Os eventos recentes envolvendo estudantes e policiais suscita vários pontos para reflexão. O primeiro é que qualquer cidadão tem o direito de expressar sua opinião livremente. No entanto, convem observar que o exercício deste direito não pode violar o direito dos outros. Quando viola, faz-se necessário a intervenção do estado para garantir a normalidade. Temos aqui a seguinte dualidade: um policial que age de forma abusiva agredindo estudantes deve ser devidamente punido da mesma forma que também deve ser devidamente punido um manifestante que insiste em bloquear vias públicas, jogar bolas de gude em policiais, quebrar lixeiras ou se engajar em qualquer outro ato de vandalismo. Isto, contudo, não parece ser compartilhado por todos. Com efeito, em um artigo entitulado “Relato do ato do dia 2/6 – Em tempos de democracia militar”1, e publicado na página da Frente de Luta pelo Transporte Público – Florianópolis, vemos que alguns ao invés de condenar o vandalismo parecem relativizá-lo quando escrevem:
“Para aqueles que lutam pelo direito a cidade todos os conflitos com a polícia e danos ao patrimônio que a polícia atribui aos supostos infiltrados, é consequência de uma revolta espontânea e justa gerada pela covardia do prefeito Dário Berger que se esconde atrás polícia para não debater com a população os problemas do transporte coletivo privado …”1.
O segundo ponto que pretendo analisar se refere aos possíveis objetivos da manifestação em si e que passam ao longe de uma simples discussão sobre o transporte público, visto que carrega uma forte componente ideológica. Isto fica evidente acessando alguns artigos de supostas lideranças do movimento.Vejamos o artigo,
Florianópolis caminha pelos nebulosos labirintos do fascismo2, de autoria desconhecida. O autor, inconformado com a então pouca publicidade dada a causa da manifestação, critica várias instituições nestes termos:
“Estão todos juntos nessa empreitada em busca da manutenção da “ordem e do direito de ir e vir”. (i) A imprensa golpista que quer transformar o terminal numa passarelad+ (ii) os empresários do transporte e seus paresd+ (iii) o ministério “público”d+ (iv) a políciad+ (v) os “representantes do povo” que parasitam o Estadod+ (vi) a igreja que silencia e cala os fiéisd+ e infelizmente (vii) os sindicatos e trabalhadores. Estes últimos são incapazes de escrever uma moção de apoio, fazer uma paralização para fortalecer o movimento e muito menos uma greve de solidariedade”.2
Esta última linha é pertubadora pois lança dúvidas se a diretoria da APUFSC escreveu sua nota sobre os eventos na UDESC pressionada pelos organizadores da manifestação, o que indicaria uma total falta de independência da atual diretoria. Mas, voltando a análise do texto, o autor parece inconformado com a manutenção da “ordem” e do “direito de ir e vir”. Por que será? Não são estes exatamente os primeiros direitos que fascistas e comunistas negam aos cidadãos quando tomam o poder? Percebam ainda a crítica indiscriminada que o articulista faz a imprensa, aos políticos, a igreja, e aos sindicatos talvez pela percepção que os mesmos não estão unindo forças numa causa comum. Esta é uma velha tática subversiva, tentam atacar a imagem das instituições que não suportam a causa deles. Nisso, demonstram total falta de respeito à opinião contrária.
