Era o dia 19 de maio de 2009, quando no mini-auditório do Centro de Filosofia e Ciências Humanas, consolidava-se o projeto do livro em comemoração aos 50 anos da Universidade Federal de Santa Catarina. Naquela reunião, foram definidos os primeiros detalhes a respeito da obra em questão. Detalhes que até mesmo hoje passam despercebidos por entre os corredores da Instituição e por todos que dão vida à Universidade.
Nesta reunião, onde estavam presentes diretores de Centro e o reitor, foi aventada a possibilidade de contratar uma empresa terceirizada para a confecção da obra em discussão. Porém, a professora e diretora do Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Roselane Neckel, não apenas apresentou perspectivas diferenciadas para a redação do livro, como sugeriu que fosse consultado o Departamento de História da Universidade sobre a possibilidade de realizar este trabalho. A proposta foi aceita com unanimidade, rejeitando de imediato a contratação da sugerida empresa terceirizada. Seria, de fato, “um acinte à nossa inteligência e um desrespeito à nossa própria instituição”, possuindo um departamento competente para tal tarefa, contratar um serviço terceirizado para fazer o referido trabalho.
Sendo a proposta – de a história da UFSC ser trabalhada por profissionais do Departamento de História – aceita pela reitoria, a professora Roselane entrou em contato com o departamento, no dia 17 de junho de 2009, comunicando a todos os professores os objetivos do projeto.
A idéia era fugir da história laudatória que, infelizmente, insiste em figurar em obras deste porte. História esta que destaca demasiadamente os grandes nomes, seus grandes feitos, e se esquece da “história vista de baixo”. Esquece dos braços que, na penumbra de seu anonimato, foram peças fundamentais para que se erigisse a instituição, tema deste livro. História que se preocupa com a percepção daqueles que, do alto de seus cargos e títulos, professam seus feitos em tom heróico, enquanto a “história vista de baixo” é relegada a segundo plano ou esquecida.
Era necessário que a história da Universidade Federal de Santa Catarina não fosse redigida mediante perspectivas teórico-metodológicas datadas do século XIX. Mais do que uma série de crônicas, a história da UFSC necessita de conexões com o contexto político e social das diferentes décadas. A proposta busca focar aspectos que por muitos seriam ignorados, como as políticas de acesso nas diferentes décadas, a UFSC e o golpe militar, mudanças pedagógicas, reforma universitária, admissão de professores, relações de gênero tanto no corpo docente, técnico-administrativo, quanto entre os acadêmicos, criação dos cursos de pós-graduação, redemocratização, entre outros. Por si só, estes pontos contrariam todas as expectativas de um “relato laudatório e hagiográfico”.
Eis que os professores do departamento se manifestaram sobre o assunto. Porém, os professores não se viram em condições de contribuir com o projeto, colocando em risco a idéia de uma história institucional diferenciada. Entre desejos de sorte, lamentações por falta de tempo disponível para atuação e má-compreensão da proposta apresentada – que infelizmente perduram – poucas foram as respostas animadoras.
Dois dias depois deste primeiro contato, mais precisamente no dia 19 de junho de 2009, houve a reunião da Comissão Executiva dos 50 anos da UFSC. Foi informada a impossibilidade dos professores do Departamento de História participarem do projeto e a professora Roselane, Diretora do CFH e professora do departamento, coloca então seu nome à disposição para coordenação das atividades de pesquisa para elaboração do livro. A partir deste momento definem-se alguns dos principais aspectos do livro e oficializa-se que cada centro teria seu espaço na obra, para sua própria história. Desde o início, sua concepção era marcada pela idéia de que a UFSC não foi construída apenas pela ação decisiva de poucos indivíduos, mas também pelo trabalho de sucessivas gerações de professores, técnico-administrativos e estudantes.
Em alguns meses, onze estudantes do curso de graduação em História foram selecionados para o projeto, sendo encaminhados para os diferentes centros, começando então um rigoroso trabalho de coleta de fontes tanto na Biblioteca Universitária quanto nas Bibliotecas Setoriais. Um grupo responsável pela história geral da Universidade trabalha com os documentos arquivados, enquanto os bolsistas recém contratados dirigem-se aos centros para os quais foram designados, em reunião, com a finalidade de buscar fontes e nomes que poderiam ser entrevistados. Novamente o alerta: não apenas grandes nomes, mas também pessoas que, independente de não terem seus nomes estampados em placas e memoriais, contribuíram com seu esforço para a existência da Universidade, e que agora contribuiriam com seus relatos.
Chegamos então a 2010, ano de comemoração do aniversário de 50 anos da Instituição. O trabalho não cessoud+ ao contrário, intensifica-se em um estágio decisivo. O lançamento do livro se aproxima e, a cada dia transcorrido, o foco do labor se mantém nos ideais iniciais: fuga de uma história datada e focada em exaltação de indivíduosd+ inserção do contexto social e políticod+ dar voz àqueles que têm o que dizer, com ausência de pré-julgamentos e sem posicionamentos políticos para exaltar ou censurar quaisquer informações. Mais do que isso, fornecer aos demais historiadores, não apenas desta instituição, mas de quaisquer outras, a possibilidade de ter acesso às fontes, com indexação e fornecimento das mesmas de forma digitalizada no site da UFSC. E, a partir desta iniciativa, as muitas histórias da Universidade podem vir a surgir.
Considerando a trajetória exposta, afirmamos sem ressalvas que se trata de um projeto cuja tutela está nas mãos de pessoas que são apaixonadas pelo ofício de historiador. Pessoas que fazem seu trabalho sem amarras de conveniência e que, não obstante, não temem as críticas advindas do fruto de seu esforço, desde que venham com o intuito de contribuir com a constante melhoria do trabalho e não sejam apenas falácias calcadas em achismos ou autopromoção baseada na polemização improdutiva autofágica, olvidando-se da ética em prol do sensacionalismo.
O trabalho continuará, por todos aqueles que um dia contribuíram para que a Universidade Federal de Santa Catarina se tornasse referência nacional e por todos aqueles que lutam para que esta cresça cada vez mais.