Com o encarecimento do crédito e o aumento das exigências para os financiamentos, o brasileiro começou o ano atolado no cheque especial. Pelos dados do Banco Central (BC), o endividamento nessa modalidade atingiu R$ 18,2 bilhões em janeiro — o maior saldo dos últimos 15 anos. Apenas no primeiro mês de 2011, esse montante cresceu 12,2% em comparação com dezembro do ano passado. Altamente comprometidos com as parcelas de 2010, os trabalhadores estouraram o orçamento por causa dos impostos locais e de mensalidades escolares mais caras. A saída foi recorrer ao cheque especial.
Das linhas disponíveis ao consumo, apenas as destinadas à compra de bens duráveis, como geladeiras, fogões e televisores, tiveram redução nas taxas de juros (-3,5%). Todas as outras subiram. Até o empréstimo com desconto em folha, o mais barato do mercado, encareceu 0,8%. “O enxugamento promovido pelo BC na economia, somado às exigências maiores para a tomada de crédito, levou a isso”, explicou Roque Pellizzaro, economista e presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). “O consumidor, então, foi em busca da facilidade do cheque especial.”
O próprio cheque especial sofreu aumento de juros, numa alta de 1,9 ponto percentual, atingindo 172,6% ao ano. O crédito pessoal também foi elevado. Esse tipo de financiamento teve aumento de 4,2 pontos percentuais, com a taxa chegando a 43,8% ao ano. A consequência direta desse encarecimento, segundo analistas, foi a queda das concessões de empréstimos. Para pessoas físicas, entre dezembro e janeiro, o tombo foi de 9,3%.
Da mesma forma, o recuo também atingiu as empresas, segmento no qual a tomada de recursos diminuiu 19,1%. “A queda para pessoas jurídicas é normal no início do ano. Para as famílias, também tem um pouco disso. Mas, no mês passado, essa tendência foi intensificada em função das medidas prudenciais”, explicou Túlio Maciel, chefe-adjunto do Departamento Econômico (Depec) do BC, em referência às iniciativas do governo para conter o crédito e a inflação.
Expectativas
Na visão de Nicola Tingas, economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), esse cenário também é reflexo do humor do consumidor. “Quando se tem uma inflação crescente pela frente e o governo anunciando subida de juros, mexe-se com as expectativas, leva-se um tomador de crédito a adiar sua decisão de consumo”, argumentou Tingas. “O modelo de metas de inflação busca esse efeito.”
O freio no mercado de crédito, segundo Maciel, veio exatamente como o esperado pela autoridade monetária. Mas, a partir de fevereiro, deve começar a perder força. “As medidas têm efeito mais significativo nos primeiros meses. Não esperamos, por exemplo, elevações nos juros tão intensas daqui para a frente”, disse Maciel. Essa tendência citada pelo chefe-adjunto do Depec ficou evidenciada nos dados parciais até 11 de fevereiro, nos quais a concessão diária para as famílias avançou 3,6%.
Confiança em alta
A confiança do consumidor brasileiro cresceu em fevereiro, refletindo o maior apetite para compra de bens duráveis nos próximos meses, mostrou pesquisa da Fundação Getulio Vargas (FGV). O índice de confiança subiu 0,8%, passando de 121,6 pontos em janeiro para 122,6 em fevereiro. É o melhor resultado em 33 meses. Entre os 2 mil entrevistados, a parcela de consumidores com intenção de adquirir mercadorias mais caras nos próximos seis meses subiu de 17,4% para 17,9%. No mesmo período, a fatia dos que pretendem reduzir essas compras caiu de 33% para 28%.