Criada no início da década de 1980 a partir do surgimento do chamado “novo sindicalismo”, movimento de organizações de trabalhadores que pretendia romper com as velhas relações entre o sindicalismo pelego e o Estado, e que constituiu, juntamente com ex-militantes da esquerda armada e com as Comunidades Eclesiais de Base, um tripé que sustentaria as origens do PT, a CUT realiza, no início de agosto, seu 10º Congresso Nacional. Dirigentes da entidade criticam as divisões criadas pelas novas centrais e garantem que, apesar das centenas de sindicatos que romperam com a CUT nos últimos anos, a central não perdeu força dentro do sindicalismo brasileiro.
– Do ponto de vista da classe trabalhadora, esse processo é muito ruim, ele reduz o poder de pressão, de reivindicação do sindicalismo – analisa o secretário-geral nacional da CUT, Quintino Severo. Nossa vontade seria a permanência desses grupos dentro da CUT, mas respeitamos democraticamente essa opção deles pela construção de seus próprios processos.
Severo não esconde a irritação em relação às críticas que acusam a central de estar muito atrelada ao governo e de agir de maneira dócil diante dele.
– Isso não faz sentido. Eles dizem isso, mas se você observar todas essas centrais novas tem uma vinculação partidária muito forte também – observa. – E a CTB, então, não pode nos criticar pela relação com o governo, porque o PCdoB também está no governo. O que existe por trás desse processo é uma pesada estratégia partidária, de construir cada partido sua própria central, diferentemente da CUT, que desde a sua origem, em que pese a sintonia que sempre teve com o PT, nunca abriu mão da proposta de agregar em seu interior pessoas de todos os partidos e correntes, justamente para ser a central única.
Como evidência de que a CUT continua firme mesmo após as dissidências, o dirigente sindical menciona o número de delegados eleitos para participarem do Congresso em agosto. Segundo ele, no último evento desse tipo da central, em 2006, antes, portanto, da maioria das desfiliações, 2.446 delegados compareceram ao encontro. Como o critério para a eleição de um delegado continua o mesmo, a representação de 1,5 mil trabalhadores, Severo entende que a confirmação da presença de mais de 2,3 mil delegados no congresso de agosto próximo é um dado significativo da manutenção da força da entidade.
O sindicalista também acredita que a CUT permanecerá à frente do movimento sindical devido a erros administrativos cometidos pelas outras centrais e pela dependência que elas tendem, segundo Severo, a ter dos repasses do imposto sindical.
– A CUT não comprou prédio, não está adquirindo patrimônio com os recursos da contribuição sindical, como algumas destas centrais estão fazendo – diz. – Ela está é se preparando para se sustentar como sempre fez, pela contribuição voluntários de seus membros. Ela está é investindo em pesquisas, em esforços para atrair novas filiações.
O secretário-geral ressalta, no entanto, que a fragmentação sindical não impede que as centrais atuem juntas na defesa de algumas reivindicações comuns, como, por exemplo, a proposta de emenda constitucional que estabelece a redução da jornada de trabalho. Uma interpretação questionada pelos críticos.
– Acho difícil essa unidade – avalia o sociólogo Sadi Dal Rosso. – A vinculação partidária forte dificulta muito essa união. Talvez, o que possa mudar isso é a crise econômica. Se aumentar muito o desemprego, se os salários forem muito achatados, talvez essas barreiras possam ser superadas. Mas, fora isso, me parece que esse modelo vai perdurar. Essa fragmentação veio para ficar.