A parte final do artigo2 é muito esclarecedora e demonstra o real objetivo dos organizadores das manifestações. Vejamos este trecho final que se segue:
“Não obstante todos os obstáculos fascistas que se erguem e revelam o rosto mais cruel de nossa democracia totalitária, a manifestação e os/as manifestantes seguem bravamente por quatro semanas nas ruas de Florianópolis em busca de uma vida sem catracas. E não desistiremos! …Não podemos recuar… A absurda mobilização policial só revela o medo que toma conta da elite cretina dessa cidade. A organização popular põe a elite em constante estado de ameaça – a ameaça de que o povo tome o poder. Vale a pena repetir: Que as classes dominantes tremam diante de tal ameaça! Nada temos a perder a não ser nossos grilhões!”.2
Reparem nas expressões típicas dos militantes da agitação e subversão e o eterno apelo a luta de classes marxista com o objetivo bem declarado que é a tomada do poder pelo povo, entendido aqui como um golpe comunista. O ranço ideológico do autor é tão grande que ele denomina de fascista todos os que de uma forma ou outra não estejam alinhados a causa dele. É, também, de um cinismo extremo quando não tem pudor em se mostrar simpático a métodos violentos (existe a classe dominante a ser derrotada. Tremam!) como se, moralmente falando, o recurso à violência típico da condição de ser socialista/comunista/fascista os diferenciassem em algo. Obviamente, a manifestação dos estudantes no seu aspecto externo não chega a ter um caráter revolucionário, mesmo quando alguns dos organizadores veladamente imprimem a manifestação um caráter de cunho ideológico como ficou claro pelo texto analisado. Talvez, a intenção seja mesmo a de exercitar os “donos” do movimento estudantil na tarefa de agregar os estudantes para causas que não sejam festas. Revela-se, assim, a manipulação do movimento estudantil em torno de uma causa bem escolhida, afinal, anualmente os organizadores tem tido êxito nesta empreitada. De forma análoga vemos a ação de outros movimentos e organizações como MST, Conlutas, Foro de São Paulo etc. com suas lideranças manipulando causas justas e atuando no paradigma gramsciano hegemonia/consenso para a construção pacífica(?) do grande(?) socialismo3.
O terceiro e último ponto para análise se refere as possíveis causas que subordina todo o movimento estudantil a ideologia escancarada do agitador comunista que já deixou bem claro não hesita em violar o direito de ir e vir das pessoas, não respeita a opinião divergente e que abertamente tem por objetivo final a tomada do poder pelo povo que, como já mencionei, é uma clara alusão as já moribundas ditaduras comunistas. Em parte, isso se deve a uma histórica “tomada” da direção dos vários DCE”s por militantes de esquerda majoritariamente alinhados a ideologia marxista e suas degenerações. Isto é real e se afere da leitura de textos como estes que eu analisei onde, acreditando que estão falando para a claque habitual, os doutrinadores nem se dão ao trabalho de refinar seu discurso. Nisso, abusam de clichés o que torna fácil o trabalho de desmascarar suas reais intenções manipuladoras. E é aqui que se põe a questão natural: “Como os estudantes se deixaram então levar por esses manipuladores?”. Há algumas conjecturas, e.g. (i) um desinteresse natural por questões de natureza ideológica (o que os impede de perceberem a manipulação), (ii) desinformação acerca dos reais objetivos das lideranças do movimento estudantil, e (iii) a aceitação do ideal socialista como uma forma moralmente válida e justificada de se chegar a justiça social. Obviamente, a história dá fortes evidências que a conjectura (iii) é falsa4, o que, no entanto, não significa que os estudantes tenham conhecimento disso. Opções (i) e (ii) são intimamente correlatas e acredito que aí teremos a resposta, mas isso é algo que os estudantes devem refletir e por isso paro por aqui. De concreto, é hora de surgir um movimento estudantil independente, plural e que lute realmente por causas estudantis. Mesmo que ainda leve algum tempo para isso se consumar não se deve desanimar pois, “apesar dos manipuladores de agora, amanhã há de ser outro dia”.
[1] , [2] http://www.fltcfloripa.libertar.org/
[3] “A revolução Gramscista no Ocidente”d+ Sérgio de Avellar Coutinho
“A tomada do Poder: Gramsci e a Comunização do Brasil”d+ Anatoli Oliynik (www.ternuma.com.br/anatoli1001.htm)
[4] “O Livro Negro do Comunismo”, Stèphane Courtois e outrosd+
“From the Gulag to the Killing Fields: Personal Accounts of Political Violence and Repression in Communist States”, Paul Hollander