Aprendi, ao longo de meus 34 anos de estudo em Engenharia, que para ser eficaz e eficiente no que se faz deve-se ter objetivos claros e bem definidos, estabelecer metas, avaliar os resultados, e manter o foco nas atividades críticas. Ora, sejamos honestos, a Andes não se importa com estas coisas.
Vamos começar pelos objetivos definidos na cartilha da Andes, os quais formam uma lista de mais de 300 pontos. O que se pode esperar de uma organização que trilha caminhos em 300 direções distintas?
Os objetivos de um sindicato deveriam ser, fundamentalmente, os que seguem:
a) Lutar para aumentar os salários da categoria: apesar de todo o nosso esforço em aumentarmos a produtividade das Universidades, o gráfico que circulou em várias listas de discussões demonstra a estupenda defasagem de nossos salários nos últimos 15 anos. Não só não tivemos aumentos reais, como chegamos a receber, em termos reais, somente 50% do que ganhávamos há 15 anos.
b) Lutar por melhores condições de trabalho: neste país, o professor de IFES que quiser dispor de boas condições para realizar seu trabalho, que se vire por conta própria. Computadores, laboratórios, livros, tinta para impressora, são coisas que se tem, se conseguir “grana por fora” ou tirar do salário. Em matéria de tecnologia, se não fossem as Fundações estaríamos anos-luz defasados do resto do mundo. E o que a Andes faz para resolver isto? Cria um grupo de trabalho que na prática quase quebra algumas das fundações, que bem ou mal, eram as que proviam os recursos para a manutenção de pesquisas e ensino de qualidade.
c) Apoio jurídico nas questões trabalhistas: ao perder a carta sindical em 2003, a Andes não perdeu apenas um registro sem importância junto Ministério do Trabalho. Ela colocou em risco as nossas causas trabalhistas. Diversos relatos dão conta de que estas causas estão sendo derrubadas no judiciário, pelo simples questionamento de que a Andes não é um substituto processual legal dos professores, dado que não é sindicato. E, pasmem, passados mais de cinco anos, o tal registro ainda não foi recuperado! A questão é de ordem constituicional, e a Andes insiste em dizer que se trata de um “detalhe burguês”. Isto é uma afronta à Constituição da República Federativa do Brasil, vinda justamente de quem nos deveria dar apoio jurídico.
d) Garantir a segurança no trabalho: vimos colegas nossos serem encarcerados por estudantes durante as invasões que ocorreram em diversas universidades brasileiras. Com frequência somos surpreendidos pela atuação de traficantes, sequestradores, ladrões e gangs que atuam nos campi universitários. Estas coisas não podem ser confundidas com movimentos sociais legítimos. E qual tem sido a posição da Andes a este respeito? Quais foram as medidas exigidas para que fatos desta natureza não ficassem impunes? Quais são as reivindicações da Andes para garantir a nossa segurança nos campus?
e) Saúde e previdência social: por que até hoje não temos um plano de saúde de qualidade, para nós e nossos dependentes, mantido integralmente por nosso empregador? Por que mesmo depois de se aposentarem, muitos de nosso colegas continuam trabalhando para sustentar suas famílias? Aparentemente, aqui também temos problemas.
Em relação aos 5 objetivos que listei acima, a Andes falhou em todos. Naturalmente, tenho que reconhecer que a Andes tem sido pródiga em diversas outras ações que fazem parte de sua bandeira de luta: na luta contra o imperialismo econômico americano, no apoio ao MST e outros movimentos ditos “sociais”, na luta contra as fundações, na luta em defesa dos povos indígenas e os oprimidos pelas guerra,… Não que eu seja insensível a todas estas questões, mas e os nossos objetivos mais fundamentais, os objetivos que definem a missão da Andes enquanto sindicato, como ficam?
Por incrível que possa parecer, nenhum destes nossos 5 objetivos se encontram listados entre os dez primeiros na lista de 300 objetivos da Andes. Todos estão em um plano secundário, ou sequer considerados,… o nosso bem-estar se tornou pouco relevante,… a Andes nos relegou a um patamar inferior,… fomos desprezados.
Agora, somos chamados pelo CR a responder “sim ou não” na questão da suspensão do repasse à Andes. Colegas nossos, que defendem o reestabelecimento do repasse, querem caracterizar a situação como meramente jurídica, sem levar em conta o aspecto político, mantendo, assim, a nossa subserviência aos interesses da Andes.
Ora, colegas, o aspecto jurídico existe, mas diz respeito à diretoria da Apufsc, que responde legalmente pelos próprios atos. E, neste sentido, considero que o encaminhamento da diretoria foi corretíssimo, pois na dúvida ela agiu preventivamente, em favor de quem lhe confiou os depósitos em questão, isto é, em nosso favor. Em outras palavras, nesta questão a Apufsc manteve-se fiel depositária do dinheiro, que é dos associados enquanto o repasse não se concretiza. Além do mais, como já falado exaustivamente, não ouve o cancelamento do repasse, e sim a suspensão do mesmo. Em se revogando a decisão de suspensão, que agora é do CR, tudo volta ao que era antes, e a Andes recebe retroativamente. Ou seja a decisão tomada não gera perdas irrecuperáveis para nenhum dos dois lados. Daí ser esta a decisão mais correta. Daí a razão pela qual esta diretoria merece nosso elogio e nosso apoio.
