Nem os equipamentos que trabalham com teorias da física e princípios da química e da matemática conseguem superar as leis da burocracia. O primeiro grande museu de ciências de Santa Catarina espera desde fevereiro deste ano por uma mudança de zoneamento para sair do papel. A alteração, que deverá ser concedida pela Câmara dos Vereadores, transformará a titulação da região do parque de área verde de lazer para área comunitária institucional.
A burocracia ainda emperra, mas Florianópolis está cada vez mais perto de ter seu Parque Viva a Ciência, um espaço de aprendizado ao ar livre que ensinará conceitos de disciplinas como Física, Química, Matemática e Biologia em brinquedos que atraiam crianças e jovens e diminuam a aversão a estas matérias. O parque, que será erguido pela UFSC na Via Expressa Sul, ainda aguarda a liberação da obra pela prefeitura da Capital, que depende da mudança do zoneamento da área.
Com isso, um dos lotes previstos para o Parque Viva a Ciência poderá ter mais do que apenas 5% em construção, como estabelece a nomeação de área verde. Ontem, representantes da prefeitura e da Câmara se reuniram para debater o assunto.
Além disso, ainda se aguarda pela autorização do Instituto de Planejamento Urbano (Ipuf) e da prefeitura para o início das construções. O Parque Viva a Ciência prevê a ocupação de dois grandes lotes na Baía Sul, em uma área total de 50 mil metros quadrados. O espaço terá brinquedos interativos que trabalham com princípios científicos, além de um planetário, no modelo do parque piloto instalado na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Mas o Parque, no Aterro da Baía Sul, integrará um projeto ainda maior, com aquário, atrativos científicos inovadores, espaço para área de lazer, esporte e um centro de capacitação de professores. Como explica a pró-reitora de pesquisa e extensão da UFSC, Débora Peres Menezes, serão oferecidos cursos para discutir como a ciência vem sendo ensinada, principalmente no ensino fundamental.
– Se você consegue captar os alunos no ensino fundamental, ao invés de preconceito por ciência, eles terão atração – acredita a professora.
Os cursos devem ser dados pelos próprios professores e alunos da UFSC. Os brinquedos interativos também seriam feitos por equipes da universidade, com o apoio de empresas especializadas. Uma célula gigante, por exemplo, seria construída com a ajuda de empresas de engenharia.Ela diz que, com as autorizações liberadas, as construções poderiam começar imediatamente.
– Mas o projeto estará em constante desenvolvimento. Os equipamentos serão trocados, por ficarem muito conhecidos ou mesmo por serem deteriorados por estarem próximos ao mar – ressalta Débora.
Como complementa o diretor de Projetos de Extensão da UFSC, Nelson Canzian da Silva, o parque será mais um atrativo para a cidade.
– Será um local aberto, as pessoas serão atraídas pelo olhar – destaca.
Cerca de 10 profissionais da UFSC, entre docentes e técnicos, fazem parte da Comissão do Parque Viva a Ciência, além de voluntários.
O caixa para começar a obra conta com R$ 2,5 milhões, de recursos dos governos federal e estadual e de órgãos de fomento.
A estimativa é que sejam necessários R$ 20 milhões para toda a obra. Na UFSC, já há equipamentos que só aguardam por um espaço adequado para serem expostos ao público.
De acordo com o Ipuf, o projeto do parque está de acordo com o que era previsto para a área e deverá ser aprovado em breve.
Na Câmara dos Vereadores, há três projetos de lei que preveem a mudança de zoneamento da área do parque. O relator de um desses projetos, vereador Ricardo Vieira, destaca que a tendência é que os projetos sejam unificados, o que permitiria um trabalho mais integrado e aprovação mais rápida.
Projeto já anima os professores
Mesmo longe de estar pronto, o Parque Viva a Ciência da Via Expressa Sul anima professores. A assessora pedagógica da Diretoria de ensino fundamental de Florianópolis, Silvane Dalpiaz do Carmo, diz que os professores da rede municipal são incentivados a levar os estudantes para esses espaços que aplicam o conhecimento no dia a dia. Ela lamenta haver poucos parques semelhantes na região.
– Além dos de lazer, deveríamos ter mais parques que trouxessem ciência para o dia a dia – destaca Silvane.
Para ela, os parques são uma importante estratégia para ensinar os conceitos científicos por meio de brincadeiras já nos primeiros anos das crianças, quando a curiosidade está mais aguçada. Silvane ressalta que faltam também políticas públicas para incentivar o gosto pelas ciências. Mas pondera que, além dos recursos que façam os alunos gostarem mais de física, matemática e biologia, os educadores são responsáveis por tornar essas temáticas mais agradáveis aos alunos.
A professora de geografia da UFSC Rosemy Nascimento complementa que um parque que reúne várias áreas do conhecimento permite que a universidade aproxime-se da comunidade. Integrante do Laboratório de Cartografia Tátil e Escolar, a professora afirma que os brinquedos podem ensinar ciências de forma mais democrática para crianças com algum tipo de deficiência. Rosemy desenvolverá – com o apoio de alunos do departamento – uma maquete gigante do Estado.
– Quem não enxergar poderá ter noção do espaço com passos. Podemos construir depois uma maquete menor para mãos, para detalhar os espaços.
A maquete de 80 mil metros quadrados terá 53 partes.
UFSC tem um há três anos
Um embrião do Parque de Ciências da Via Expressa Sul foi implantado na UFSC já em 2008.
– A verba foi chegando, fomos fazendo os brinquedos e não tinha o local – explica a pró-reitora de pesquisa e extensão da UFSC, Débora Peres Menezes.
Por isso, os alunos foram se empenhando na construção dos brinquedos financiados pelos órgãos de fomento. Os equipamentos foram colocados em um espaço aberto da universidade. No parque, há brinquedos como balanços, que ensinam oscilação, e parabólicas, que aplicam a reflexão do som. Os passeios pelo espaço são monitorados por alunos de cursos de licenciatura da universidade, que explicam aos visitantes quais os conceitos aplicados pelos brinquedos.
– Com certeza, estes universitários vão estar bem preparados quando forem atuar nas escolas – destaca Débora.
Ela explica que esse primeiro parque foi uma boa experiência para comprovar a aceitação do público e avaliar a fragilidade dos equipamentos que serão implantados.
Segundo a professora Débora, o parque da UFSC recebe até 12 mil estudantes por ano e não há mais como marcar visitas para 2011. Informações sobre o parque e o planetário, que ensina princípios de astronomia, podem ser encontradas no site www.vivaciencia.ufsc.br.