Para melhorar a formação dos professores das escolas públicas do país, proposta lançada nesta quinta-feira pelo Ministério da Educação (MEC), é preciso transformar a mentalidade das universidades federais, defende o presidente do Movimento Todos pela Educação, Mozart Neves.
Na avaliação do especialista, que é professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), as licenciaturas não são prioridade nas agendas das instituições de ensino superior que são mais preocupadas com o desenvolvimento de pesquisas.
Para Mozart, o plano lançado nesta quinta é um passo importante, mas é determinante uma reforma na carreira dos professores e a valorização salarial para atrair os jovens talentos para as licenciaturas.
– Os melhores alunos ainda vão para medicina, direito ou engenharia e para ter os melhores professores temos que ter os melhores alunos do ensino médio – diz.
De acordo com Mozart, os alunos que hoje ingressam nas licenciaturas chegam com grandes deficiências da educação básica.
– E as universidades não têm sensibilidade para trabalhar e acolher esse aluno. Muitos não passam do primeiro semestre – diz.
Embora o MEC tenha anunciado que 382 mil professores não possuem formação adequada para lecionar, o número de docentes desqualificados nas escolas brasileiras pode ser muito maior. A opinião é de Jacques Therrien, professor da Universidade Federal do Ceará (UFCE) e pesquisador em educação.
– Desde a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), em 1996, houve uma corrida de professores para cursos de pedagogia de fundo de quintal, que garantem diploma formal e aumento salarial, mas não ensinam. O buraco pode ser maior- disse Therrien.
Para o pesquisador, ainda há muitas dúvidas em torno do significado dos números apresentados nesta quarta-feira pelo MEC:
– Precisamos saber o que significa isso. É um número assustador que se refere a um problema assustador.
Segundo ele, a prova para avaliação dos professores por si só não surtirá efeito. Entre as medidas anunciadas, a mais promissora é a abertura de 330 mil vagas de licenciatura:
– Não adianta nada fazer teste de conhecimentos com professores. Tem que ver se existe condição de trabalho, tempo para estudar, material adequado. É um desafio para todas as universidades cobradas a participar. Jogar mais 100 alunos em cada sala, além de não resolver, atrapalha os que já estavam lá. Tem que vir acompanhado de investimento.
O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Roberto Leão, também destacou a necessidade de se criar uma carreira estruturada para atrair a juventude para o magistério.
Ele ressaltou que a formação é uma das variáveis, mas não é a única.
– É preciso dar aos professores uma perspectiva de futuro, mas nem o piso de R$ 950 os estados e municípios estão querendo pagar – afirma.
Durante cerimônia de lançamento, o ministro da Educação, Fernando Haddad, disse que um dos principais objetivos da proposta é atrair a juventude para o magistério.
– Queremos que eles vejam a carreira do professor como estratégica para o desenvolvimento do país – explica.
Segundo o presidente do Movimento Todos pela Educação, em países como a Finlândia e a Coreia, que apresentam excelentes indicadores de qualidade de educação, 20% dos melhores alunos do ensino médio escolhem as licenciaturas.
– A mudança tem que ser cultural e precisa envolver toda a sociedade. Precisamos de currículos atraentes, salário e carreira – diz.