Com 5,8 milhões de universitários, o Brasil não atingirá a meta de matricular 30% da juventude de 18 a 24 anos no ensino superior até 2011, como prevê o Plano Nacional de Educação aprovado pelo Congresso.
É o que admitiu ontem o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Reynaldo Fernandes, ao divulgar o Censo da Educação Superior 2008.
No ano passado, apenas 13,71% dos jovens frequentavam a faculdade.
Dos 5,8 milhões de universitários no país, 5,08 milhões estavam em instituições presenciais e 727 mil em cursos a distância.
A expansão do segmento presencial continua perdendo fôlego: cresceu 4,1% no ano passado, em relação a 2007. Foi a menor taxa durante o governo Lula. Em 2003, as matrículas subiram 11,7%.
Situação bem diferente vive a educação a distância, que quase dobrou o número de alunos: de 369 mil em 2007 para 727 mil em 2008, um incremento de 96%.
Ainda assim, as instituições a distância atendem somente 12% do público universitário.
O presidente do Inep disse que a meta fixada pelo Congresso é ambiciosa e que o país passou as décadas de 1970 e 1980 estacionado num patamar de apenas 8% de cobertura.
Hoje, segundo ele, o problema envolve, de um lado, o ensino fundamental e médio, já que parte da população não concluiu sequer o ciclo básicod+ de outro, falta dinheiro para pagar mensalidades nas faculdades privadas, que respondem por 74,9% das matrículas..
— Não vai, é muito difícil atingir (a meta) — disse Reynaldo. — Depende de estoque, não tenho o que fazer. Eles (alunos) já estão atrasados lá atrás. É difícil melhorar a última etapa da cadeia. Tem que aumentar o número de pessoas que saem do ensino médio. O que falta incorporar são pessoas mais carentes, com menos recursos. Muitas vezes, a pessoa quer estudar, a vaga está lá, mas a pessoa não tem recursos.
Considerando todos os universitários brasileiros, independentemente da idade, as matrículas no ano passado equivaliam a 25,52% dos jovens de 18 a 24 anos.
Essa é a chamada taxa de matrícula bruta, que reflete o atraso escolar brasileiro. Segundo Reynaldo as taxas líquida e bruta são praticamente iguais nos países desenvolvidos.
O censo mostra que o ingresso de novos alunos em cursos presenciais também perde velocidade.
Em 2008, o acréscimo foi de 1,6% (em 2007 havia sido de 2,3%), com 1,5 milhão de ingressantes. O Nordeste registrou o maior aumento, com 4,2% de calouros.
Ao mesmo tempo em que tenta ampliar o acesso ao ensino superior, o Brasil convive com vagas ociosas.
Em 2008, 1,47 milhão delas não foram preenchidas, a maior parte no setor privado — 1,44 milhão. Reynaldo esclareceu que a maioria dessas vagas só existe no papel, já que as instituições costumam inflar os pedidos de oferta de cursos, caso queiram expandi-los no futuro sem necessitar de nova licença do Ministério da Educação (MEC).
A explicação vale para o setor privado, mas não para as universidades federais mantidas pelo MEC. Em 2008, deixaram de ser preenchidas 7.387 vagas nas federais, o que representa um acréscimo de 117,3% — mais do que o dobro da sobra de 3.400 vagas em 2007.
As universidades federais também viram o número de formandos cair 5,8% em relação a 2007. Queda ainda maior ocorreu no interior: – 9,7%.
Em menor proporção, as universidades estaduais também tiveram redução de concluintes: – 1,4% no geral e – 2,6% no interior. Já as instituições privadas elevaram em 8% a quantidade de formandos. Ao todo, 800 mil universitários estavam aptos a obter o diploma no ano passado.
As federais tampouco conseguiram ampliar significativamente a proporção de vagas noturnas: em 2002, somente 24,7% dos alunos estudavam à noite. Em 2008, eram 25,9%. Nas particulares, 70% dos estudantes frequentavam cursos noturnos.
A secretária de Educação Superior, Maria Paula Dallari Bucci, apresentou balanço do Reuni, o programa de expansão das universidades federais, que prevê investimentos de R$ 3,5 bilhões até 2012.
Segundo ela, foram criadas 15 mil vagas no primeiro ano de vigência do Reuni, com orçamento extra de 415 milhões. A secretária disse que as universidades contrataram 9.489 professores e 6.355 técnico-administrativos.
— Esse número é quase mais importante do que todo o resto. A transformação da universidade federal está nessa renovação. São profissionais qualificados. Daqui a alguns anos, isso vai significar uma transformação de A a Z na universidade — disse Maria Paula.