Uma criança nasceu

Anunciemos a Boa Nova: “Unto us a Child is born. Unto us a Child is given”, como canta a esplêndida área do oratório o Messias, de Handel.

A criança que nasceu chama-se Apufsc-Sindical.

Ela foi gestada na consciência da esmagadora maioria dos docentes, que antes viram seu sindicato nacional transformar-se e manter-se um aparelho político-ideológico de um movimento revolucionário da esquerda esclerosada.

Viram a si próprios, docentes universitários que são, relegados à condição de massa de manobra, servindo de estatística a embasar os atos da organização revolucionária jurássica, que em seus nomes falava ao governo e à sociedade.

Ao governo impunha, quando estava à mesa de negociação, condições absurdas, em busca sempre de um impasse que justificasse um movimento paredista, tomado como instrumento da luta revolucionária.

Com greves decretadas, em Assembléias manipuladas, por dez, quinze presentes, seus líderes apresentavam-se na mídia falando em nosso nome, no nome da esmagadora maioria dos docentes, que na realidade os repudiava e aos seus métodos.

Exerciam de fato, segundo o figurino leninista-stalinista, a ditadura da representação.

Viram os docentes que, por conta da transformação do seu sindicato nacional em movimento revolucionário de extrema esquerda, suas prioridades legítimas foram para o espaço. Nas 190 prioridades aprovadas, este ano, em Pelotas, havia lugar para tudo. Havia lugar para a luta contra o imperialismo americano. Para a defesa do senil regime de Cuba. Para a luta em defesa dos Palestinos. Para a questão indígena e quilombola. Para a luta pela reforma agrária e a defesa dos “movimentos sociais” do campo (leia-se os bandos criminosos do MST, da Via Campesina e outros). Havia lugar para a luta pela privatização dos bancos pelos trabalhadores. Havia espaço amplo para a luta pela apropriação do capital pelos trabalhadores. Havia imensa área para o fomento à luta de classes para a criação de um governo socialista dos trabalhadores.

Mas não havia espaço, nem prioridade, para a recuperação da nossa URP!

A luta pela recuperação da URP parece ser considerada, pelas lideranças revolucionárias andesianas, como um movimento pequeno-burguês. Elas consideram-se fora e acima desta “comezinha” reivindicação.

Por aí se explica, talvez em grande parte, os insucessos que amargamos no passado recente, na nossa luta a favor da URP, que tem sido também uma luta contra a Andes.

Além de massa de manobra e estatística para a mídia, nós, a esmagadora maioria dos docentes, fomos também levados, sem sermos avisados (e assim, sem sabermos, ficamos por muitos anos) a financiar a causa revolucionária jurássica. Fomos levados a financiar o desinteresse e o desprezo por nossos “comezinhos” interesses corporativos.

O quadro que acima descrevo, de tão absurdo, parece surreal.

Não tivéssemos vivido este quadro por anos a fio, tentando desatar o nó que nos deram os que transformaram a Apufsc num escritório da Andes, teria sido difícil acreditar no que aqui relato, de forma muito ligeira.

O que fizeram conosco, a esmagadora maioria docente, é produto de mentes muito deturpadas, lavadas por vários anos de doutrinação leninista-stalinista, que visa quebrar escrúpulos humanos e sociais em favor de um estúpido, boçal, ignorante, primário cientificamente e inexistente determinismo histórico.

Para uma pessoa como eu, treinada em disciplinas avançadas como Processos Estocásticos, doutrina aplicável a vários ramos do conhecimento, da mecânica quântica ao projeto de estruturas de alta eficiência, da biologia à antropologia, da economia à sociologia, etc…d+- para uma pessoa como eu, dizia, só em ouvir falar em determinismo histórico dá icterícia.

Como diria, se soubesse, o Grande Apedeuta: “Nunca antes na História da humanidade levantou-se conceito tão absurdamente absurdo!”

Mas, não há mal que dure para sempre. E quanto mais dura, mais desmoralizante é o tombo.

A União Soviética foi para a lata de lixo da História. A China é, hoje, apenas uma ditadura capitalista. A Rússia é, hoje, capitalista e, a seu modo, uma democracia. A Europa Comunista foi para o ralo, obrigado!

Sobram, na condição de restolho do determinismo histórico, a Coréia do Norte e Cuba.

Ah! Sim! Sobraram também a Conlutas e a Andes.

Na Assembléia que se estendeu pelos dias 16 e 17 de setembro, ouvimos o nosso Grito do Ipiranga. Aquela Assembléia, com o número histórico de 1010 docentes reunidos, determinou o nosso desmembramento do movimento revolucionário de esquerda que nos subjugava, manipulava, envergonhava, nos explorava financeiramente e marginalizava nossos interesses corporativos.

A primeira Assembléia de ontem (29 de outubro) substituiu o atual regimento do escritório da Andes por um Estatuto, onde, com muita honra anfirmo, a palavra Andes está ausente.

A segunda Assembléia, ocorrida ontem mesmo, ratificou os atos constitutivos da Apufsc-Sindical.

Sim, “unto us a Child is born”.

Ela se chama Apufsc-Sindical.

Foi concebida do espírito santo da luta pelos nossos direitos de categoria e pela determinação férrea de criarmos um novo barco, um novo sindicato, que navegue as águas do respeito ao docente, da defesa dos legítimos interesses corporativos do docente e do enaltecimento ao Estado de Direito.

Como na monumental obra de Handel, terminemos com um sonoro “Alleluia.”

Amém!