Durante toda nossa vida universitária escutamos colegas, professores e inclusive o reitor dizer que a universidade é muito mais do que a sala de aula. Aconselham-nos a buscar outras atividades, conhecer outras pessoas e ler outros materiais além daqueles presentes em nossos cursos. Porém, somos nós mesmos que percebemos a insuficiência da rotina acadêmica. Após alguns semestres de aulas monótonas, matérias pouco interessantes, onde só a “pedagogia das listas de presença” consegue nos manter em sala, temos duas alternativas: ou aceitamos a via crucis até a formatura, ou buscamos construir alternativas que completem nossa formação. Uma delas é a organização e participação dos encontros de estudantes, regionais ou nacionais. Organizados por centros acadêmicos, empresas juniores ou grupos PET, eventos desse tipo são, muitas vezes, o único ambiente para discutir o futuro da profissão e temas atuais vinculados ao curso em nível nacional, já que, via de regra, a realidade passa longe da maioria de nossos currículos.
Com muito esforço, os estudantes organizam debates com importantes conferencistas do país, elaboram minicursos, apresentam seus projetos de pesquisa e entram em contato com a realidade de outras faculdades. Aquele que participa ativamente dessas atividades amplia consideravelmente seu horizonte político e intelectual. Sairá da universidade um profissional muito mais preparado, certamente.
Entretanto, parece que a UFSC não se sente responsável por receber e apoiar eventos desse tipo. Neste ano, o Congresso Nacional de Estudantes de Engenharia Química, o Encontro Regional de Estudantes de Administração e o Encontro Nacional de Estudantes de Economia – esse ainda por ocorrer –, encontraram severos obstáculos na relação com a Administração Central: não puderam alojar os congressistas nos ginásios e centros de ensino (o evento ocorrerá nas férias)d+ tiveram que pagar pela utilização do Centro de Cultura e Eventos, espaço supostamente públicod+ não puderam utilizar o Restaurante Universitáriod+ tiveram grandes restrições no apoio financeiro da PRAE, etc. Ao invés de facilitar, a Reitoria tem dificultado a realização dos encontros estudantis. No limite, parece que os estudantes não organizam os eventos em suas universidades.
As justificativas – afinal, elas sempre existem – utilizadas expressam a concepção sobre o lugar dos estudantes na vida universitária. O primeiro argumento para a negativa de cessão dos espaços para alojamento é que muitos estudantes reunidos seriam uma ameaça ao patrimônio da universidade: quebrarão carteiras e vidros, sujarão os espaços, etc. É o estudante como “delinquente juvenil”. Não importam os benefícios do evento, mas de se precaver contra ocasionais danos. Além do mais, tal postura é profundamente antipedagógica. Correto seria “educar para a liberdade”, liberando os espaços e incentivando seu cuidado, em vez da repressão antecipada. Seria o primeiro passo para que os estudantes sentissem o campus com um espaço seu também.
O segundo argumento é a insuficiência de verbas da PRAE. Quem controla a liberação desse tipo de verba é o professor Arno Dal Ri Jr., conhecido tanto por sua relação – ainda não esclarecida publicamente – com uma obscura fundação italiana que distribuiu recursos na UFSC de forma pouco transparente, quanto por seu trabalho de bastidores no Movimento Estudantil – algo inadmissível, em se tratando de um funcionário da PRAE. O professor vem negando sistematicamente auxílio financeiro aos encontros. Em resposta a um pedido da Comissão Organizadora do Encontro Nacional de Estudantes de Economia, respondeu sarcasticamente: “Por que vocês não pedem dinheiro ao (Hugo) Chávez?”. Diz o professor nas entrelinhas: “Não libero verba se possuírem posição política distinta da minha”. Tal postura merece o repúdio de todos os estudantes e deve ser encarada como uma ameaça a autonomia do Movimento Estudantil. Visa, através do corte de recursos, paralisá-lo e atrelar o repasse de verbas a favores políticos, a conhecida política do “toma-lá, dá-cá”. Expressa, também, a incapacidade de uma pessoa com essa visão estar à frente do Departamento de Integração Estudantil e põe em dúvida os critérios utilizados para a liberação dos recursos. O reitor, quem indicou o sujeito para o cargo, deveria pensar seriamente em substituí-lo por alguém que trate os estudantes com respeito e administre os recursos públicos de maneira transparente e impessoal.
Por fim, é importante ressaltar que a Administração Central tem sim a obrigação de apoiar os encontros estudantis. O contrário é a negação da iniciativa, da criatividade, do debate de idéias. É a negação da própria universidade, portanto. Revela uma concepção de universidade restrita às salas de aula, onde tudo mais fica a cargo da iniciativa individual de professores e estudantes. É urgente, pois, a voz do reitor sobre o assunto, e deve ser a de liberar imediatamente a utilização dos ginásios e centros de ensino, acabando com as taxas de utilização – incluída a do Centro de Cultura e Eventos. Também deve exercer pressão nos diretores de centro, principalmente sobre aqueles que têm tratado seu centro como um território feudal.
O DCE insiste em manter um diálogo aberto e público, pois acredita que esta é única forma de solucionar os problemas da universidade. A recusa do professor Prata ao convite para uma Audiência sobre o tema parece ressuscitar as práticas das gestões passadas, marcadas pela truculência e decisões de gabinete. Será esse o rumo da UFSC do Século XXI?