Especialistas apontam “um certo atropelo” no processo de implementação do novo Enem que pode ter contribuído para os problemas que surgiram ao longo do processo, como o vazamento e a anulação da primeira prova, além da divulgação inicial de um gabarito com erros. Para o sociólogo Simon Schwartzman, ex-presidente do IBGE e presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), uma operação do tamanho da realizada para a aplicação do Enem não pode ser feita em seis meses: (Veja também: MEC sabia que haveria questão anulada no Enem 2009, mas não avisou e prejudicou alunos)
– Claramente, houve um atropelo, um problema de execução. E as provas não foram bem elaboradas devido à falta de tempo. Uma avaliação dessas proporções não pode ser feita desta forma. As questões têm de ser, primeiramente, testadas. As diferenças regionais também devem ser levadas em consideração – disse Schwartzman. (Leia mais: Inep divulga gabarito corrigido do Enem 2009)
Ele criticou ainda o fato de o novo modelo do Enem ter sido implementado sem uma discussão prévia:
– O MEC tirou o Enem do bolso e o impôs aos alunos.
Maria Helena Guimarães de Castro, professora da Unicamp, ex-secretária de Educação de São Paulo no governo do PSDB e consultora na área de educação e avaliação, lembra que quando a licitação foi iniciada, o tempo era muito exíguo:
– Parece que há indícios de que, de fato, a empresa que venceu a primeira licitação não tinha condições de dar conta do Enem com essas características – afirmou.
Maria Helena, que também foi presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) entre 1995 e 2002, período em que o Enem foi criado (em 1998, no governo FH), citou como exemplo as mudanças no formato do vestibular da Unicamp 2011, anunciadas com um ano de antecedência. Ela ressaltou que concorda com a proposta do novo Enem feita pelo MEC, mas acha que houve um certo atropelo.
– Isso acabou levando a um problema, que foi o que aconteceu na primeira prova (o vazamento). Acho até que o MEC teve uma reação rápida e muito positiva logo após o vazamento. Nesse ponto, temos que dar um voto a favor.
“Prova parecida com as dos vestibulares mais antigos”
Maria Helena não gostou, porém, do desenho da prova aplicada no último fim de semana:
– É uma prova extremamente cansativa, muito tradicional. Parecida até, de alguma maneira, com os vestibulares mais antigos.
Para ela, a avaliação acabou sendo mais disciplinar e menos interdisciplinar, como tinha sido anunciado pelo MEC:
– É uma prova mais conteudista e menos de avaliação de competências e habilidades.
Maria Helena imagina que a avaliação, depois dessa primeira experiência, deverá sofrer ajustes:
– É normal. Foi a primeira vez que a prova teve esse objetivo, essa finalidade. Imagino que a próxima será melhor que essa.
Para ela, a logística e a aplicação das provas do Enem, realizadas no último fim de semana, foram bem elaboradas:
– Era uma prova em 1.800 municípios, para um número muito alto de alunos inscritos. Os eventos que aconteceram na aplicação foram mínimos para uma prova desse tamanho.
Ao anunciar as mudanças no formato do seu vestibular 2011 na semana passada, a Universidade de Campinas (Unicamp) informou que o resultado do Enem comporá 20% da nota da primeira etapa do processo seletivo, como era previsto este ano antes do adiamento. Além disso, o exame passará a ser de uso obrigatório a todos os inscritos.
A Universidade de São Paulo (USP) também pretende usar o Enem no seu vestibular 2011 do mesmo modo que já vinha utilizando nos processos anteriores (compondo a nota da primeira fase). Este ano, a instituição usou a nota do Enem apenas como bônus no Programa de Avaliação Seriada da USP (PAS-USP) no qual participam alunos da rede pública de ensino. Esta opção foi feita devido ao adiamento do exame, que resultou no atraso da divulgação do resultado.