro da UFSC e, para isto, se reuniram, conversaram, discutiram e chegaram à “brilhante conclusão” de que é possível assumir o poder dentro da UFSC, colocando como representante do “grupo” um único indivíduo.
Com base nestes fatos, uma outra pergunta me deixa absolutamente PASMO. No que nós professores universitários, alunos e servidores da UFSC somos DIFERENTES dos deputados e senadores que tanto criticamos?
Fato concreto, TODOS NÓS pertencemos a uma instituição federal, que vive de verbas PÚBLICAS. Realidade absoluta, somos todos contrários à atual política adotado pelo governo federal que não dá autonomia às Ifes. Concretamente, todos estamos dispostos a LUTAR para melhorar a qualidade dos serviços prestados pela UFSC para a sociedade. Inquestionável e urgente é a necessidade de melhorar as condições salariais e de trabalho de todos os segmentos da UFSC.
Então, porque diabos estamos brigando entre nós para eleger um representante da UFSC junto ao MEC?
A resposta a esta pergunta é muito simples e todos nós sabemos, até um criança sem nenhuma escolaridade pode responder: VAIDADE PESSOAL, AMBIÇÃO, GOSTO PELO PODER, SONHO, etc. São as palavras que podem perfeitamente responder a este simples e fácil questionamento.
Um grande amigo meu me disse certa vez: “se continuarmos a estimular brigas entre nós, o “inimigo” vai ficar muito feliz”, ou seja, “time que chuta a canela dos parceiros não consegue fazer GOL nos adversários”.
Uma solução para esta situação ridícula que vivenciamos a cada quatro anos seria realmente elaborar um “projeto UFSC”. Este projeto praticamente já existe, basta ajuntar as melhores idéias que existem nos sites de cada uma das três chapas concorrentes à próxima reitoria da UFSC. O único problema é que não está montado o CRONOGRAMA da sua execução e não existem METAS claras e objetivas com as quais todos os segmentos da USFC concordem. Para montar o “projeto UFSC”, infelizmente, nós temos que passar pelo processo “democrático” de eleição para reitor, e, depois, agüentar as brigas internas e a oposição à administração central para realizar uma pequena parte daquilo que eram os principais objetivos do “projeto UFSC”.
Particularmente, estou cansado de vivenciar tudo isto e acredito que há muita gente pensando o mesmo, só que não diz claramente isto porque tem MEDO de dizer, ou porque está lutando por alguma “posição dentro da administração central” em uma das três chapas.
Caso este quadro não mude, acho que vamos todos “morrer abraçadinhos uns nos outros”, reclamando do governo, dos políticos, da falta de verbas, da falta de infra-estrutura, dos colegas de departamento, dos funcionários, dos alunos, etc., etc.
Que tal pedir às três chapas que se reúnam em uma sala fechada da UFSC, nós todos deixamos eles TRANCADOS por umas horas, com suas brilhantes idéias e depois de algumas horas nós abrimos a porta, e verificamos quem vai ser o reitor? Será que o CUn aceita?
Muitas “tribos primitivas” usaram este tipo de processo para escolher o seu “REI” no passado, atualmente usamos um “processo democrático”. O pior de tudo é que tem filósofo dizendo que o ser humano “está evoluindo”.
Sinceramente, ainda espero encontrar “vida inteligente” neste planeta, talvez ela esteja dentro das universidades brasileiras.