Os ministros que ao longo desta semana vão deixar o governo para se candidatar nas eleições de outubro próximo estão em campanha faz tempo.A prova está nas agendas, que revelam uma série de frenéticas viagens para as bases eleitorais, e no dinheiro liberado nos últimos 13 meses.
Juntos, sete dos 11 ministros que vão se desincompatibilizar dos cargos aumentaram em 110,6% a liberação de dinheiro dos convênios para os seus Estados de origem nos últimos 13 meses. O ministro Patrus Ananias, do Desenvolvimento Social, chegou a visitar em março 14 cidades em Minas Gerais.
Entre março de 2009 e março de 2010, a liberação de recursos para os Estados dos respectivos ministros, concentrada nos ministérios da Integração Nacional, Agricultura, Transportes, Desenvolvimento Social, Meio Ambiente e Minas e Energia , foi de R$282,24 milhões. Essa quantia representa mais que o dobro do que havia sido liberado pelo mesmo grupo de ministérios nos 13 meses anteriores Na época, as pretensões políticas desses ministros ainda estavam longe de se definir. Na ocasião, foram liberados R$ 134 milhões, incluindo nessa soma o Ministério das Comunicações, do ministro e candidato ao governo de Minas, Hélio Costa, que soltou R$ 1,2 milhão para um centro de teleatendimento em Belo Horizonte em dezembro de 2008. De lá para cá, Costa não pagou mais nada recentemente. O levantamento, feito pelo Estado no Portal Transparência, do governo federal, levou em conta apenas recursos efetivamente liberados, ou seja, dinheiro entregue, sem contabilizar verbas empenhadas. Também só contabilizou pagamentos deconvênios, que influem diretamente na política regional e têm impacto eleitoral porque os aliados dos ministros fazem propaganda ostensiva sobre os “padrinhos” das liberações. Não significa que os ministros só liberaram verbas para seus Estados. Houve dinheiro para todos os outros. A constatação, no entanto, é de que, na parte que serelaciona com seus colégios eleitorais, eles deram uma boa incrementada na liberação dos recursos. Geddel campeão. Na prática, a conta foi puxada para cima por quatro ministérios específicos: Integração Nacional, Agricultura, Transportes e Desenvolvimento Social. Outras três pastas – Meio Ambiente, Minas e Energia e Comunicações – tiveram liberações pouco significativas ou zeradas. É o caso da ministra-chefeda Casa Civil, Dilma Rousseff, que sairá candidata do PT à Presidência. A Casa Civil comanda os outros ministérios, mas não trata de verbas específicas. O mesmo ocorre com o Banco Central, cujo titular, Henrique Meirelles, pode sair candidato ao Senado ou à vice-presidência. Integração Nacional, comandada por Geddel Vieira Lima (PMDB), candidato ao governo da Bahia, foi a campeã absoluta no pagamento de convênios. Nos últimos 12 meses, a pasta entregou R$ 142,4 milhões em convênios referentes à Bahia. Nos 12 meses anteriores o valor tinha sido R$ 53 milhões, menos da metade deste ano eleitoral. No Ministério da Agricultura, onde Reinhold Stephanes (PMDB) sai para tentar um novo mandato como deputado federal, o Paraná recebeu R$ 72,7 milhões em pagamentos de convênios,contra R$ 55,7 milhões do período anterior. No Desenvolvimento Social, o ministro Patrus Ananias (PT) ainda não sabe se concorrerá ounão ao governo mineiro. Por conta de uma negociação política envolvendo uma possível aliança com o ministro Hélio Costa, do PMDB, Patrus poderá até permanecer no ministério. Enquanto isso, sua pasta vitamina os convênios para o Estado: nos últimos 13 meses, a soma foi de R$ 39,9milhões, contra R$ 13 milhões no ano anterior. Nos Transportes,Alfredo Nascimento (PR) sai para concorrer ao governo do Amazonas.Liberou agora R$ 26,6 milhões, superando os R$ 9,1 milhões do período anterior. Muitas viagens. Além dos pagamentos, os ministros candidatos aceleraram também o cumprimento de agendas nos seus Estados, participando de inaugurações e eventos. Vários deles aproveitaram também para colar na popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, candidata do PT ao Palácio do Planalto, integrando comitivas presidenciais que passaram pelos seus locais de origem. Se ficaram de fora do grupo que ampliou a liberação de recursos, outros ministros candidatos se juntaram aos companheiros em termos de regionalização de suas agendas, como foi o caso de Carlos Minc (Meio Ambiente), que concorre a uma vaga de deputado estadual no Rio de Janeiro. Outros exemplos são José Pimentel (Previdência), que será candidato ao Senado no Ceará, e Hélio Costa (Comunicações), que disputará o governo de Minas. Nos últimos trinta dias, com a proximidade da desincompatibilização, eles e mais Geddel, Patrus, Stephanes e Nascimento, aproveitaram para mostrar sistematicamente a cara nos seus Estados e lembrar ao eleitor que serão candidatos. Ordem de serviço. O ministro Geddel Vieira Lima aproveitou seu blog para narrar a passagem pelas cidades do interior baiano. Embora não fossem compromissos oficiais do Ministério da Integração Nacional, o ministro chegou a divulgar no blog as fotos de assinaturas de ordem de serviço para as cidades que seriam beneficiadas com recursos. Também narrou nas suas postagens esse tipo de gesto. “Neste domingo prossegui minha jornada pelo interior da Bahia. Estive em Tanque Novo e Palmas de Monte Alto, assinando ordens de serviço de esgotamento sanitário para as duas cidades, o que levará saúde e qualidade de vida a seus habitantes. Hoje já são 44 municípios baianos beneficiados, através do Ministério da Integração Nacional, com estas obras fundamentais para a saúde pública e o desenvolvimento”, escreveu no blog no dia 20.