Baixos salários e formação deficiente. Esta é a realidade de 2.803.761 brasileiros, mostra o estudo “Professores do Brasil: Impasses e desafios”, patrocinado pela Organização das Nações Unidas para a Educação e a Cultura (Unesco). Segundo o levantamento, elaborado pelas professoras Bernardete Angelina Gatti e Elba Siqueira de Sá Barreto, metade ganha menos de R$ 720. No Nordeste, a realidade salarial é pior ainda: 50% do professorado ganham menos de R$ 450.
— Isso dá uma ideia do desvalor salarial do professor — afirma a professora Bernardete, supervisora educacional da Fundação Carlos Chagas.
Aposentada pela Universidade de São Paulo (USP), a professora diz que a situação salarial dos professores é complicada quando se constata que 79,1% dos empregos da categoria são do poder público, o que implica volume orçamentário muito grande:
— Temos um dilema: a necessidade do país de ter professores, remunerá-los bem, atrair jovens com boas perspectivas e, de outro lado, o custo público para cobrir essas despesas. É complicado, há limitações que fazem com que o salário do professor não seja tão condigno.
Pelos dados, coletados na Pnad/IBGE de 2006, constata-se que escolas públicas pagam melhor que particulares. O salário mediano (que evita a distorção da média salarial) para o ensino médio é de R$ 1.300 nas públicas e de R$ 1.000 nas privadas.
No ensino fundamental, o mediano é de R$ 745 nas públicas e R$ 525 nas privadas, enquanto no ensino infantil é de R$ 568 (públicas) e R$ 400 (privadas).
“Perplexidade com falta de mobilização da classe”
Mas a questão salarial, para a pesquisadora, tem solução:
— É uma questão que deve ter uma solução política, e que só poderá vir da melhor articulação entre a União, os estados e os municípios. Sem essa articulação, acho que vamos ter ainda muitos problemas.
Responsável pela concepção e supervisão do projeto, o professor Célio da Cunha, assessor especial da Unesco no Brasil, elogia os esforços do governo federal que resultaram no Piso Nacional de Salários dos professores, de R$ 950, mas não respeitado em todos os estados.
— O xis da questão é que políticas desse tipo precisam ter continuidade. Não só no plano federal, mas também nos planos estaduais e municipais. Estados e municípios têm autonomia e nem sempre respondem a esses esforços do governo. Então, é importante, sobretudo em uma época de eleições, que a partir do próximo ano haja continuidade dessas políticas — defende.
Mesmo o magistério sendo a terceira carreira que mais dá emprego no Brasil — na frente só estão as profissões de serviços e de escriturário —, Bernardete expressa sua “perplexidade” com a pouca capacidade de mobilização dos professores:
— Diante do volume de trabalhadores na educação, fica uma certa perplexidade da pouca capacidade de mobilização dessa categoria e também da dificuldade de conseguir uma carreira mais decente e salários mais adequado.