Um dos problemas mais graves detectados no censo do MEC com professores é o alto percentual dos que dão aulas de física, matemática e química no ensino médio sem formação nessas áreas.
Em 2007, o Conselho Nacional de Educação já alertara que havia um déficit na formação de professores nessas disciplinas, evidenciado também pela dificuldade dos Estados de preencher vagas em seus concursos.
A principal explicação para isso depende de uma informação que o censo do MEC não traz, mas que pode ser obtida na Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE.
Na comparação de 30 ocupações que exigem nível superior, as cinco de menor rendimento médio são todas relacionadas ao magistério.
O salário médio de um professor de ensino médio com nível superior no Brasil era de R$ 1.335 em 2007. Isso representa dois terços dos rendimentos de um enfermeiro diplomado (R$ 2.022), metade do que ganham jornalistas (R$ 2.767) e 27% do obtido por médicos (R$ 4.865).
É verdade que há evidências empíricas de que salários maiores não significam melhores notas de alunos nas avaliações do MEC. Mas esse é um dado que capta apenas um efeito imediato.
Sabe-se, a partir de um estudo da consultoria McKinsey, que os países com melhor desempenho educacional são os que selecionam para suas escolas os profissionais mais bem capacitados. Para isso, não há dúvida de que a remuneração é um fator essencial.
No Brasil, dados do questionário socioeconômico do Enade (exame substituto do provão) mostram que vamos em direção oposta: os alunos em cursos de formação de professores são os mais pobres, de famílias menos escolarizadas e que mais estudaram na rede pública.
Em áreas em que o número de formados já não dá conta da demanda -caso de matemática, física e química- o problema fica ainda mais agudo. Os melhores que se formam nessas licenciaturas se deparam com escolhas como essas: receber R$ 1.335 como professor ou, por exemplo, fazer um concurso público para bancário, cuja remuneração média para nível superior é de R$ 2.216?
Sem salários atrativos, não há vocação que resista. Resta às escolas darem um jeitinho para que os alunos não fiquem sem aulas dessas áreas.