A decisão do governo federal de transformar a Petrobras na única operadora da camada do pré-sal na área ainda não concedida (107 mil quilômetros quadrados de extensão) vai exigir da estatal um volume de investimentos e de contratação de pessoal muito superior ao crescimento da empresa nos últimos anos e também muito acima dos valores previstos no plano estratégico da companhia. Entre 2002 e 2008, a empresa contratou 27,5 mil funcionários, um aumento de 59%, e ampliou sua produção de 1,812 milhão de barris por dia para 2,4 milhões de barris/dia, uma alta de 32%. Pelo seu plano estratégico, a empresa projeta chegar a 2013 com uma produção total (petróleo e gás, no Brasil e no mundo) de 3,655 milhões de barris/dia, um crescimento de 52% em relação ao volume de 2008. Para alcançar esse objetivo, ela planeja investir US$ 174,4 bilhões entre 2009 e 2013, dos quais US$ 104,6 bilhões em exploração e produção, dos quais 12% fora do país.
Do total em exploração e produção, US$ 28,9 bilhões são para desenvolver a produção no pré-sal já concedido à companhia – ela prevê chegar a 2013 produzindo 157 mil barris de petróleo por dia extraídos dessa área. Até 2020 os investimentos saltam para US$ 110 bilhões no pré-sal, que permitirão uma produção de 1,8 milhão de barris por dia só naquela região.
As projeções do plano estratégico 2009-2013 incluem apenas a produção no pré-sal de campos licitados sob o regime de concessão, entre os quais Tupi, Guará, Iara e Júpiter, só para citar alguns. Ele será atualizado no próximo ano, quando a Petrobras também terá de incluir os investimentos para produzir os 5 bilhões de barris de petróleo que receberá da União no processo de capitalização.
Mesmo sem os novos campos que vai deter quando, e se, a nova legislação for aprovada, o extraordinário volume de investimentos necessários já era considerado muito elevado. O diretor-financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, explica que a companhia ainda não fez projeções a esse respeito nem sobre o número de funcionários que precisará no futuro. “Isso será objeto de uma revisão do nosso plano de negócios depois que o projeto de Lei (da Capitalização) for aprovado”.
Mas tanto Barbassa quanto o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, estão seguros de que a companhia já demonstrou uma extraordinária capacidade de levantar recursos ao captar US$ 31 bilhões de financiamento entre janeiro e junho deste ano, mesmo em momentos de crise no mercado de crédito. Gabrielli destacou que o atual plano de investimentos da companhia a torna a maior compradora do mundo de vários equipamentos e sistemas de produção de petróleo. E as novas regras do pré-sal, que estabelecem um participação mínima de 30% em todos os consórcios como operadora trarão um “poder de escala gigante”, nas palavras de Gabrielli. Hoje a companhia responde por 85% da produção de petróleo do país – que é maior em extensão do que a parte americana do Golfo do México – e tem garantido um naco de pelo menos 30% do pré-sal, sendo operadora em todas as áreas. Para Gabrielli, esse privilégio é merecido.
Sem nenhuma modéstia o presidente da Petrobras diz que ela é a melhor e a maior especialista em produção de petróleo em águas profundas e ultraprofundas do mundo, detendo 23% da operação desse tipo, contra os 14% da segunda colocada. A companhia tem 45 plataformas de produção (FPSOs) sob seu controle entre as 255 plataformas desse tipo em operação no mundo. É de longe a operadora da maior frota de sistemas de produção, frisou Gabrielli.
Almir Barbassa estima que nos próximos cinco anos a cessão onerosa, por parte da União, de até 5 bilhões de barris para a companhia deve aumentar em US$ 10 bilhões os investimentos da companhia no pré-sal.
“Se nós adquirirmos mais esses 5 bilhões, deve representar 30% a mais, mais US$ 10 bilhões. Nos próximos cinco anos não tem um impacto significativo. O impacto maior virá no futuro, mas no futuro já teremos uma produção muito diferente da de hoje, um fluxo de caixa maior, um rebalanceamento do conjunto de projetos”, frisou Barbassa.
José Sergio Gabrielli não antecipa nenhum problema com as companhias de petróleo que terão de aceitar a Petrobras como operadora no pré-sal, nem espera ter como sócios companhias financeiras ou sem capital técnico, dizendo que isso é vetado na nova legislação. Lembrou que atualmente a BP e a Shell prestam serviços no Iraque e por isso acha que elas terão interesse no pré-sal. “Não somos o pior operador do mundo, ao contrário, somos os melhores”, disse, frisando que ter a Petrobras como operadora do pré-sal é uma “escolha natural”.
Alguns bancos de investimento, como o Credit Suisse e o Itaú melhoraram a avaliação dos papéis da Petrobras no novo modelo. Para o Credit Suisse, a Petrobras “é uma das companhias de petróleo mais promissores do mundo”.
O diretor de exploração e produção da Petrobras, Guilherme Estrella, disse que em todos os projetos onde será sócia de outras empresas no regime de partilha de produção, os sócios poderão ter certeza que a Petrobras vai obedecer “as melhoras práticas” do setor. E elas também protegerão a companhia no caso, por exemplo, de alguma empresa propor à União uma determinada participação em petróleo que tire a rentabilidade do projeto. “É importante lembrar que nessa indústria, pelos riscos existentes, existe uma cultura que no fim das contas prevalece. E a possibilidade de vir algum aventureiro que atue fora das melhores práticas seria discutível”, disse Estrella, lembrando que caberá à Petro-Sal avaliar e rejeitar propostas de produção em partilha que forem consideradas “inexequíveis”.
Em Vitória, no Espírito Santo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que o “privilégio” dado à Petrobras de ter 30% em todos os blocos foi devido a ela ter “competência para exercer a função de ser a única operadora”. Segundo ele, o Brasil está seguindo caminho semelhante ao trilhado por outros grandes produtores de petróleo. “Quando (o país) tem pouco petróleo e tudo que vai explorar é de alto risco, se oferece mais vantagens para a empresa que quer colocar dinheiro ali. Mas quando tem petróleo e pode oferecer aos investidores a certeza que não tem risco, aí o país exige muito mais do que se tivesse risco”, disse Lula.
Segundo Lula, o marco regulatório do pré-sal está bem feito e foi muito bem trabalhado por pessoas “da maior competência” no país. O Congresso, segundo ele, pode contribuir para melhorar os projetos. “Pela minha experiência, na maioria das vezes, o Congresso ajuda a aperfeiçoar as coisas que estamos fazendo”, afirmou. Lula disse sonhar que o Brasil tenha uma indústria petroquímica das maiores do mundo. E para isso precisa ter uma indústria de petróleo forte, afirmou. Perguntado sobre os resultados exploratórios no pré-sal, Lula disse que as informações que dispõe são as melhores possíveis.