Este cisco tem a ver com a atividade docente. Me pergunto sempre por que temos a nossa atividade de pesquisa avaliada com bastante cuidado, a de extensão nem tanto e as aulas nada? Não passa pela minha cabeça nenhuma resposta aceitável, assim não vou mencionar as inaceitáveis. Parece que as aulas são um castigo, e assim quem não consegue justificar as horas de seu contrato com pesquisa ou extensão é penalizado dando aulas.
Mas e que aulas dão os que têm 20 horas de pesquisa e/ou extensão? Ou que aulas dão aqueles que têm 40 horas de ensino? Quem julga isso? Que incentivos damos àqueles que dão boas aulas? Algum prêmio por boas aulas? Alguma homenagem pelo menos? Não, a gente nem sabe quem dá boas aulas, bobeia a gente nem sabe se dá boas aulas.
Perto do ano 2000 eu era posdoc por aqui e dei aula numa disciplina, no final do semestre havia uma avaliação, um formulário simples com perguntas básicas, nenhuma maravilha, mas era uma avaliação. Quando comecei a dar aula como professor efetivo fui perguntar pelo tal formulário, pois estava ansioso para saber o que os alunos achavam de minhas aulas.
Acabou, “nós vamos estar fazendo um formulário perfeito” foi a resposta que ouvi de vários cantos. Bom caso para o gerundismo, “nós ainda estamos fazendo” o tal formulário. Por mais imperfeitas que sejam as perguntas, a simples existência da avaliação dos professores por parte dos estudantes coloca uma certa preocupação salutar em todos nós para colocarmos um pouco mais de empenho na tarefa tão gratificante e importante de dar aulas.
Há uns três anos faço uma avaliação no final das disciplinas que dou aula, só para uso pessoal, para saber o que os alunos acham da minha aula. Duas perguntas são as que eu mais me importo e que deveriam estar em qualquer formulário de avaliação:
1. Voltarias a fazer uma disciplina com esse professor?
2- Recomendarias esta disciplina a um colega?
A existência de tais avaliações poderia também evitar o constrangimento que fomos submetidos duas vezes no ano passado quando o ministério público fez com que cada professor da universidade assinasse uma declaração dizendo por onde andava no começo do semestre e depois nos cobrou diários de classe no final do outro semestre.
Isso provavelmente não teria acontecido se tivéssemos uma avaliação interna. Se a gente não se controla, outros nos controlam. Enquanto não fazemos nada a respeito damos espaço aos “controladores” para que entrem e nos cobrem.
Na falta de um sistema de avaliação institucional, recomendo a todos que conheçam e recomendem a seus alunos o www.professorboiada.com um sistema com estatística de aprovação e reprovação com todos os professores da UFSC, incluindo comentários dos alunos.
Há certa preocupação entre professores de que um sistema de avaliação por parte dos alunos pode fazer com que professores exigentes sejam penalizados diante dos professores menos exigentes. Acho que isso é um mito, a maioria dos alunos é séria e reage profissionalmente quando tratada com respeito e seriedade.