Mesmo com um boletim de notas baixas, sem entender o ciclo da água ou saber que “mim” não conjuga verbo, alunos da 5ª série do ensino fundamental, que estão no sistema antigo de oito anos, vão passar de ano na rede estadual de ensino. A orientação é da Secretaria de Estado da Educação (SED).
Isso tem sido orientado para as escolas desde 2007, quando o Estado adotou o ensino fundamental de nove anos. À medida que o novo sistema foi sendo implantado, o formato de oito anos foi sendo extinto, e as crianças, passando de ano sem serem reprovadas.
Três anos depois do início da mudança e adaptação do novo sistema, a rede estadual está com os quatro primeiros anos do novo sistema pedagógico e deixou de ter os quatro primeiros anos do sistema antigo.
Em 2010, há 74.458 estudantes matriculados na 5ª série da rede estadual. E aí está a mudança mais sensível: caso parte deles seja reprovada, além de não haver série correspondente para eles cursarem com a extinção da 5a série, em 2011 começam as turmas de quinto ano do ensino fundamental de nove anos, não equivalente à antiga 5ª série. A mudança vai dos conteúdos aos professores. Um exemplo: no sistema antigo, havia um professor para cada disciplina, o que não ocorre no novo.
De acordo com o gerente de Ensino Fundamental da SED, Isaac Ferreira, a decisão de não reprovar os alunos foi tomada para evitar que eles fizessem dez anos de ensino fundamental, já que, se fossem retidos, cairiam no quinto ano do novo modelo, que dura nove anos.
Ele afirma que as escolas estão sendo orientadas a fazer com que todos todos os estudantes saiam da 5ª série prontos para a próxima etapa.
— O papel da escola é alcançar o êxito e não reprovar. Não consta em nenhum lugar que a reprovação é obrigatória.
Com a mudança de governo em 2011, Isaac não sabe como ficará a situação dos alunos que estiverem cursando a 6ª série. Mas garante que a SED vai trabalhar para que a orientação de não reprovar permaneça.
Professores não aceitam
Caberá à escola ter projetos para o aluno que tenha sido aprovado com dificuldade em alguma disciplina acompanhar a nova série. Um professor de 5a série, que preferiu não se identificar, está desmotivado:
— Já sei que não adianta eu me esforçar para que eles aprendam porque todos já estão aprovados mesmo. Mas, no meu diário, vai constar quais deles deveriam repetir o ano. A secretaria que assuma a responsabilidade.
Mãe de uma aluna de 5ª série, Kátia Regina Corrêa também discorda da medida. Uma das filhas é repetente e ela acredita que, se um aluno não está preparado, deve ser reprovado.
— Minhas duas filhas até hoje são péssimas em matemática. Eu prefiro que elas repitam de ano, mas aprendam o conteúdo.
“Crime contra alunos”
Para a presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Santa Catarina (Sinte), Alvete Bedin, o problema começou porque o modelo de nove anos foi adotado de maneira incorreta. Ela acredita que ele deveria ter sido implantado sem a extinção gradual do Ensino Fundamental de oito anos, como tem sido feito.
— O Estado tinha que manter as duas opções, como foi feito em outros estados e na rede municipal. Para economizar, fez isso (extinguir as séries). Manter os dois sistemas demandaria mais dinheiro. Como sempre, a educação paga pelos erros do Estado.
O desejo do Sinte é que, para 2011, a SED ofereça turmas de 5ª série e de quinto ano. De acordo com ela, o sindicato já tentou entrar na Justiça e vai continuar tentando, para que isso seja revisto.
— Não defendemos a reprovação, defendemos que os alunos não sejam empurrados.
O diretor do Sinte, Danilo Ledra, define a orientação da Secretaria como criminosa.
— É um crime contra esses alunos. Teremos estudantes chegando à oitava série sem terem conhecimento algum — ressalta.