Antes, o currículo se baseava em competências e habilidades. No novo modelo do Enem, no entanto, há a cobrança de conteúdo em cada matéria, em detrimento da interdisciplinaridade. Essas são palavras de Celina Costa, diretora geral do CAp-UFRJ, colégio público mais bem colocado no Rio no Enem 2008. As críticas não vêm apenas dela: educadores do mesmo colégio e do Sâo Bento, a escola que ficou com a melhor posição do país no ranking do último ano, também apontam falhas. Além disso, a falta de definição sobre o simulado do novo exame aumenta a apreensão. Conheça algumas de suas principais reclamações, seguidas das respostas do diretor de avaliação da educação básica do Inep, responsável pela organização do exame, Heliton Ribeiro Tavares.
CONTEÚDO X HABILIDADES:
Celina Costa, diretora geral do CAp-UFRJ, questiona a cobrança de conteúdo em programas específicos para cada disciplina.
– Antes, a prova era muito mais baseada em relacionar informações, agora parece que os alunos terão que memorizá-las – diz Celina.
Segundo o Inep, a apresentação de conteúdos específicos foi uma demanda das próprias escolas. Tavares garante que a prova vai continuar a priorizar habilidades e competências.
LÍNGUA ESTRANGEIRA
A professora Mariangela de Sá Ferreira, coordenadora de inglês do CAp-UFRJ, considera um absurdo não cobrar língua estrangeira no novo Enem 2009. Já a supervisora pedagógica do São Bento, Maria Elisa Pedrosa, está preocupada com a possibilidade da obrigatoriedade de espanhol em 2010.
– Temos uma legislação que não obriga a língua espanhola no ensino médio – argumenta.
Segundo Tavares, a inclusão de língua estrangeira, em um ano de transição, beneficiaria alunos que fazem cursos de idiomas. Ele acrescenta que a cobrança de inglês e espanhol em 2010 ainda está em discussão.
PROVA DEMOCRÁTICA
Para Márcia Xavier, coordernadora de língua portuguesa do CAp-UFRJ, o novo modelo e seu currículo se aproximam muito dos vestibulares tradicionais, privilegiando ainda mais as escolas particulares.
De acordo com o Inep, a principal preocupação do Enem não é o ingresso na universidade, mas uma avaliação nacional do que se espera de um aluno do ensino médio.
INTERNET
As inscrições feitas apenas pela internet foram criticadas por Rosalina Costa, coordenadora de geografia do CAp-UFRJ. Segundo ela, a opção é excludente e dificultou o acesso dos alunos.
O Inep informa que houve inscrições em todos os municípios brasileiros que têm ensino médio.
– É muito mais fácil um aluno parar numa lan house do que num posto dos Correios – compara Tavares.
TEMPO DE PROVA
Para Fernando Villar, coordenador de matemática do CAp-UFRJ, o tempo de prova é insuficiente para as 180 questões de múltipla escolha e a redação.
O Inep informa que, até o ano passado, o tempo médio era de 3,3 minutos por questão, e que, em 2009, será de 3 minutos, após consulta consulta a especialistas. De acordo com o instituto, a média é compatível.
MIGRAÇÃO REGIONAL
Virginia de Paula Collyer, coordenadora de química do CAp-UFRJ, acredita que os melhores alunos da Região Sudeste ocuparão vagas de faculdades federais em regiões com uma qualidade de ensino inferior, como as regiões Norte e Nordeste.
Tavares diz que esse fluxo já existe e acontece nas duas direções. Para ele, o percentual máximo de alunos que estudam fora de seus estados é de 40% em cursos mais concorridos, como Medicina, índice que não deve crescer muito.
PREPARAÇÃO
Para Maria Elisa Pedrosa, supervisora pedagógica do Colégio São Bento, as escolas tiveram pouco tempo para se adequar ao novo modelo.
Tavares pondera que o MEC apresentou a proposta em março e que muitas escolas conseguiram se adequar ao novo modelo no primeiro semestre.