Nas contas dos homens, 12 anos. Na vida de cão, 84. Este foi o tempo que Catatau viveu entre nós. Agora, seu corpo descansa aos pés da Pira da Resistência, em frente à Reitoria da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), na Capital. Dois panos pretos embandeiram o luto, três vasos de flores simbolizam as homenagens. O animal foi encontrado morto na manhã de sexta-feira, próximo a uma vala. A causa é desconhecida.
É justa a autorização para que o cão que vivia no campus fosse enterrado ali. O monumento, erguido em memória dos trabalhadores catarinenses em 1998, fala sobre lírios que deram lugar ao cultivo da liberdade, da solidariedade e da luta. Ninguém melhor que Catatau, “cãolunista social” para receber uma cova na mesma terra onde se brada pela luta contra a opressão e a miséria.
O corpo do animal não apresentava ferimentos. Houve suspeita de envenenamento. Mas pela falta de câmeras no local, não há imagens do cão sendo jogado perto da vala.
Entre os significados da palavra catatau, o mais comum é coisa grande ou volumosa. Mas para Catatau, com letra maiúscula, as definições são muito mais emocionais:
– Catatau era único. Por isso, só ele tem nome próprio – diz Raísa Rocha, acadêmica de Design.
– Ele era o cão alfa, o chefe da matilha – sugere o estudante de Arte Tharso Duarte.
– Ele era o melhor de nós. Estava em todas as lutas. Nas passeatas, nas greves, nas campanhas, nos shows, nos atos políticos, nas ocupações – escreveu a jornalista Elaine Tavares.
Catatau chegou filhote ao campus. Hoje, pelo menos 20 cães estão abandonados no local.
Mas Catatau mostrou-se especial. Talvez tenha usado da tal sensitividade – como sugere Léo Nogueira – um tipo de fotógrafo oficial de Catatau e idealizador do blog Catatau Menezes.
É Nogueira o autor da última foto dele em vida, semana passada.Também é de autoria dele o poema ao lado, sobre os animais que acompanham o cotidiano universitário.
Para o mestrando em Educação, os animais, assim como as flores, reagem aos estímulos. Catatau gostava de gente, enfiava-se no meio da aglomeração: ocupou prédios, não omitiu-se nas greves e até sentou na cadeira do reitor.
Por isso, o bichinho, chamado por alguns de Zorro, Bruno e Reitor, não deixou dúvidas. Foi o cão que melhor se inseriu no cenário universitário. Por ironia, saiu de cena justamente no período de férias.