Os sindicatos servem para lutar por suas categorias, mas a Andes perdeu o sentido do pelo que lutamos enveredando por uma plataforma sobre cerca de 400 objetivos entre os quais “fortalecer a luta por uma sociedade socialista e radicalmente democrática, cuja construção requer a derrota do imperialismo, por meio da unidade internacional dos trabalhadores, visando à independência nacional dos povos oprimidos e à expropriação do capital pelos trabalhadores”. A Andes hoje tem como meta “Unir a classe trabalhadora” (tema central do último Conad). Ou seja, como se ainda estivéssemos na ditadura ou confinados na ilusão de que uma revolução se avizinha, “a luta continua“ por inércia e de forma irreflexiva. A Andes tornou-se uma estrutura anacrônica, apegada atavicamente a uma realidade que não mais existe.
Nos últimos 20 anos, a Andes progressivamente se distanciou de sua base de professores. Isto se comprova nas assembléias vazias, e no esvaziamento de seus Grupos de Trabalho e Setores, em particular o das Federais. As razões disso estão na completa dissonância entre as formas de ações de nossas cúpulas, priorizando as grandes questões nacionais (e mesmo internacionais), e abandonando os interesses dos professores em suas “pequenas”, mas fundamentais questões: carreira e paridade, condições de trabalho e saúde, salários.
Nosso sindicato nacional tornou-se um aparelho de partidos e grupos ideológicos, espaço de contenda medíocre entre correntes. Como a Andes hoje busca combater o governo federal, em 2007 ela, arbitrariamente, abandonou a mesa de negociações com o Ministério do Planejamento sobre nossos salários, largando, irresponsavelmente, seus filiados ao sabor das marés. A arte de “negociar” deixou de ser uma qualidade da Andes, que, optando pela inflexibilidade dos piquetes, priorizou barrar, exigir, afrontar, à negociar. Os prejuízos para a categoria são imensos.
A convocação de uma Assembléia Geral por requerimento de cerca de 500 professores para decidir a nossa vinculação à Andes e nossa transformação em Sindicato Autônomo é uma reação a este estado de coisas. Vamos dar um basta a esta situação. É chegada a hora da Apufsc cuidar do seu próprio destino.
Por que desvincular da Andes? – Porque não concordamos que um sindicato use nossas contribuições para lutar por causas sociais, sem que isto signifique que sejamos indiferentes a elas. Não concordamos com o alinhamento político-partidário de um sindicato, ainda que todos tenhamos nossas ideologias políticas. Porque não buscamos transformar o país, mas desenvolver a universidade. A melhor opção para desenvolver o país consiste no fortalecimento acadêmico de nossa universidade.
É hora de assumirmos nossas responsabilidades. Não podemos esperar mais vinte anos para ver o que vai acontecer. Já passou tempo demais. Temos que recolocar o destino da categoria novamente nas mãos de todos os professores que silenciosamente construíram e constroem as universidades federais deste país, de onde este poder de decisão nunca deveria ter saído. Precisamos de um sindicato que faça das nossas questões fundamentais a sua razão de ser. Um sindicato local filiado a uma federação nacional aumentará o nosso poder de decisão sobre as questões que nos são importantes.
Porque um sindicato autônomo? – Por tudo isto acima. Porque queremos independência. Porque queremos discutir as questões nacionais de igual para igual com outros sindicatos autônomos em uma Federação e não como uma “sub” de alguma coisa que nos abandonou. Porque achamos inviável transformar esta “alguma coisa”, considerando que somos só professores e não sindicalistas. Porque sem sermos sindicalistas, apenas professores, temos consciência da importância de um sindicato em nossos destinos e no futuro desta nação. Queremos um sindicato que ajude nossa categoria, que nos proteja em nossa aposentadoria. Que mostre para todo mundo que o que fazemos é importante para o país. Assim poderemos negociar melhores salários, pois ainda que seja com o governo federal que negociamos, o nosso patrão é a sociedade brasileira.