O Ministério da Educação anuncia hoje o cancelamento do contrato com o Consórcio Nacional de Avaliação e Seleção (Connasel), responsável pela elaboração e aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A pasta vai substituir a empresa, por acreditar ser ela a culpada pelo vazamento das provas que seriam aplicadas no último fim de semana. Uma das alternativas já analisadas é contar com o apoio dos Correios e Telégrafos na distribuição dos testes e com grandes empresas organizadoras de concurso. O MEC também pedirá a ajuda da Polícia Federal e eventualmente da Força Nacional de Segurança Pública, para garantir a lisura da avaliação.
A decisão de romper o contrato será comunicada ao consórcio em uma reunião do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) com representantes das empresas hoje. Já o ministro da Educação, Fernando Haddad, receberá o comitê de governança composto por cinco reitores, representando cada região do país, que havia sido criado para acompanhar a implantação do novo Enem, no formato de vestibular. Amanhã, o encontro do titular da Educação será com o ministro da Justiça, Tarso Genro.
A aplicação do Enem, depois do vazamento de provas, ficará para a segunda quinzena de novembro na melhor das hipóteses. Quarenta e cinco dias será o atraso mínimo devido a falhas de segurança que culminaram na fraude. Haddad aposta na elucidação do caso até amanhã, com a identificação de quem roubou a prova e de que maneira. Isso porque a ideia é anunciar o novo calendário na quarta-feira. E o ministro sabe das resistências que terá de enfrentar se tiver de levar adiante o projeto do Enem sem que tenha sido descoberto o ponto exato onde houve o vazamento. Ele pedirá, na reunião com Tarso Genro, o apoio do serviço de inteligência da Polícia Federal para evitar problemas.
“Apresentaremos à PF o mapeamento do processo que foi feito. Queremos a inteligência deles, que já colaboraram no equacionamento do crime. A PF dirá os pontos que precisam ser reforçados para evitar nova fraude”, disse Haddad, ao sair de uma reunião no Ministério da Educação ontem. Uma solicitação de ajuda também tinha sido feita pela pasta no processo que vazou. O ministro chegou a dizer, ao anunciar o cancelamento do Enem, que a PF monitorou o processo, conforme previa o edital. No mesmo dia, porém, Haddad foi desmentido pelo órgão, que ressaltou ter sido procurado para auxiliar na aplicação das provas, mas teria informado ao MEC não dispor de efetivo suficiente para tanto.
Vazamento
Dois envolvidos no vazamento das provas do Enem, o publicitário e empresário Luciano Rodrigues e o DJ Gregory Camillo de Oliveira Craid, já se movimentam para se livrar das acusações, depois que a PF os indiciou na noite de sábado.
O advogado Luiz Vicente Bezinelli prepara um habeas corpus na tentativa de paralisar o indiciamento de seu cliente, Luciano. “O governo federal quer dar satisfação para a opinião pública e pressiona a polícia a fazer uma coisa arbitrária dessa. O Luciano não sabia de dinheiro envolvido, o que ele fez foi repassar uma informação de cunho jornalístico”, diz Bezinelli, referindo-se ao dono da pizzaria que fez contato com o jornal O Estado de S. Paulo, de onde partiu a denúncia.
Até o fechamento desta edição, a PF afirmou que ainda não tinha conseguido localizar Felipe Pradella, o homem chave do caso, pois teria sido ele quem retirou a prova de dentro da gráfica.
Suspeito tem “nome sujo”
Aos 32 anos, Felipe Pradella é descrito por Luciano Rodrigues, um dos envolvidos no vazamento, como uma pessoa simples, de baixa escolaridade e um pouco grosseiro. Ontem, a reportagem tentou localizá-lo, por telefone, em sua casa. Ninguém sabia informar o paradeiro do jovem e uma pessoa chegou a falar que ele estava na casa do padrinho. Sócio de uma empresa na cidade, a Casas São Paulo, que vende móveis e estofados, Pradella está com o “nome sujo”. Só este ano, teve sete cheques devolvidos. A PF ainda não conseguiu confirmar como ele teria colocado as mãos no exame. Ainda não se sabe exatamente qual era a sua função na empresa.
Sujeito a ter o pedido de prisão decretado pela PF, Felipe, segundo os depoimentos, teria sido contratado por uma das empresas que fazem parte do consórcio responsável pela aplicação das provas para cuidar da arrumação dos exames nas caixas da gráfica. O nome dele apareceu nos depoimentos prestados por Luciano e pelo DJ Gregory Camillo de Oliveira. Felipe teria conseguido pegar uma prova do Enem e procurou Gregory para ajudá-lo a vender o material a algum veículo de comunicação. O DJ, então, procurou o amigo Luciano, dono de uma pizzaria, que já tinha trabalhado na área comercial de O Estado de S.Paulo. “Precisamos saber se essa pessoa fez isso sozinha ou contou com algum auxílio, se há uma inteligência por trás”, destacou Fernando Haddad.