Além de cumprir a função de ofertar mais vagas, o movimento de expansão do ensino superior público em direção ao interior do país – que soma 13 novas instituições federais desde 2005 – mostra que as duas universidades inauguradas este ano se preocuparam em construir projetos acadêmicos em linha com o desenvolvimento econômico das regiões onde estão instaladas.
Na Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) e na Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), grande parte das graduações está associada à matriz produtiva regional, enquanto alguns dos cursos mais tradicionais, como direito e pedagogia, foram adaptados à realidade e às demandas das comunidades que as orbitam. Com início das aulas marcado para agosto, a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), sediada em Foz do Iguaçu (PR), na fronteira com Paraguai e Argentina, ambiciona se tornar polo de conhecimento do continente.
Com uma proposta multicampi, a UFFS tem sede em Chapecó, oeste de Santa Catarina, e unidades em Laranjeiras do Sul e Realeza, no sudoeste do Paraná, e em Cerro Largo e Erechim, norte do Rio Grande do Sul. A mesorregião é composta por cerca de 300 cidades – a maioria delas com menos de 20 mil habitantes -, caracterizadas por forte atividade agropecuária, do pequeno produtor a grandes empreendimentos do agronegócio e indústrias de alimentos.
Com base nesse perfil, a maioria das graduações foi desenhada para contemplar o setor: agronomia, desenvolvimento rural, gestão agro-industrial, nutrição, veterinária e três modalidades de engenharia (de alimentos, ambiental e de energias renováveis). O foco acadêmico na economia regional estimulou filhos de trabalhadores e proprietários rurais, que somam atualmente quase 25% dos 2 mil matriculados da UFFS, dos quais 89% são egressos de escolas públicas.
“Muitos jovens de Chapecó e pequenas cidades da região saíam para cursar uma universidade, porque não tinham opção, e muitas vezes não voltavam, aí perdíamos gente para ancorar um trabalho técnico-científico na região. Isso deixa de acontecer com a interiorização da universidade”, avalia Geruza D”Avilla, diretora de assuntos estudantis da UFFS.
O vice-reitor, Jaime Giolo, explica que a criação da UFFS é demanda antiga de movimentos sociais, prefeituras e empresas da região. “O acesso ao ensino superior no interior nunca favoreceu a grande massa de pessoas, seja da agricultura familiar ou do operariado urbano, que não pode pagar mensalidades. Atualmente, 46% dos alunos da UFFS têm renda familiar de um a três salários mínimos, e 29%, de três a cinco mínimos”, diz Giolo.
Com sede em Santarém, o esforço da Ufopa é estimular o jovem a “falar a língua da floresta amazônica”. Em fase de estruturação, a instituição abriga hoje 1.345 alunos matriculados em nove cursos. A partir do ano que vem, a Ufopa estará dividida em cinco institutos, dos quais três oferecerão cursos associados às vocações regionais para 1.400 novos estudantes.
No Instituto de Biodiversidade e Florestas, o currículo incluirá engenharia florestal, farmácia, engenharia agronômica e zootecnia. O Instituto de Ciências e Tecnologia das Águas terá cadeiras como ciências pesqueiras, biologia aquática ou vegetal e engenharia de aquicultura. O Instituto de Engenharia e Geociência contará com cursos de engenharia física, com ênfase em energia ou automação, geologia e geofísica e engenharia da computação.
Aldo Queiróz, pró-reitor de planejamento da Ufopa, destaca o caráter interdisciplinar. “O primeiro semestre na Ufopa será um módulo fixo: os alunos terão aulas de ciências sociais, natureza e conhecimento, lógica, linguagem e comunicação, introdução à Amazônia. Em seguida eles passam para os institutos.”
Cursos tradicionais, como farmácia e direito, terão currículos adaptados. “A vocação da Ufopa é formar o jovem para resolver problemas da sociedade e principalmente da região amazônica. O curso de farmácia, por exemplo, terá ênfase nos nossos recursos naturais para a pesquisa de novos medicamentos, assim como o programa de direito, que demandará dos alunos soluções para problemas da nossa região”, explica Queiróz.