A greve na UnB e seus reflexos na UFSC

A greve dos professores da UNB reabriu as possibilidades de recuperação da URP para os professores da UFSC. Não se trata apenas de uma ironia da história o fato de aquele sindicato ser filiado ao Andes-SN e de que Armando Lisboa, presidente da Apufsc, tenha sido convidado pelos andesianos para participar de uma atividade comanda por eles em Brasília. Durante quase dois anos, o Andes, Sindicato Nacional, foi execrado pela atual diretoria da Apufsc e sua base de apoio local, mas foi precisamente um sindicato vinculado ao Andes que conquistou nesta semana, por decisão direta do presidente Lula, a URP novamente no salário até que o Supremo Tribunal Federal se manifeste sobre o assunto. Neste processo, durante meses, o Sindicato Nacional foi associado a tudo que poderia ser considerado pelo senso comum como nefasto. Fruto desta campanha, a Apufsc se desvinculou do Andes para integrar o Proifes, um sindicato com longo serviço prestado ao peleguismo sindical.

A greve de Brasília – deflagrada e conduzida por um sindicato andesiano –, cuja vitória momentânea deve ser saudada e reconhecida inclusive por seus adversários, revelou claramente os limites da estratégia adotada aqui na UFSC pela diretoria da Apufsc. Mais precisamente: revelou que não tínhamos estratégia alguma para recuperar a URP e menos ainda para estendê-la aos desurpados.

Ao contrário do que tem dito Armando Lisboa nas listas de discussão, a “ação” da atual diretoria da Apufsc limitou-se ao terreno jurídico. No entanto, a história de nossas lutas revela que a ação jurídica solitária, sem atuação política, permitirá apenas que os mais indignados clamem por justiça sem efeito prático algum. O sindicato da UnB – andesiano – atuou também nos tribunais, mas jamais esqueceu o fundamental: os tribunais precisam ouvir o clamor das ruas! Mesmo “isolados”, foram à luta e deflagraram uma greve que em seus inícios foi olimpicamente ignorada por nossa diretoria. Neste ano, quando o movimento grevista se intensificou, fui o primeiro a divulgar em lista eletrônica a greve andesiana em favor da URP e tampouco algo apareceu no Portal ou em nosso Boletim. Recordo que, até então, ninguém havia enviado alguma notícia sobre o movimento grevista que, realizado por outros, nos afeta diretamente. A ausência inicial de informação era uma clara conveniência para o discurso da atual diretoria da Apufsc. A combinação da ação nos tribunais com a luta social revelou o caminho da conquista momentânea. Por que jamais se pensou nesta direção aqui?

A segunda lição da greve da UnB é que, ao contrário daqui, onde a linha de atuação jurídica foi exclusiva no sentido de recuperar a URP para os que a perderam, em Brasília o sindicato andesiano lutou desde o princípio para impedir perdas aos que já a possuíam, aos novos contratados e, inclusive, aos funcionários técnico-administrativos. Aqui na UFSC jamais se considerou a hipótese de que deveríamos lutar para estendê-la aos desurpados que, como é fácil perceber, crescem a cada dia em nossa universidade, quase na mesma velocidade em que os urpados aumentam as filas dos aposentados. Um erro elementar que terminou por dividir os professores da UFSC e que alimentou em muitos – com toda razão, diga-se – a ideia de que o sindicato era indiferente a um número considerável de professores que fazem as mesmas coisas, mas possuem salários diferentes. Não vacilo em dizer que muitos desurpados pensavam que, caso a URP fosse novamente conquistada, o sindicato daria como concluída a tarefa e nós seriamos abandonados pelo sindicato, sem dúvida alguma.

A terceira lição da greve da UnB – dirigida por um sindicato andesiano – é que eles pressionaram o reitor da universidade desde o princípio. Jamais consideraram que o reitor seria um aliado com conversas de gabinete e tapinhas nas costas. Atuaram juridicamente, decretaram a greve e, com um conjunto de ações anteriores, colocaram o reitor na linha de apoio ao movimento. Mais precisamente: enquadram o reitor! É mais que uma ingenuidade acreditar que o reitor da UFSC atuará efetivamente em defesa da URP. Caso estivesse realmente interessado, já teria assumido papel protagônico no processo. É muito grave supor, como a diretoria faz (ou ao menos Armando Lisboa em artigos publicados aqui anteriormente), que o reitor da UFSC quer a reposição da URP enquanto a Procuradoria nega esta possibilidade. Como se fosse aceitável a ideia de que nosso reitor é refém da Procuradoria! Tal concepção implica em sinalizar que o sindicato apoia uma parte da administração enquanto se opõem às outras forças que participam da atual gestão. Este caminho não somente não terá efeito prático algum para recuperar a URP como também comprometerá a independência de nosso sindicato. A propósito: até agora não temos um informe sério da diretoria sobre a reunião com reitord+ não sabemos a posição do reitor diante das novas possibilidades abertas pela greve da UnB. Solicitei na lista de discussão um informe – que obviamente é de interesse de todos – e até agora tive como resposta o silêncio da diretoria.

Finalmente, a linha de atuação no caso da URP está completamente equivocada porque a linha de atuação sindical prioriza o confronto com o Andes-SN, como se pudéssemos melhorar nosso sindicato na exata medida em que a atual diretoria exorciza o sindicado nacional. O sindicato da UnB – andesiano – não esta pregando o isolamento social dos professores e nem por isso deixa de atuar naquilo que é sua função, ou seja, a defesa dos salários e de nossas conquistas. O programa inicial da diretoria da Apufsc – “devolver o sindicato aos professores” – não pode se transformar num caminho de alienação política, indiferença diante dos grandes problemas sociais do país, isolamento da política da universidade ou campo de acomodação com a reitoria. A greve da UnB – cujo resultado ainda não podemos ver claramente – já ensinou o quanto a linha dominante aqui na Apufsc está errada. É necessário, pois, ouvir os professores e começar uma rápida e forte mudança de rumo.