O professor Héctor Leis, no artigo Mea Culpa publicado no Boletim Apufsc-Sindical de 8/3/2010, usa o artifício de transformar uma crítica teórica e política em ofensa pessoal. Além disso, não responde aos meus questionamentos e tenta justificar o injustificável. Sua afirmação de que eu tenha utilizado o argumento “ad hominem” é falacioso, pois em nenhum momento fiz ataques pessoais a este senhor. Para tanto, basta reler o que escrevi. Faça-o, por favor.
Qual foi o interesse que levou o professor Héctor em não prosseguir com o debate de ideias, tão importante nestes tempos de crise sistêmica? Na realidade, ele se apresenta como um crítico das ideologias dizendo não haver mais esquerda e direitad+ como um pensador independente por acreditar não estar ligado a nenhuma corrente. No entanto, mesmo com uma experiência de muitos anos de docência na UFSC, aceitou participar de um curso em Belo Horizonte, promovido pela Embaixada dos Estados Unidos, com viagem e diárias pagas por aquela entidade, que sabe muito bem distinguir o que é ser de esquerda e ser de direita. Vai mais além, classifica os países em eixo do bem e eixo do mal. Portanto, ao realizar o debate sobre ideologia, não poderia deixar de mencionar o referido encontro frequentado pelo professor Héctor. Eu desaconselharia um estudante desavisado da primeira fase de história a fazer qualquer curso, em qualquer embaixada, sobre qualquer assunto, tendo em vista que estas representações diplomáticas defenderão sempre a política oficial de seus governos. Jamais se terá ali a “eficiência da dialética intelectual”, que representa ser tão cara ao meu interlocutor. O professor Héctor, porém, tão cuidadoso em registrar sua vida acadêmica em seu currículo Lattes, parece ter esquecido de mencionar a sua participação no referido evento da embaixada estadunidense.
A estratégia utilizada pelas embaixadas em angariar adeptos para a defesa dos interesses de seus países não é de hoje. A ditadura fascista portuguesa patrocinava viagens a Lisboa de jornalistas, intelectuais e empresários que se predispusessem a defender a manutenção de suas colônias africanasd+ o Estado expansionista israelense leva, hoje, professores e formadores de opinião que “se permitem escutar” as razões dos ataques armados a Gaza, à Cisjordânia e ao Líbano. Raquel de Queirós, em 1952, chamava a atenção dos intelectuais para essas “viagens de estudos entremeadas de cortesias oficiais”, já que elas se destinam a legitimar a autoridade que recepciona. E perguntava: “Numa terra onde só se pode ser contra ou a favor, como há de ele se manter neutro, se por toda parte se mostra de mãos dadas com uma das parcialidades – e logo a pior, a que está de cima?”1.
Mantive com o professor Héctor um debate de ideias sabendo que ele bateria em retirada, pois seu suposto espírito independente desmoronou quando mostrei que frequenta cursos patrocinados pela Embaixada dos Estados Unidos, com o agravante de que o presidente do país era George W. Bush. E nada melhor do que abandonar o debate chamando o interlocutor adversário de “macarthista”. Na realidade, quero lembrar ao professor que macarthismo, historicamente, foi uma acusação do Estado contra o cidadão crítico, não cabendo tal categoria no meu caso. É preciso buscar outra classificação.
Cícero, o velho tribuno romano, diria: “Quousque tandem abutere, Héctor, patientia nostra?”
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Notas
1 QUEIRÓS, Raquel. Por terras de além-mar. O Cruzeiro, Rio de Janeiro, p. 130, 5 abr. 1952.