Novas universidades ampliam vagas, mas sofrem com falta de estrutura

A criação e a consolidação, nos últimos cinco anos, de 15 universidades federais distantes dos grandes centros urbanos cumpriram o objetivo do governo de aumentar o número de cursos e vagas no ensino superior público brasileiro. No entanto, na velocidade que foi feita, a expansão transformou municípios espalhados pelo interior do País em canteiros de grandes obras, com alunos tendo aulas em prédios improvisados, sem infraestrutura e com quantidade insuficiente de professores.

Levantamento feito pelo Estado nas novas unidades mostra que os problemas e as reclamações se repetem em todas as regiões – e que até que as instituições se consolidem, uma geração de universitários está se formando em condições mais precárias do que gostariam.

Para o Ministério da Educação, os problemas enfrentados pelas novas instituições são normais quando se tem um crescimento acelerado e, aos poucos, a situação deve ser resolvida. O MEC planeja contratar mais 1.097 professores neste ano e outros 1.858 até 2012.

CONSOLIDAÇÃO
No Rio Grande do Norte, por exemplo, foi criada a Universidade Federal Rural do Semiárido (Ufersa) a partir da Escola Superior de Agricultura de Mossoró, de 1967. Em quatro anos, a Ufersa quadruplicou o número de cursos e vagas. E há planos de dois novos câmpus. “Temos salas e laboratórios superlotados. O laboratório para 20 alunos é usado por 50”, disse o estudante Flávio Luiz Barbosa Magalhães. No câmpus de Angicos, a situação é pior: não há laboratório e aulas práticas são “empurradas” para frente.

O pró-reitor de graduação, José Arimatéa de Matos, reconhece que há 52 obras em andamento, mas diz que a infraestrutura para as disciplinas básicas está em funcionamento. Encontrar professores tem sido outro desafio, e editais foram reabertos duas vezes. “É difícil preencher as vagas. Primeiro abrimos só para doutores. Se não temos inscritos, mudamos os pré-requisitos.”

Em Minas, o reitor da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e do Mucuri, Pedro Angelo Almeida Abreu, também reconhece a falta de docentes. “O País não estava preparado para a abertura de 18 mil vagas de professores com doutorado.”Abreu avalia que a situação é transitória.

Fundada em 1953 como Faculdade Federal de Odontologia de Diamantina, a instituição foi elevada à universidade em setembro de 2005. Hoje tem 32 cursos de graduação. Mas o câmpus de Teófilo Otoni foi entregue no semestre passado. O acesso é feito por estrada de terra – e as aulas ficaram suspensas por duas semanas porque choveu e o local ficou inacessível. No início do mês, o presidente Lula foi vaiado por alunos durante evento de inauguração de dois prédios da instituição.

Segundo a reitoria, estão sendo edificados nove prédios no câmpus de Teófilo Otoni e há cem obras em andamento em Diamantina. O aluno Magno Ferreira diz que está tudo em obras, mas acredita que os problemas são secundários em relação ao privilégio de ter uma universidade pública na região.

Outro caso desse tipo é o da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), criada com sede em Chapecó (SC) a partir de um movimento liderado pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul e pela Via Campesina. A instituição tem instalações provisórias em 4 dos 5 câmpus, e os projetos pedagógicos dos 42 cursos estão em “processo de elaboração”.

Lá, a oferta de 2.160 vagas deve exceder a demanda. Nove cursos tiveram menos de um inscrito por vaga. No caso dos professores, a situação também é essa – 148 das 163 vagas foram preenchidas.

Na Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), das 83 vagas para docentes, 51 foram ocupadas. Na Federal de Alfenas, 2 dos 3 câmpus no interior de Minas estão em prédios provisórios. No Paraná, alguns alunos da Universidade Federal Tecnológica do Paraná, que tem unidades em 11 cidades, têm aulas em prédios improvisados. Segundo o reitor Carlos Eduardo Cantarelli, as obras estão dentro do previsto. “Os dois blocos que vão dar suporte à unidade estão em fase final de construção.”

A mais recente em implantação é a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), que terá câmpus em Foz do Iguaçu (PR), com projeto de Oscar Niemeyer. Como o prédio não começou a ser construído, a Unila terá sede temporária no Parque Tecnológico de Itaipu, para os cursos bilíngues com vagas para alunos dos países vizinhos. A previsão é de que os cursos comecem no segundo semestre.