As manobras de Lupi

Quatro confederações patronais deixaram o Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (Codefat), responsável pela gestão de recursos de quase 160 bilhões de reais. A decisão foi um protesto contra a nomeação de Luigi Nese, da Confederação Nacional de Serviços (CNS), para a presidência da entidade. Os representantes da indústria (CNI), do comércio (CNC), da agricultura (CNA) e das instituições financeiras (Consif) acusam o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, de orquestrar uma manobra política para eleger o candidato de sua preferência para o biênio 2009-2010.

De acordo com as entidades rebeladas, o ministro teria contatado todos os integrantes do conselho para pedir apoio a Nese. As 36 cadeiras da entidade são divididas entre as bancadas de empresários, trabalhadores e governo. A campanha foi considerada uma afronta a um acordo que prevê um rodízio das três forças. O candidato dos representantes do patronato era Antonio Rodriguez, da CNA. Ao perceber que o preferido de Lupi seria o mais votado, as confederações desistiram de participar da eleição e deixaram o conselho.

As reações, pró e contra a atitude das entidades, não tardaram a surgir. “Repudiamos com veemência a manobra do Ministério do Trabalho, rompendo a ordem de rodízio na presidência do Codefat, para dar vez a uma confederação recém-criada, sem tradição no órgão e com a sua representatividade contestada”, afirmou, em nota, o presidente da Fiesp, Paulo Skaf. De outro lado, o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, disse achar “bom que o patrão não dê opinião sobre o dinheiro do trabalhador”.

Lupi negou a ingerência no conselho e classificou como levianas as acusações da senadora Kátia Abreu, presidente da CNA. A troca de alfinetadas dificulta um entendimento que impeça as confederações de abandonar a entidade. Sem os representantes das empresas, o Codefat vê prejudicado o equilíbrio previsto em sua composição e tem a legitimidade comprometida. Intencionalmente ou não, o ministro provocou um racha no colegiado que controla uma das principais fontes de financiamento de programas públicos destinados a gerar emprego e desenvolvimento. Em última análise, perde o trabalhador, dono dos recursos.