Considerada uma das escolas de nível superior mais tradicionais e rígidas do País, o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) completa 60 anos com planos de se expandir pela primeira vez. O objetivo do instituto é dobrar o número de vagas na graduação nos próximos cinco anos, com aumentos anuais de 20% – o que totalizaria 1,2 mil alunos.
“Sentíamos que era hora de ampliar. E a notícia foi recebida com muita sensibilidade pelo setor aeroespacial e pelos órgãos de pesquisa”, disse ao Estado o reitor do ITA, brigadeiro Reginaldo dos Santos. Segundo ele, o projeto chega num momento propício, com a expansão das universidades federais e a demanda por mais engenheiros no mercado.
O instituto não pretende criar novos cursos – atualmente, 586 alunos estão matriculados em seis graduações: Engenharia Aeronáutica, Engenharia Eletrônica, Engenharia Mecânica Aeronáutica, Engenharia Civil Aeronáutica, Engenharia de Computação e Engenharia Aeroespacial. “Mas há a intenção de alguns professores de implantar Engenharia Física e Engenharia de Materiais”, afirma o reitor. De acordo com ele, é possível também que se pense em uma pós-graduação na área de humanas e em matemática.
Localizado em São José dos Campos, a 90 quilômetros de São Paulo, o ITA foi criado por uma lei assinada pelo então presidente Getúlio Vargas como uma instituição sob jurisdição do Ministério da Defesa – e não do Ministério da Educação, como as universidades brasileiras. Por ter esse perfil militar e promover a ciência aeroespacial, sempre foi cercado de “mitos”, como a rigidez e a minoria feminina entre os alunos.
A ideia de ampliar o ITA existe desde 2005, mas só tomou forma em 2007, quando a Vale Soluções e Energia, empresa pertencente à Vale, aceitou financiar o projeto arquitetônico, que custou R$ 1 milhão. A previsão é de que as obras, que incluem três blocos de apartamentos e a expansão das instalações do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva da Aeronáutica e da divisão de ensino fundamental do ITA, tenham início no ano que vem. O atual alojamento seria destinado aos pós-graduandos.
O instituto estima que os custos totais sejam de R$ 130 milhões – R$ 100 milhões para as obras e mais R$ 30 milhões para mobiliário, laboratórios e pessoal. No momento, o projeto está em fase de apresentação formal ao Ministério da Defesa e deve ser levado também ao MEC e ao empresariado, para buscar parcerias.
Professores e alunos apoiam a ampliação. “É uma necessidade. Nosso laboratório não tem mais para onde crescer”, afirma o major Olympio Coutinho, do Laboratório de Guerra Eletrônica, onde são pesquisados programas de defesa do território. “O Brasil merece a expansão do ITA e o instituto precisa fazer a sua parte”, opina o mestrando Luis Filipe Nohra, de 34 anos.
Discussão e propostas. Entre as dificuldades que o ITA deve enfrentar para se expandir está a falta de professores, que já ocorre. Em concurso aberto neste ano, 21 das 26 vagas foram preenchidas. A expectativa é contar com os ex-alunos.
A ampliação de vagas, segundo o instituto, não deve modificar o processo seletivo nem interferir na qualidade dos ingressantes – todos os cursos do ITA avaliados pelo MEC receberam conceito máximo. “A diferença de nota entre os 300 primeiros aprovados é mínima”, afirma Marcelo Pelisson, coordenador da turma ITA do Curso Poliedro de São José dos Campos, especializado no vestibular do instituto. “Temos muitos alunos bons, que, quando não passam, é por muito pouco.”
A possibilidade de o ITA aderir ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que agora é utilizado no processo seletivo das instituições federais de ensino superior, é um dos temas mais polêmicos que rondam o instituto. Para este ano, a proposta está descartada por questões de prazo. “Ainda precisamos conversar com o MEC sobre os benefícios de usarmos o Enem. Temos de conhecer bem o exame”, explica o reitor Reginaldo dos Santos. Segundo ele, atribuir pesos diferentes aos conteúdos do exame seria uma ideia.
Utilizar a nota do Enem como política afirmativa também está em avaliação pelo ITA. “Talvez como bônus aos oriundos de escola pública que fizerem o exame. Queremos ter a garantia de que um bonificado pelo exame vá concluir o curso”, diz o reitor.
Há duas semanas, em visita a São José dos Campos, o ministro da Educação, Fernando Haddad, afirmou que o MEC está mantendo uma relação mais estreita com o ITA. “Estamos procurando uma aproximação para tentar, entre o público que faz o Enem, escolher os estudantes mais bem colocados para ingressar como primeira ou segunda etapa no processo seletivo do instituto”, disse.