O sindicalismo passa por um processo de transformação em todo o país. Longe dos corredores do Congresso e dos gabinetes ministeriais é travada uma disputa política tão feroz quanto a que costuma se desenrolar nas arenas da grande política nacional. Os duelos são movidos a suor, panfletos baratos e carros de som distorcido.
Filiado à Central Única dos Trabalhadores desde a década de 80, o Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro decidiu, no fim de semana dos dias 20 e 21 de junho, em seu 8º congresso, se desfiliar da central e aderir à outra, a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), braço sindical do PCdoB. No mesmo fim de semana, era concluída a apuração da votação que elegeu uma nova diretoria colegiada para o Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação do Rio de Janeiro, uma das entidades mais numerosas do funcionalismo público estadual, com quase 60 mil filiados. Os servidores da educação pública fluminense elegeram, para a direção do SEPE-RJ, uma maioria de 70% formada por chapas da Intersindical, agrupamento ligado ao PSOL, e Conlutas, central que mantém estreitas relações com o PSTU, deixando a chapa da CUT e outros grupos com apenas 30% dos votos. Desde 2006 o SEPE-RJ não é mais filiado à CUT.
Os dois exemplos do Rio de Janeiro ilustram, a nível estadual, o processo de transformação pelo qual passa o sindicalismo brasileiro em todo o país. Longe dos corredores do Congresso Nacional, dos elegantes gabinetes ministeriais e dos requintados restaurantes da área central de Brasília, uma disputa política tão feroz quanto a que costuma se desenrolar nestes espaços de negociação tradicionais da grande política nacional, porém menos regada a coquetéis e canapés e mais a suor, panfletos baratos e carros de som distorcido, é travada.
CUT e Força Sindical, outrora detentoras de virtual oligopólio sobre o movimento sindical do país, hoje são forçadas a enfrentar a concorrência de centrais novas criadas a partir de 2005, a maioria delas umbilicalmente ligadas a partidos políticos de esquerda (veja quadro). A situação é ainda pior para os cutistas, tendo em vista que o surgimento e o crescimento dessas novas centrais têm se dado, em grande medida, às custas de sindicatos que um dia cerraram fileiras com a poderosa central que alçou à política nacional o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Levando-se em conta apenas os dados oficiais do Ministério do Trabalho e Emprego, só a CTB e a Conlutas, formadas quase que em sua totalidade por entidades que até poucos anos atrás integravam a estrutura cutista, somam 351 sindicatos filiados. Para se ter uma ideia do golpe dado pela criação das novas centrais na CUT, o número equivale a 21% do total de sindicatos que hoje pertencem à central (1.670). O rombo é ainda maior se contabilizados os sindicatos que hoje pertencem à Intersindical, formalmente não reconhecida como central.
As rupturas, na sua maioria, são alimentadas por divergências na condução administrativa da CUT e por críticas à proximidade que a central, controlada pelo PT, mantém com o governo federal.
– O que nos levou a optar pela criação da nova central foi fazer com que nossas propostas para o sindicalismo brasileiro ganhassem visibilidade, já que na CUT eram nos repassadas sempre secretarias de menor porte – explica Wagner Gomes, presidente da CTB e do Sindicato dos Metroviários de São Paulo. Antes da criação da própria central, o PCdoB atuava dentro da CUT como a Corrente Sindical Classista. O grupo participou da central de 1991 a 2006. O próprio Gomes foi, por três mandatos, vice-presidente da CUT, chegando até mesmo à ocupar a presidência da central, de maneira interina, quando o então presidente, Luiz Marinho, deixou o cargo para assumir o Ministério do Trabalho.
– Enquanto tudo se resumia à CUT e Força Sindical, permanecemos na CUT. Mas, com a criação de todas essas outras centrais, entendemos que era hora de buscar o próprio espaço.