Estive internado por uma semana a partir de 11/11, vítima de um abcesso perianal infeccioso, que tomou o volume de aproximadamente um litro em cerca de 2 ou 3 dias, entre 8/11 e 11/11 e que entre outras coisas me impedia de urinar e evacuar, com febres que só não subiam acima de 40 graças à ação de anti-térmicos. Nestes dois ou três dias, eu estava sob a supervisão de um médico do Pronto-Socorro da Unimed (Evandro Luz Mayer), que achava que podia combater o abcesso que se avolumava, exclusivamente com antibióticos.
À beira de um choque séptico no quarto dia, 11/11, com intensos calafrios ainda que sem febre, com temperaturas que agora desciam lá embaixo, com a ajuda do professor Carlos Mussi, meu colega na Diretoria da Apufsc, corremos para o Hospital de Caridade em Florianópolis, quando o médico que me atendeu (Vilmar Gerente) drenou um litro de pus e tecidos já putrefeitos deste abcesso. Nada disso teria ocorrido se o primeiro médico (o da Unimed) tivesse ou feito a drenagem já no domingo, dia 8/11, ou me encaminhado para um hospital, onde eu teria os cuidados que são necessários neste tipo de intervenção (e que o pronto socorro da Unimed é incapaz de assegurar). Presentemente estou em fase de recuperação, em casa, cicatrizando uma cratera do tamanho de um dedo indicador tangenciando minha nádega direita junto ao ânus. Esta cratera se formou com a eliminação da secreção do abcesso e, de acordo com os médicos, precisarei de mais 15 dias para que a cicatrização se complete, com 3 ou 4 curativos diários e muito cuidado com a assepsia do local (o que não é muito fácil).
Por que escrevo isto?…
Tenho o melhor (e mais caro) plano de saúde que a Unimed ofereceu em seu contrato com a UFSC. Isto significa uma despesa mensal relativamente elevada. Todavia, numa época de greves dos Hospitais Públicos (por razões mais que justas), não teria, possivelmente, tido acesso a uma internação hospitalar num Caridade lotado, a não ser sob a indicação de um médico daquele hospital e usando uma sua reserva de leitos.
Penso que a intenção da Unimed em criar este Pronto Socorro foi a de aliviar a carga na emergência dos hospitais para pacientes que precisam de cuidados urgentes, mas não necessariamente de internação. Os exames (urina, sangue, radiografias…) são feitos no próprio Pronto Socorro e isto permite um diagnóstico, enquanto o paciente aguarda num leito ou numa sala de repouso do próprio Pronto Socorro. Uma boa iniciativa da Unimed.
Todavia, o corpo de médicos deste Pronto Socorro ou é muito mal pago, de modo que acabam lá apenas os médicos que não tem para onde ir, ou seus médicos são instruídos para evitarem, ao máximo, encaminharem os pacientes que lá chegam para os hospitais (e com isso reduzir as despesas dos planos, mantendo o lucro da operadora). Deste modo, no sábado, dia 7/11, quando o abcesso ainda estava pequeno do tamanho de um testículo, passei o dia neste Pronto Socorro, fazendo exames e, ao final, o grupo de médicos de plantão reuniu-se numa junta e diante de mim, diagnosticou o abcesso como uma possível “bursite” (uma inflamação) ainda que não tivessem explicação para as febres altas que me acometiam.
Fui para a casa com uma receita de um antinflamatório, com efeitos sobre a dor e febre. Com o aumento do volume do abcesso, ainda pequeno, mas que já tinha atingido a superfície das nádegas, voltei no domingo dia 8/11, para o Pronto Socorro, quando fui atendido pelo Evandro Luz Mayer, que corretamente diagnosticou o abcesso, mas que achou que poderia curá-lo apenas com antibióticos. E novamente voltei para casa, agora com uma receita de antibióticos e uma recomendação para voltar na terça. Entre domingo e terça o abcesso tomou o volume de 1 litro e as febres eram então constantes. Na terça voltei ao Pronto Socorro e o Evandro manteve o diagnóstico… e o tratamento. Voltei para a casa, agora com um antibiótico de aplicação intravenosa. Na quarta vieram os calafrios sem febre e acabamos no Caridade, quando o Vilmar Gerente que nos atendeu, um médico de muita competência e professor da UFSC, perguntou-nos atônito porque tínhamos deixado o abcesso chegar a este ponto. Minha mulher respondeu o que devia responder: “Que até então eu estava sob supervisão de um médico” .
Ao cabo e ao final estou sem saber a quem culpar ou o que fazer. O Evandro se formou em algum lugar, mas quem lhe deu o diploma?…Quantos outros pacientes passaram por suas mãos e agora estão em outro lugar, como eu estaria não fosse o socorro do Mussi?…O Pronto Socorro da Unimed, insisto, uma boa iniciativa, corre, todavia, o risco de virar um “abatedouro” humano, enquanto não puder contar com uma boa equipe médica de plantão. Nossos hospitais, especialmente os públicos, não mais dão conta do recado com as emergências lotadas de pacientes em estado grave, mas sem leitos para internação. Em alguns, os tratamentos não são feitos por falta de verbas para a compra de medicamentos (uma das razões da recente greve).
Resta-me o consolo de ainda estar vivo, mas o que fazer com um plano de saúde que de nada serviu quando foi preciso?…Como evitar que médicos como o Evandro recebam os seus diplomas?…Como evitar que nossos pronto-socorros e postos de saúde acabem nas mãos de médicos que, ou por falta formação ou de experiência e maturidade, acabem assumindo funções de responsabilidade para as quais são (ou ainda são) incompetentes?…Como sensibilizar os nossos governos, especificamente os do Estado de Santa Catarina para o grave problema da saúde e do atendimento hospitalar em nosso estado que gradativamente se avoluma e que se já não explodiu, explodirá em qualquer desses dias?…