Três razões para a autonomia

I) O perfil do professorado mudou, havendo hoje uma falta de mobilização do professor para a luta em defesa de causas coletivas. Esta falta de mobilização é, todavia, apenas aparente. É verdade que este professor recusa-se a discussões prolongadas em assembléias e a participar da vida sindical que ele usualmente delega a um grupo de pessoas dispostas a isto. O professor, hoje, é mais pragmático em sua visão do papel do sindicato. O sindicato, para este professor, deve ater-se à defesa de suas causas trabalhistas (salários, carreira, condições de trabalho), à sua defesa nas questões administrativas internas à sua instituição, nas questões judiciais, nas questões de aposentadoria e nas relativas ao seu plano de saúde. E, neste sentido, mormente exige que a sua entidade de representação tenha também um caráter associativo, além do sindical: uma boa sede, um espaço para lazer e convivência social…etc. Todavia, terá o seu interesse pelo sindicato despertado à medida que este responder às suas necessidades em termos de respostas concretas a estas e estará na vida sindical quando sentir que sua opinião tem influência sobre o sindicato.

II) Os professores de instituições federais de ensino superior estão, em sua grande maioria, insatisfeitos com a sua AD-SSind ou SSind local e, por reflexo, com a Andes (que, muitas vezes, ele apenas ouviu falar que existe). Isto ocorre em função da falta de habilidade, mesmo competência e interesse das lideranças sindicais no encaminhamento das questões de interesse dos professores, sobretudo das acima mencionadas. O aparelhamento da Andes, fruto da excessiva verticalização de poder, hoje, inteiramente nas mãos da corrente Andes-AD, provocou o distanciamento da entidade em relação ao professor. A Andes vive hoje nas mãos de junções de meia dúzia de delegados que se perpetuam nas decisões dos congressos e Conad”s. Todavia, o fluxo de informações, advindos de movimentos nacionais, encontra severas barreiras nas diretorias locais das SSind e nas lideranças andesianas em cada AD-SSind ou SSind e o professor, quando não fica sem acesso à estas informações, recebe-as filtradas ou recondicionadas pelas lideranças sindicais locais.

III) Por outro lado, o modelo de organização sindical que está sendo proposto pelo Proifes, pressupõe um sindicato de abrangência nacional dentro de uma federação de sindicatos locais. O conceito de sindicato nacional não satisfaz, pois enfraquece o debate político nas entidades e o fortalecimento do movimento de base, que são os primeiros passos para a criação de sindicatos locais fortes, ativos e estreitamente enlaçados com as bases. O Proifes, inicialmente criado como um fórum com uma perspectiva de uma Federação estruturada sobre sindicatos locais, passou, a partir de setembro/2008, a priorizar um sindicato de âmbito nacional. Na época, a Andes estava com a sua carta sindical suspensa e a fundação do Proifes-SN pareceu oportuna às entidades e aos professores que, individualmente, formavam o Proifes-Fórum. De setembro de 2008 para cá, a idéia de um sindicato nacional como parte de uma federação fortaleceu-se em função do interesse de professores filiados individualmente ao Proifes que, achando-se sem condições de vencer o embate político em suas sedes andesianas, precisavam do abrigo de um sindicato nacional alternativo à Andes. Além disso, as lideranças nacionais do Proifes procuraram, nos encontros nacionais, consolidar uma maioria de delegados fortemente favoráveis ao Proifes-SN. O resultado é que, no âmbito do Proifes, com o advento do Proifes-SN, vive-se hoje um clima que mostra-se incerto e pouco favorável à consolidação de uma única federação nacional baseada sobre entidades locais autônomas.

Carlos W. Mussi (professor aposentado e presidente da Apufsc-Sindical), Paulo C. Philippi (professor do Departamento de Engenharia Mecânica), Rogério Portanova (Professor do Depto. de Direito e vice-presidente da Apufsc-Sindical)