Didática para sindicalistas

O Millman, Fernando, é brasileiro por acaso. O coração dele está na Albânia. O Colle é brasileiro por acaso. Olha-se para ele e se vê um alemão. O Nildo é brasileiro por acaso. O coração dele bate no lado direito da cadeira do Chávez. Eu sou brasileiro por acaso. Ple minha fleuma Poderia muito bem ter nascido na Inglaterra, por exemplo. Todos vocês são brasileiros por acaso. E por termos nascido aqui, fazemos parte de um mesmo país, embora as nossas diferenças. Não dando para ir ao lugar dos sonhos, temos que tentar transformar o Brasil no que gostaríamos que fosse. O Millman quer o centralismo de estado e a fome recorrente. O Colle quer acabar com o comunismo. O Nildo sonha com a re-eleiçao ad infinito de algum chavista. E assim por diante. Se tudo for feito dentro da lei e da democracia, não há nada errado em querer transformar o país no nosso mundo de sonhos. Dentro das fronteiras de um país desenvolvem-se embates políticos das várias correntes ideológicas que o compõem.

Agora vamos mudar para outro assunto.

Eu era sócio do LIC e saí quando o LIC deixou de me interessar. Um monte de gente vai toda a semana ver jogo do Avaí ou do Figueira. O Walter, por exemplo, é figueira enrustido. Tem professores que foram na parada da diversidade, por afinidade. Muita gente é sócia de instituições de caridade por desejo de ajudar ao próximo.

Onde eu quero chegar? Elementar caro Walter: um clube ou instituição não é um país. Ser membro de um país é acaso. Poucos, pouquíssimos têm chance de escolha. Então, um país é feito de pensamentos diferentes, com idéias de povo diferentes, com idéias econômicas, sociais e políticas diferentes. Estabelece-se aquela quer for majoritária em determinado período. Muitas vezes, canalhas fazem valer sua vontade pela força, pela repressão, calando a oposição.

Já um clube ou um sindicato é diferente. Estamos todos na Apufsc porque queremos melhores condições de trabalho, melhores condições de saúde, melhor remuneração, um espaço para trocas sociais e mais alguma coisinha. 99,9 % da Apufsc ou de um clube ou sindicato é sócio para atingir coletivamente benefícios bem claros. Ninguém está no sindicato para mudar a humanidade e nem para fazer valer suas idéias políticas, econômicas ou sexuais. Bem óbvio, não é?

Evidentemente, diria o Walter. Pena que os aparelhistas e sindicalistas profissionais, por burrice ou cretinice teimem em transformar sindicato em partido político. Se for partido, onde cabe o Millman eu não entro. O Colle não sobe no palanque do Nildo. Está bem, admito que isto está meio confuso porque hoje Collor, Sarney, Lulla, Milmman e Temmer estão todos abraçadinhos, loucos de paixão mútua. Este fato serve muito bem para confundir a mente menos privilegiada. Mas não vai confundir professores da 138ª universidade do mundo.

Então, o que serve para caracterizar o funcionamento do povo de um país não pode servir para caracterizar o funcionamento dos membros de um sindicato. Por conta disto, queremos transformar a Apufsc num lugar em que todas as correntes possam sentar lado a lado e lutar pelos mesmos interesses. Interesses estes diretamente relacionados com nossas atividades profissionais. Com divergências quanto à forma, que a liberdade de expressão é sagrada, mas com objetivos comuns. Ninguém tem o direito de usar o sindicato para implantar comunismo ou fascismo, pois um sindicato certamente abriga tanto comunistas quanto fascistas. Também não deve ter entre seu foco principal salvar baleias ou matar ornitorrincos em excesso na Austrália. Não pode procurar calar quem pensa diferente e nem conchavar na calada da noite para eternizar-se no poder. Muito menos se espera que se considere iluminado e com direito a decidir sobre o futuro de todos os professores.

É só isto. Pena que asnos não entendam tamanha obviedade.