Banco estatal comanda alta dos juros

Os bancos públicos comandaram a alta das taxas de juros cobradas das pessoas físicas em janeiro. Dados do Banco Central mostram que o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e o Banco do Nordeste (BNB) passaram a cobrar mais dos clientes que recorreram aos limites do cheque especial. Essa foi a operação de crédito que mais encareceu no primeiro mês do ano e que, por estar ganhando maior representatividade no mercado, puxou os juros médios dos consumidores para cima, de 42,7%, em dezembro, para 43% ao ano.

Na média, em janeiro, a taxa do cheque especial da Caixa passou de 6,14% para 6,19% ao mês. No BNB, o salto foi maior, de 5,95% para 6,23% mensais. No BB, a taxa avançou de 7,74% para 7,76% ao mês. No Itaú Unibanco, os juros recuaram de 8,39% para 8,32% mensais. No Citibank, houve queda de 9,38% para 9,04% ao mês.

“Como os bancos públicos ampliaram demais a participação no mercado de crédito, qualquer movimento que fizerem em suas taxas afetará o resultado final”, explicou um técnico do BC. Ele disse ainda que o cheque especial, cuja taxa média passou de 159,1% para 161,1% ao ano, está cada vez mais demandado, porque muitas pessoas, sobretudo servidores e aposentados, já esgotaram os limites de comprometimento de renda com linhas de crédito mais baratas, como o consignado (desconto em folha). “Então, têm de aceitar as taxas absurdas do cheque especial, que só deveria ser usado em caso de necessidade”, frisou o técnico.

Inconsistências
Em fevereiro, no que depender dos bancos públicos, o quadro não será muito diferente. Pelo levantamento mais recente do Banco Central, publicado no último dia 27, com taxas vigentes entre 8 e 12 do mês passado, a Caixa aumentou os juros do cheque especial para 6,26% ao mês. No BNB, o custo pulou para 6,81% mensais. No BB, houve um ligeiro recuo e retorno aos níveis praticados no fim do ano passado: 7,74% ao mês.

“Ainda não entendemos o que está levando os bancos públicos a puxar os juros do especial para cima. Felizmente, em outras linhas, como no crédito pessoal, os juros continuam em queda. Por isso, pode ser que, na média, ainda tenhamos um resultado positivo em fevereiro”, ressaltou o mesmo técnico do BC, lembrando que esse tipo de comportamento custou a cabeça de um presidente do BB no ano passado.

Cientes das cobranças que podem vir do governo, os executivos das instituições federais atribuem a alta à metodologia usada pelo BC. “Pelo sistema do Banco Central, divide-se a taxa pelo número de dias úteis. Se o mês for menor, a taxa sobe. Mas garanto que nossos juros estão inalterados desde o fim de 2009”, afirmou Fernando Passos, superintendente da Área de Cadastro, Análise e Acompanhamento de Crédito do Banco do Nordeste.

O Banco do Brasil informou, por meio de sua assessoria, que os juros do cheque especial subiram em janeiro devido ao mix da carteira. Ou seja, aumentou o número de pessoas que pagam mais caro pelo limite de crédito. A Caixa se limitou a ressaltar que cobra as menores taxas do mercado.

Mantega elogia o BC
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, descartou ontem uma alta iminente da taxa de juro, já que não há pressão significativa de demanda, e afirmou que o mercado exagera nas previsões, mas ressaltou que a decisão será tomada pelo Banco Central quando julgar necessário. “Não haverá pressão de demanda. Não vejo uma ameaça iminente de alta de juro”, disse ele após encontro com empresários na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Mantega ouviu do presidente da Fiesp, Paulo Skaf, que a indústria tem capacidade de atender a demanda, já que, além de encontrar-se em patamar de produção inferior à crise mundial, o setor aumentou sua capacidade em 10% em 2009 e deve elevá-la neste ano entre 12% 15%. “Não há nenhuma dificuldade para a indústria atender a demanda em 2010… Ficam afastadas as possibilidades de inflação de demanda”, afirmou o ministro. Ele afirmou que a pressão sazonal de início de ano sobre os preços vai passar, citando as projeções de IPCA em torno de 0,30% a 0,35% em março.

O titular da Fazenda disse ainda que o mercado de juros futuros, que está precificando uma alta da Selic em março, pode estar exagerando. “O mercado é que está excitando a economia e o juro futuro está subindo. Isso é o que me preocupa. O BC tem dado a sinalização correta e, às vezes, vejo uma má interpretação. O BC vai agir tecnicamente.” Mantega acrescentou que, apesar de ter essa visão de um cenário benigno para a inflação, se o BC notar algum foco de pressão irá agir adequadamente.