A semana de trabalho da professora da rede estadual de São Paulo Carolina Maia começa na noite de domingo, quando planeja o conteúdo dos próximos dias para seus 25 alunos da 2.ª série do ensino fundamental. Apesar de só dar aulas à tarde, às terças e às quartas-feiras ela chega à escola às 9h30 para reuniões pedagógicas. É quando são discutidas orientações da diretoria, atividades e como tratar crianças com dificuldade de aprendizado.
Para Carolina, essa é uma grande preocupação. “Uma escola particular tem mais recursos para lidar com problemas”, diz. “Lá, quem não aprende logo é encaminhado para psicopedagogos, psicólogos.” A escola onde trabalha tenta driblar a falta de recursos com convênios com faculdades.
Formada em Pedagogia, ela foi aprovada no concurso público para dar aulas nas primeiras séries do fundamental há cinco anos. Desde então, passou por quatro escolas antes conseguir vaga perto de onde mora. Quando entrou na Guilherme Kuhlmann, em 2009, adorou. “A equipe é interessada.”
Carolina sabe que a vida de uma boa professora exige dedicação e é apertada financeiramente. “Ninguém é professor por dinheiro.” Aos 28 anos, ela não parou de estudar e mora com os pais. E, para pagar a pós-graduação, cortou as diversões preferidas: cinema e teatro.
Em classe, Carolina busca respeitar o ritmo de cada um de seus alunos. Chega a dar a mesma atividade com quatro níveis de dificuldade. Fazer isso, no entanto, exige várias horas de preparação de aula. Apesar de a média diária na escola ser de 6 horas, estima que trabalhe, de fato, de 10 a 12 horas.
Mas o esforço é recompensado quando faz uma roda de leitura e vê a fluência dos alunos. Ou quando, ao encontrar as crianças no pátio, quase não consegue andar de tantos abraços.
Ritmo puxado. Às 15 horas de sexta-feira, a semana de trabalho da professora Kátia Regina Aires, de 44 anos, acaba. Ela passou 48 horas só em sala de aula ? nem consegue fazer as contas de quantas horas levou para preparar aulas e estudar. “Em geral, estudo de madrugada.”
Kátia dá aulas de inglês e português para 19 turmas, em três escolas diferentes, duas estaduais e uma particular. Ao todo, ela tem cerca de 900 alunos, com idades entre 3 e 60 anos. Às sextas, as aulas começam às 7 horas e ela só tem 20 minutos para almoçar. Em outros dias, sai da escolas às 23h30.
As diferenças de turmas e horários exigem um grande jogo de cintura. Kátia gosta de mesclar uma boa dose de firmeza ? “dizem por aí que sou sargentona”, diz ? com muito bom humor. “Você precisa sorrir sempre para conseguir dar boa aula, ainda mais depois de 18 anos.”
Kátia entrou na rede estadual há 18 anos, mas continua como temporária. Ela, porém, não parou de se atualizar e, com tanto estudo, tirou nota 10 na prova de promoção por mérito da Secretaria de Educação. Está, portanto, entre os 20% dos professores que receberão aumento. Atualmente, se esforça para pagar as parcelas de seu carro e mora com os pais.
“Não ter conseguido minha independência total é frustrante.” Mas o esforço é recompensado quando um ex-aluno entra na faculdade e visita a escola para agradecer pelo que aprendeu. “A maioria dos alunos tem baixa estima própria, estão sempre dizendo “não sei”, “não consigo””. A vitória deles, é uma vitória para Kátia.
Sonhos. Ser professora era o sonho de infância de Carolina. “Sempre brincava de ensinar.” Agora, ela tem outros projetos. Pessoalmente, quer financiar um apartamento a partir de 2011. Profissionalmente, atuar na gestão educacional. “Quero ser formadora e, quem sabe, chegar à Secretaria da Educação.” Já Kátia queria ser médica. Optou pelo curso de Tradutor e Intérprete por não poder pagar por uma faculdade de Medicina. “Mas vi de cara que dar aulas era minha paixão.” Hoje, quer ter ainda mais alunos. Sonha em fazer mestrado e doutorado para, então, dar aulas em uma faculdade.