Em razão do sistema de credenciamento imposto pela Capes aos programas de pós-graduação nas universidades brasileiras, venho levantar algumas questões à comunidade acadêmica.
O descredenciamento levará à uma redução do corpo de professores dos programas de pós-graduação, fazendo com que os professores credenciados se desdobrem nas tarefas de ministrar aulas, orientar alunos, participar de bancas de dissertação de mestrado e de tese de doutorado, e outras atividades mais. Para isso, eles deverão deixar de ministrar aulas na graduação e se dedicarem mais intensivamente à pós-graduação. Estará criada então uma divisão de professores: os professores credenciados, que ministram aulas somente na pós-graduação, e os descredenciados, que ministram aulas somente na graduação.
Na visão da Capes, quando propôs esse sistema de credenciamento, merecem permanecer no programa de pós-graduação, somente aqueles professores, de perfil mais científico, que publiquem artigos em revistas indexadas. Esses artigos publicados pelos pesquisadores/professores brasileiros, que quantitativamente, e qualitativamente, tem crescido ao longo dos últimos anos, demonstram a qualidade da pesquisa científica, feita principalmente nas universidades brasileiras. No entanto, a produção do conhecimento científico não leva automaticamente à sua aplicação para o bem da sociedade e ao desenvolvimento do país. Entre esses dois extremos, penso que se coloca o professor/pesquisador de perfil tecnológico, aquele que aplica os conhecimentos científicos gerados na universidade em benefício da sociedade e do desenvolvimento do país. Esse tipo de profissional, menos adepto à publicação de artigos em revistas indexadas, está sendo prejudicado por essa forma da Capes enquadrar os professores.
Já participei de cursos de mestrado profissionalizante, autorizados pela Capes, tanto como professor de disciplinas, como membro de banca de dissertação. A maioria dos temas de dissertação, se não todos, tinham um viés tecnológico, voltados para a resolução dos problemas cotidianos da empresa. Esses cursos podem não ter feito muito sucesso aos olhos da Capes, sejam pelos resultados quantitativos, sejam pelos qualitativos. Porém, para a empresa que financiava esses cursos, era isso que interessava à ela, e não um trabalho de cunho científico, para posterior publicação de artigos em revistas indexadas. A empresa brasileira não está muito acostumada à ler artigos, principalmente aqueles escritos em inglês. Ao contrário das empresas estrangeiras, que se aproveitam de resultados da pesquisa brasileira e os implementam nas suas cadeiras produtivas.
Há tempo se discutia na indústria, a valorização do engenheiro de perfil mais técnico, e menos gerencial. O equilíbrio entre esses dois perfis se deu quando da criação da carreira em Y. Será então que não é possível, conviver dentro de um programa de pós-graduação, dois professores/pesquisadores de perfis diferentes, um mais científico, e outro mais tecnológico?
José Carlos de C. Pereira
Professor do Depto. de Engenharia Mecânica – EMC