É pequena a proporção dos leitores do Boletim que participam também da lista de discussões da Apufsc na Internet. Por isso, a maioria não pode acompanhar o frutífero debate sobre transporte público travado naquela lista no começo deste ano. Escreveu-se sobre muitos temas: subsídios à operação, o papel central da política no processo de planejamento, a propriedade estatal dos transportes (como, por exemplo, nos EUA), a irracionalidade do sistema metropolitano da Grande Florianópolis e… a participação do nosso Sindicato na luta por uma mudança profunda no sistema!
Não foi surpresa ler várias mensagens defendendo, de uma forma ou de outra, que o Sindicato deve apoiar exclusivamente as questões relativas ao trabalho do professor. Apoiar as lutas pela melhoria dos transportes na região metropolitana, inclusive com recursos materiais, seria para alguns levar a Apufsc de volta ao caminho de um “aparelhamento” supostamente ocorrido nos tempos da seção sindical do Andes. Enfim, seria retomar o suposto processo de alienação dos professores em relação ao sindicato que deveria defender-lhes nas questões do trabalho. Também não surpreendeu que alguns membros da atual diretoria se alinhassem com essa tese.
Ora, por uma dessas reviravoltas da História, eis que recebo através do setor de imprensa da Apufsc a solicitação da diretoria para contribuir, justamente, com um texto que trouxesse uma análise crítica neste momento de febre aguda do sistema de transportes enfermo que dispomos na Grande Florianópolis. Claro que o melhor que posso fazer é não escrever sobre a tarifa. Nesta hora, é preciso destacar, apenas, o erro crasso da tese do sindicato circunscrito aos muros da Universidade!
É evidente que a UFSC, como instituição, não terá coragem para se manifestar a respeito dessa crise. Falta-lhe espírito de liderançad+ sua administração pensa ser o arauto da neutralidade do conhecimento, quase do tipo que se manifesta nas melhores universidades da Europa e dos EUA. Tal postura seria cômica se não fosse trágica no contexto social brasileiro. De todo modo, nós, professores, não podemos ficar alheios ao caos à nossa volta, esperando que venham os repórteres perscrutar opiniões individuais que virão a ser carimbadas com o selo “Professor da UFSC” nos diários da mídia. É preciso mobilizar o sindicato, juntar-lhe às demais organizações que estão em luta nas ruas pela mudança radical do modelo absurdo de mobilidade que se cristalizou ao longo dos anos na Grande Florianópolis. Braços e mentes não faltam. E não podemos deixar faltar liderança, pois dessa falta já estamos prenhes como instituição acadêmica instalada no alto da torre de marfim.
Quanto às análises do problema em si, indico a leitura das várias mensagens a que me referia no início. Elas podem ser encontradas no endereço www.das.ufsc.br/~werner/debate_Transportes. A julgar pelo testemunho dos que participaram do debate, há conteúdo bastante para iniciar uma linha de ação da Apufsc nesta questão. Um GT de Mobilidade Urbana poderia, inclusive, ser criado para coordenar as ações e ajudar na necessária transformação social dos transportes na Grande Florianópolis.