Para os associados da Apufsc, entretanto, considero a decisão política. Particularmente, eu quero discutir a questão do repasse pois penso que esta é uma oportunidade única para fazer a Andes entender que precisa rever todas as suas práticas “democráticas” (entre aspas pois não as considero como tal: chega de assembléias de meia dúziad+ chega de assembléias que apunhalam pelas costas os associados depois que estes tenham se retirado do recintod+ chega de representantes que não prestam contas a seus representados). E mais do que isso, a Andes precisa voltar a cumprir sua missão de sindicato, e recuperar a carta sindical é mais um “detalhe” a ser cumprido, entre tantos outros. Acho que não estou pedindo muito, pois estas coisas são absolutamente essenciais.
Hoje, contudo, o grande problema a ser resolvido, que é da Andes, e não meu, é que as AD”s/IFES que ainda prestam seu apoio, estão pouco a pouco desaparecendo: já eram mais de 60… passaram para umas 30, e nas últimas reuniões não chegavam a 20… A continuar esta tendência, depois serão 10, 5… A pressa não é minha… mas o tempo corre cada vez mais rápido contra a Andes.
O surgimento do Proifes, ao contrário do que os seguidores da Andes tentam fazer os demais professores acreditarem, não se deve a um plano maquiavélico do governo ou da CUT. O Proifes surgiu porque a Andes foi extremamente inapta no cumprimento de suas tarefas críticas. Mais ainda, a Andes foi inconsequente ao traçar sua política de atuação que privilegia o enfrentamento e o protesto ao invés da negociação.
Continuando, o enfraquecimento do movimento docente, o desinteresse dos professores em relação as questões do sindicato, não se deve ao assoberbamento com as tarefas do dia-a-dia… Para aquilo que é realmente importante, nós somos capazes de destinar o tempo que é necessário. Além do mais, o nosso trabalho, os nossos salários, que sustentam nossas famílias, continuam tendo a mesma importância que sempre tiveram. A real causa desta apatia toda em relação ao “sindicato” é óbvia: não atuando na direção dos objetivos que nos são mais caros, a Andes passou a ser tratada como algo irrelevante.
E não me venham com a desculpa de que, se não fosse a Andes, teria sido ainda pior. Esta tese está desqualificada em face das últimas negociações salariais realizadas entre Proifes e Governo, através da qual estamos recuperando parte das perdas acumuladas pela ineficácia da Andes nestes últimos 15 anos. Além do mais, este é o tipo de desculpa que o incompetente costuma usar para justificar o seu próprio fracassso. Caiu a máscara. Agora estamos enxergando a verdadeira face da Andes.
Mas, existe um lado muito positivo nisto tudo. Esta discussão em torno da Andes, aparentemente faz ressurgir, aqui e acolá, o movimento docente que estava adormecido estes anos todos. Os professores, aos poucos, estão começando a se interessar por ele novamente (este foi o meu caso). Em torno de que entidade este movimento vai se consolidar eu confesso que não sei. Mas, sou capaz de apostar onde ele não estará daqui a 5 anos, se nada for feito para mudar a Andes. Então, vou contar o que eu gostaria de votar nesta assembléia:
Manter a suspensão do repasse, até que a Andes mude suas práticas e volte a cumprir plenamente a sua missão, ou até que ela deixe de existir, o que ocorrer primeiro.
Justifico este meu voto: se a Andes fizer direitinho o dever de casa, voltar a cumprir sua missão, o que eu espero sinceramente que ela faça, volta a receber os repasses. Se continuar fazendo de conta que o problema não é dela, então o tempo se encarregará de resolver a questão sem que se tenha que mover uma palha para isto. Já basta de ser condescendente com quem acumulou tantos fracassos nestes últimos 15 anos. Estou sendo injusto? Vejam por outro lado: quem tirou o trem do trilho, que assuma a responsabilidade de colocá-lo de volta, ou então entregue o comando a quem saiba fazê-lo. Mas, enquanto eu não tiver a confiança de que o trem partirá para o destino certo, não pago 1 centavo a mais pela passagem.
Finalizando, se o problema em foco nesta assembléia fosse apenas o repasse, decorrente do princípio da Andes querer representar todo o ensino superior (incluindo as particulares), ele estaria resolvido há muito tempo, pois a solução é trivial, apesar de se arrastar por mais de 5 anos. O problema da Andes não é só de princípios. É de princípios, meios e fins. Quase tudo na Andes está comprometido: escapam parte da estrutura e a história dos anos 80. Estas me interessam resgatar, até mesmo para que a história da Andes nos anos 80 não se confunda com este passado recente.