Caiu o número de ingressantes no ensino superior brasileiro. Em relação a 2008, houve uma diminuição de 11,6% nas matrículas em 2009, ano do último Censo da Educação Superior. O estudo, feito pelo Observatório EAD, considera os cursos de graduação presenciais e a distância.
O levantamento, que elenca os números a partir do ano de 2002, mostra que a queda da matrícula nos cursos presenciais em 2009 já era anunciada nos anos anteriores, quando se verificava diminuição na taxa de crescimento. No caso dos cursos a distância, eles mostraram crescimento cada vez maior até 2008, mas, no último ano avaliado, 2009, acompanharam a tendência e caíram 28%.
Essa queda vai na contramão de uma das metas do Plano Nacional de Educação (PNE), em trâmite no Congresso, que prevê que 30% da população de 18 a 24 anos esteja na universidade. Hoje, dos 24 milhões de habitantes nessa faixa etária, apenas 3 milhões estão matriculados no ensino superior, 13% do total.
Para o pesquisador Naercio Menezes Filho, do Insper, a queda é resultado de uma série de fatores que funcionam em cadeia. Segundo ele, menos pessoas chegam à universidade porque há um menor contingente que sai do ensino médio e isso é resultado de menos egressos na educação fundamental.
“Esse porcentual vai mudar apenas se conseguirmos diminuir a repetência no fundamental, baixar a evasão no ensino médio e ampliar as opções de financiamento”, explica.
Menezes também acredita que a queda pode estar relacionada à opção por um curso técnico, já que há uma demanda crescente por profissões como eletricista, mecânico e carpinteiro.
Para Carlos Monteiro, da CM Consultoria, a queda reflete uma desilusão em relação à formação universitária. Para ele, depois do “boom” do início da década, muita gente percebeu que só o diploma não dá condições de ter uma ascensão rápida. “Houve um tempo em que preço baixo seduzia. Hoje, isso não acontece mais. A classe C percebeu que o mercado quer profissionais com competências e habilidades e isso não se resolve com um diploma.”
Uma desilusão que não apenas acomete os ingressantes, mas também reflete nos altos índices de evasão no decorrer da graduação.
Crise. Na visão do diretor executivo do Sindicato das Entidades de Estabelecimentos de Ensino Superior do Estado de São Paulo (Semesp), Rodrigo Capelato, a queda foi uma questão contingencial.
No caso da educação a distância, reflete a rigidez na regulação. “Depois de um crescimento desordenado, a fiscalização aumentou e ficou mais difícil credenciar novos polos”, afirma.
Em relação aos presenciais, Capelato acredita que o índice negativo em 2009 foi resultado da crise econômica mundial daquele ano. Uma tendência que, segundo projeção do Semesp, já foi revertida. “Estimamos que o número de ingressantes tenha aumentado 4% em 2010 e 4,5% em 2011.”
Mas esse crescimento, no entanto, não é suficiente para alcançar a meta.
Para ter 30% dos estudantes de 18 a 24 anos na universidade é preciso também diminuir a evasão. Só nas particulares de São Paulo, o índice é de 27%. O que já se tem garantido para a meta do governo é o espaço físico. Atualmente, quase 50% das vagas ficam ociosas. “Carteiras temos para garantir os 30%, faltam interessados”, diz Capelato.
Metodologia. Por meio da assessoria de comunicação, o Ministério da Educação disse que a diminuição de ingressantes é resultado de uma nova metodologia implementada no questionário do censo. Para impedir que as universidades inflassem seu número de alunos, o sistema mapeou os novos estudantes a partir dos seus CPFs. A queda, portanto, mostra os números reais. Por esse novo sistema, que impede estudantes fantasmas, o MEC afirma que o censo de 2010 vai mostrar que a taxa de evasão é menor do que se supunha.