Itaú Unibanco, Bradesco e Santander, os três maiores bancos privados do país, pagaram R$ 890 milhões aos seus administradores nos nove primeiros meses desse ano, mostra um levantamento feito pelo Valor com base nas demonstrações financeiras divulgadas por essas instituições. A cifra inclui salários, contribuições a planos de previdência e, dependendo do caso, participação nos lucros e outorga de ações. A remuneração aos executivos corresponde a 5,36% do lucro registrado por essas instituições no período, que somou R$ 16,602 bilhões.
A partir do balanço anual deste ano, as instituições financeiras estarão obrigadas a divulgar os salários e demais benefícios pagos aos executivos, em virtude de uma resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) que exige maior transparência nesses dados.
A divulgação das políticas de remuneração dos executivos tem dois objetivos. Uma é permitir que os acionistas das empresas, sobretudo os minoritários, saibam como elas estão alocando seus recursos. Outro objetivo é evitar que os bancos criem, por meio de remuneração, incentivos de curto prazo para obter resultados, colocando em risco a sustentabilidade do negócio no médio e longo prazo. Na crise financeira internacional, algumas políticas de pagamento foram colocadas em xeque porque teriam contribuído para os bancos assumirem posições arriscadas que levaram a grandes prejuízos.
Entre os grande bancos, o Itaú Unibanco é o que mais gasta com o pagamento aos seus administradores, com R$ 504 milhões nos nove primeiros meses do ano. Os valores incluem pagamento aos membros da diretoria executiva e também aos conselheiros . Houve uma ligeira queda em relação aos R$ 516 milhões pagos em igual período de 2008. O Itaú isoladamente, sem o Unibanco, pagou R$ 350 milhões. A remuneração aos dirigentes representa 7,35% dos lucros registrados pelo banco nos primeiros nove meses deste ano.
O Itaú Unibanco tem um plano de outorga de opções para os seus executivos. “É importante lembrar que nosso sistema de remuneração é baseado na meritocracia e está alinhado à performance da organização”, afirma o Itaú Unibanco, por meio de sua assessoria de imprensa. “Somos uma empresa focada na liderança em performance, na qualidade das decisões e suas respectivas execuções.”
O Bradesco gastou R$ 267,4 milhões com a remuneração de seus administradores, incluindo proventos, gratificações, contribuições ao INSS e aportes em planos de previdência complementar nos nove primeiros meses do ano, o que equivale a 4,6% do lucro da instituição no período. O Bradesco não concede opções de ações aos executivos. Os proventos pagos aos administradores subiram de R$ 68 milhões para R$ 108 milhões. Os aportes em previdência complentar subiram de R$ 86 milhões para R$ 109 milhões. Enquanto isso, as gratificações tiveram forte redução, de R$ 90 milhões para R$ 21 milhões.
O Valor perguntou ao Bradesco, por meio de sua assessoria de imprensa, se o banco estaria reajustando os proventos e contribuições aos planos de previdência como forma de compensar a perda de gratificações. Geralmente, as gratificações estão vinculadas ao desempenho da empresa. “A política de remuneração dos executivos faz parte de um processo de gestão visando a maior eficiência dentro dos critérios de governança corporativa”, respondeu o Bradesco. “Cabe acrescentar que os resultados apresentados pelo banco são consistentes, sem reflexo negativo na remuneração dos dirigentes”.
A remuneração paga pelo Santander subiu de R$ 52 milhões para R$ 128 milhões entre os nove primeiros meses de 2008 e de 2009. A assessoria de imprensa do banco explica que a comparação gera distorção, em virtude da aquisição das operações do ABN Amro no Brasil. Os dados de 2008, incluem as remunerações pagas aos dirigentes do Santander durante nove meses, mas apenas um mês de remuneração do ABN.
Quando se soma a remuneração dos três maiores privados à dos bancos públicos, chega-se a quase R$ 1 bilhão de gastos com as cúpulas dessas instituições de janeiro a setembro. A remuneração dos bancos públicos, entretanto, é muitas vezes inferior à dos privados. O Banco do Brasil aumentou em 11% a remuneração do presidente, vice-presidentes e diretores, na comparação entre setembro de 2008 e de 2009. Hoje, o presidente do BB, Aldemir Bendine, ganha R$ 41.592 por mês, enquanto os vice-presidentes recebem salário de R$ 37.566. Apenas no terceiro trimestre, único dado consolidado disponível, o BB pagou R$ 13,6 milhões aos membros da administração (conselho e executivos).
O BB explicou que houve mudança na data de reajuste dos vencimentos dos dirigentes, que passou de setembro para março. Assim, na prática, os vencimentos ficaram congelados por 18 meses.
Tradicionalmente, o BB sempre divulgou a remuneração de seus dirigentes. Entre os cinco maiores bancos do país, é o que fornece a informação mais detalhada. A prática entre os bancos privados é fornecer o gasto de forma agregada. A Caixa Econômico Federal divulga o maior salário dos administradores, o menor salário e o salário médio. O maior salário é de R$ 32.760. A Caixa informa que essa é a remuneração mensal recebida pela presidente do banco, Maria Fernanda Ramos Coelho. Em relação a setembro de 2008, houve aumento de 8,43%. A Caixa explica que a remuneração ficou congelada por 18 meses. No terceiro trimestre, a Caixa gastou com remuneração e outros benefícios do pessoal-chave R$ 7 milhões, segundo seu balanço.