Quo vadis?…

Uma leitura do artigo “Para onde estamos indo” publicado na edição 690 do boletim da Apufsc chama atenção  pela seguinte inconsistência que analiso a seguir.

Os articulistas afirmam em seu texto que:

(1) “… o CR realizou uma consulta eletrônica para procurar saber o que os professores queriam discutir em ordem de prioridade. Nesta consulta, feita há apenas dois meses, a maioria dos professores que participou da consulta (70,66%) apontou o tema  “Novo Plano de Carreiras e a questão da paridade” como sendo muito prioritário (Boletim 684 – encarte) e ele obteve, no cômputo geral,  631 pontos, figurando em primeiro lugar. O tema “Modelo de sindicato e relação com os sindicatos” ficou em sétimo lugar em prioridade para discussão”.

Os autores continuam, afirmando:

(2) “um grupo de professores, autonomeado “Movimento para uma Apufsc representativa dos professores”, estava coletando adesões para a convocação de uma assembléia “que terá como pauta única a desfiliação da Apufsc da Andes e transformação da Apufsc em Sindicato próprio com abrangência estadual”. Trata-se certamente de um movimento de colegas inconformados com o fato de que o assunto por eles proposto figure apenas em sétimo lugar na pesquisa feita pelo CR e estão agora, com seu movimento, buscando transformá-lo em prioridade, atropelando a pauta do CR e, conseqüentemente, a vontade expressa dos docentes”.

De (1) e (2) os articulistas dão a entender o seguinte. A solicitação da AG de desfiliação feita pelos 480 professores que assinaram o abaixo-assinado não deveria ser considerada pois contraria a vontade expressa dos docentes que está refletida na sétima colocação que o tema  “Modelo de Sindicato “ recebeu como prioridade de discussão.

Tal argumentação é inconsistente.

Antes, porém, convem notar que o tema “Modelo de sindicato e relação com os sindicatos”  foi posto de forma muito geral e não fazia menção alguma a questão da desfiliação ao Andes, o que poderia explicar a sétima colocação que o tema recebeu quando da consulta eletrônica e o fato atual de que 480 professores parecem dispostos a discutir tal questão.

.Mas, a inconsistência da argumentação dos articulistas reside no seguinte fato. Da consulta eletrônica que estabeleceu a agenda do CR participaram 242 professores. Agora, no abaixo-assinado que solicita a AG da desfiliação temos o aval de 480 professores para que haja a consulta, ou seja, um universo muito maior e portanto mais significativo. Assim, pelo critério de participação temos que concordar que a questão da desfiliação parece ter seu lugar de destaque pois sozinha conseguiu atrair mais professores do que a consulta eletrônica.

Com base nisto analisemos agora o que os articulistas escrevem em (2). Do abaixo-assinado, vemos que os “colegas inconformados” que os articulistas acusam de atropelarem a pauta do CR e, conseqüentemente, a vontade expressa dos docentes totalizam pelo menos 480 associados.

Então, que “vontade” expressa dos docentes é esta que está sendo contrariada? Se baseiam os articulistas no universo de 242 docentes da pesquisa anterior, muitos dos quais certamente estão incluídos entre os 480 que agora solicitam a AG? Não pode ser, afinal 242 é menor do que 480. Será então que os articulistas estão se referindo a base dos professores que é teoricamente representada no CR? Não creio, pois as deliberações do CR têm sido amparadas por um universo igualmente reduzido. Isto é um fato. Também fui

membro do CR e uma das razões pelo qual me retirei foi o fato de que o CR em mais de uma ocasião deliberou sem consultar os associados. Com efeito, todos lembramos a questão da retomada dos repasses da Apufsc ao Andes. A AG que iria decidir pela retomada não aconteceu por falta de quorum. Agora, após a AG que não ocorreu, algum associado lembra de ter sido consultado pelo seu representante se desejava que o repasse fosse retomado? Nem poderia, pois saiba, leitor, que na reunião do CR que se seguiu a AG alguns membros do CR propuseram que o mesmo decidisse pela retomada do repasse, o que acabou sendo feito sem consultar os associados. Diante destes dois pontos analisados, é inconsistente os articulistas afirmarem que a realização da AG de desfiliação contraria a vontade expressa dos docentes uma vez que não conseguem quantificar numericamente o que eles entendem por vontade expressa dos docentes.

Causa muita surpresa os articulistas qualificarem como “inconformados” aqueles professores que veem a necessidade da desfiliação ao Andes, afinal, como  podem ter tanta certeza de não ser este o desejo da maioria dos professores da Apufsc? Se tem tanta certeza de que a “vontade expressa” dos docentes é de que a discussão não é prioritária, porque parecem então receosos quanto a realização da AG? Por coerência, deveriam acreditar que os docentes não irão comparecer da mesma forma que não compareceram na AG sobre o repasse. Sabendo que os articulistas são pessoas da mais alta honestidade intelectual e incapazes de distorcer os fatos eu acredito que a argumentação inconsistente deles não foi proposital e nem se deve a um erro grosseiro de argumentação, mas ocorreu pelo desconhecimento do número exato de pessoas que assinaram o abaixo-assinado, o que foi divulgado depois de terem submetido o artigo deles. Como bons democratas que são, acredito também que saberão respeitar o desejo dos professores quanto a realização da AG não permitindo que alguém, invocando a soberania da AG, decida mudar a natureza da AG dos dias 16 e 17, a saber, uma assembléia geral permanente com um primeiro dia de discussão onde não se delibera (dia 16) seguida de votação em urna no segundo (dia 17), como prevê o regimento da Apufsc. Qualquer tentativa  de que sejam feitas deliberações no dia 16 com intuito de que não ocorra a votação em urna do dia 17 será um mero expediente golpista.

Acredito que temos muito o que aperfeiçoar na Apufsc e no CR, cada coisa no seu devido tempo. Agora, urge acabarmos com nossa subserviência ao Andes e nos libertarmos de uma vez de um sindicato “partidarizado” (ver os mais de 190 infames pontos tirados da cartilha da Conlutas e que formam a base ideológica do Andes ) e que  insiste em usar a classe docente como instrumento de oposição ao governo e que, em função disso, deixou de nos representar.

Devemos fazer com que a Apufsc retorne ao nosso cotidiano e que represente nossos interesses como categoria docente. Seguindo meus colegas andesianos no gosto pelo jargão,  que o leitor me permita escrever um: Se o Andes é o que nos desune, que nos unamos então pela desfiliação ao Andes!