Principal universidade do país, a USP decidiu revisar todos os seus cursos de graduação. Com isso, poderá haver mudanças nos currículos (para dar mais liberdade aos estudantes) e fechamento de carreiras de baixa demanda no vestibular.
A medida foi aprovada na semana passada pelo Conselho Universitário, órgão máximo da instituição, que reúne reitoria, diretores de unidades e representantes de todos os segmentos da escola.
A discussão começou ao se debater a viabilidade do aumento de vagas na graduação. “É importante que mesmo os cursos tradicionais verifiquem se é o caso de mudar, melhorar e até mesmo descontinuar certos cursos ou substituí-los”, disse ontem à Folha o reitor João Grandino Rodas, em cerimônia em Ribeirão Preto (SP).
“Não é possível que alguns cursos continuem hoje como eram na época de dom Pedro 1º”, afirmou o reitor Rodas, sem citar nenhuma carreira.
Como a USP não participa de avaliações federais, não é possível comparar seus cursos com os das demais instituições brasileiras.
No ranking da Times Higher Education, publicado na semana passada pela Folha, a instituição ficou fora da lista das 200 melhores universidades do mundo.
O documento prevê que as unidades devam avaliar mudanças nos projetos pedagógicos, para que sejam mais “modernos e multidisciplinares”. Também deve haver “revisão de carga horária, a fim de permitir maior flexibilidade nas atividades dos alunos de graduação”.
As diretrizes determinam que sejam analisados cursos com baixa relação candidato/vaga no exame Fuvest ou com “baixo impacto social”, “respeitando a especificidade de cada curso”.
No último vestibular, os cursos menos procurados foram música (1,37 candidato/ vaga) e ciência da informação (1,8), ambos em Ribeirão Preto. Na capital, foi licenciatura em geociências (2,3).
A norma não prevê prazo para o fim da revisão. O reitor disse ainda que só irá destinar verbas para infraestrutura às unidades que tenham um bom projeto e “sintonia com a universidade”.
Reitor quer cautela em sua expansão
A USP determinou que a expansão de vagas na graduação “não pode continuar no ritmo que vem acontecendo”, pois pode prejudicar o funcionamento da escola e provocar um “colapso”.
Para que haja crescimento, deve haver caráter inovador do curso e infraestrutura definida, entre outros. Em oito anos, o número de vagas na Fuvest aumentou 50%.
Segundo o reitor João Grandino Rodas, é preciso cautela na expansão.
“No passado, e, mal comparando, foi o que aconteceu com o ensino público secundário do Estado. Há algumas décadas, era primoroso, mas no momento em que se abriu para todos, o que parecia positivo se transformou em algo extremamente negativo.”
O reitor afirmou ainda que “sem uma revisão dos cursos que já existem e uma melhoria da infraestrutura disponível, a busca da excelência [no ensino] da USP não será possível”. A instituição oferece hoje 10.652 vagas nos vestibulares dos sete campi.
Segundo o diretor do Instituto de Matemática e Estatística, Flávio Coelho, a norma “certamente é restritiva, mas não proibitiva” em relação a expansão de vagas.
A ideia de restringir uma forte ampliação de vaga já havia sido apresentada no ano passado pelo reitor, logo após a vitória na eleição.
“Nossa graduação dobrou nos últimos oito anos. A prioridade número um é fazer uma adequação dos prédios e dos meios humanos para que a graduação funcione bem. Seria inaceitável aumentar o número de vagas quando o necessário é melhorar nossas condições atuais”, disse à Folha.
Posição parecida foi declarada pelo ex-reitor Adolpho José Melfi, quando deixou o cargo, em 2005.
“Uma universidade de pesquisa não pode ser muito maior do que a USP já é”, disse à época.