Que segunda-feira inesquecível! Dar aulas às 7h30 oferece algumas vantagens. O dia rende mais. Querem ver o que mais? Há vagas para estacionar no CCE e então começo tudo com a segurança de que é só manobrar e acertar dentro da faixa amarela. O perigo não fica rondando. Além disso, dar aulas àqueles que se dispõem a atravessar a cidade mais cedo acaba virando uma seleção natural. Depois participar de uma reunião como a da Comissão dos 50 anos da UFSC promete. Mas num pé lá outro cá volto para almoçar em Sambaqui… Quando filho tem consulta médica, vale a pena garantir o trajeto e a companhia. Dirijo até o consultório no centro. Até aí tudo bem, mas então a chuva me atrasa para uma reunião às 14 horas e no afã de não atrapalhar os colegas que me esperam, deixo meu carro ali perto, correndo, na rótula. Seria apenas por duas horas. Chego atrasada, mas tudo bem, resolvo mil pepinos, fico no noturno até as 22 horas e quando chego para pegar meu carro…Uau! Ele havia sumido.
Esbravejo. Cheia de culpa perambulo pelas ruas desertas do campus e condeno essa minha incapacidade de atenção. Será o Benedito, diria minha mãe… Afinal, tinha esquecido de novo onde tinha deixado o carro…? Não, não era na rótula! Retorno então ao estacionamento do CED, dou toda a volta pelo colégio de Aplicação rumo ao Centro Sócio-Econômico. Há ainda alguns carros, mas nenhum era daquela marca… Nada! Concluo então que, de fato, era na rótula da Biblioteca que o carro ficara. Resta telefonar para a Segurança do campus. Não me respondem. Felizmente não chovia. Vejo o elefante branco aceso, encontro finalmente um segurança e explico que meu carro não está no lugar em que havia deixado.
– Há um ano e quatro meses que não furtam carros na UFSC, me responde o guarda com certo orgulho na voz.
– O que seria então?
– A guarda municipal!
Vai daqui vem de lá acabo entendendo que a prefeitura terceirizou o serviço de multa e agora há um zelo fiscal inusitado nesse perímetro urbano privilegiado que é o da UFSC… Repassam-me o telefone. Para os incautos, aproveitando o cisco, realizo um serviço de utilidade pública informando o número: 153.
Obtenho a estranha informação de que sim havia sido guinchado um carro de mesma marca branco, mas uma letra da placa não batia, em vez de “i” era um “y” e o nome do proprietário era outro!
-Deve haver algum engano esse é o meu, não é?
-Minha senhora, não é o seu carro que foi guinchado…Tenho certeza do que estou dizendo, dizia a voz do outro lado da linha… Não insista!
– Insisti! Sempre insisto, talvez seja a única coisa que aprendi na vida! Aliás, a insistência tem uma relação estreita com a teimosia. Só que uma tem “costas quentes”, é qualidade… e a outra defeito! No Brasil, educado é quem insiste porque aprendeu na marra como lidar com a ineficiência…
– Em que rua esse outro Celta foi guinchado?
Lá vem o funcionário com uma denominação de rua que tem sentido apenas para os familiares do dito cujo que por um vereador convenceu o resto da Câmara a colocar aquele nome de rua… E ninguém sabe onde fica, e nem o mapa oficial da UFSC indica… Um nome de gente que ainda não caiu nas graças do público como: Mauro Ramosd+ Juscelino Kubitschekd+ Otto Gama D”Eça… Não me dizia nada… Nunca o tinha ouvido.
-Onde fica essa rua?
– E aí a resposta fatal!
– No campus da UFSC…
Chego ao ponto. Finalmente o jovem deixa a empáfia da eficiência e menos seguro, decide que verificará no pátio da Palhoça a placa do carro e que eu ligasse novamente depois de dez minutos.
Só quem multa sabe que da rótula da Trindade até a da biblioteca há uma rua cujo nome serve para a guarda municipal multar!
Fim da história… Dirijo-me ao Titri para ir-me ao Tisan e no meio do caminho a pedra eletrônica (útil nesses momentos cruciais) me confirma que, afinal era mesmo o meu carro que jazia a minha espera no pátio de um guincho particular com o auxílio da Guarda Municipal, bem longe daqui, na Palhoça que pelo preço módico de R$ 125,00 por diária esperaria ser resgatado das mãos lucrativas do monstro.
E os compromissos agendados para a terça sobre a vistoria dos equipamentos de Artes Cênicas, o eletricista que ia colocar tomadas na sala 402d+ os critérios para as transferências e vagas ociosasd+ os detalhes para o evento que organizo? A reunião da Diretoria da Apufsc? A passagem aérea do assessor de cultura do Paraguai que só confirmou agora? A reserva de hotel das convidadas de Vigo? Os últimos preparativos das faixas e do folder, o coquetel? O documento de convênio com VIGO que está no SINTER? Bobagem!
Se eu não contasse com meus amigos no DLLE e os bolsistas do NELOOL ou os diretores da Apufsc, tudo estaria adiado e por realizar porque estaria cruzando as cidades em ônibus quando viessem naquele estilo esperando Godot…pagando taxas em bancos e navegando em um mar burocrático maior do que esse que terceiriza os serviços de fiscalização, transformando a UFSC em um grande filão cuja falta de estacionamento decente para os trabalhadores da UFSC implica!
Um mar maior do que o que rodeia a ilha me traga.
Bem feito! Quem manda…!