A trajetória que buscarei relembrar enquadra o Movimento Docente das IFES e, de certo modo, lhe engendrou. Será impossível lhe contar a sua história ignorando os fatos que alinharei a seguir. A história de nosso País está marcada pelo Sindicalismo do Lula no ABC metalúrgico de SP de 1978. Um longo período de greves e de repressão da ditadura militar, naquela fase, com repercussões muito grandes, no País todo e de onde se deriva o atual Presidente da República.
O governo da ditadura militar do período já cedia à pressão popular, das eleições parciais e do MDB e nomeou o ministro Petrônio Portela para a transição lenta e gradual da ditadura que parece ter engendrado e patrocinado a criação do PT, em 1980. Mas não permitiram a legalização dos partidos comunistas e socialistas. Além de terem convivido com a aprovação da Lei de Anistia restrita, em agosto de 1979.
O programa do PT parecia seguir uma mimetização do Solidarnosc dos católicos reacionários e do Walesa da CIA e da Polônia, onde o cardeal Wichinski ficou exilado na Embaixada dos Estados Unidos ou de Roma, por muitos anos, em Varsóvia. E lá, eles brigavam muito pela democratização da Polônia que tentava se desvencilhar da opressão que lhes impunha a então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, no bojo da Guerra-Fria que vinha de 1945.
Mas nós aqui já lutávamos muito pela anistia, restabelecimento do Estado de direito, recuperação do habeas corpus, eleições diretas, etc. Organizávamos os Enclat”s, Conclat”s e pró-CUT que levou à fundação da CUT. O que recriou e renovou o sindicalismo, no Brasil. Nesta etapa também se fundou a Andes, em 1981, criada pelas ADs. As Associações de Docentes das IFES, como a Apufsc que “forneceu” o seu primeiro presidente, que foi o professor Oswaldo Maciel. A Andes não surgiu das bases, mas foram as bases que criaram as ADs das IFES que foram as criadoras da Andes. A Apufsc, por exemplo, é de junho de 1975.
E a Andes já surgiu enfrentando oposições, no seu interior, desde a sua criação. E surgiu a Articulação Andes-AD que se ampliou muito e que sempre seguia o PT e a CUT. Mas, já enfrentavam a oposição a Andes como foi o caso dos professores Paulo Rosas (UFPE) e Joel Teodósio (UFRJ), na eleição da Andes de 1986. Aí já se explicitava o desejo e a necessidade de uma Andes somente das IFES (Federais), sem as IEES (Estaduais) e as IPES (Particulares).
Neste bojo surgiu e foi crescendo também o “aparelhamento partidário” das ADs e da Andes. E parte de sua oposição implicava em “assistencialismo sindical” ou “sindicalismo de resultados” dentro do sindicalismo das IFES. Uma idéia sobre a qual voltarei num outro dia.
No País, não se conquistou as Diretas, Já!, em 1985, mas através do “colégio eleitoral da ditadura” se-lhe superou, com a eleição de Tancredo de Almeida Neves do PMDB, para presidente. O vice foi o Sarney que veio do racha da Arena-PDS-Maluf. Daí, também surgiu a Frente Liberal. Com a morte do Tancredo se entregou a Presidência ao Sarney que, com o forte papel do Dr. Ulysses Guimarães se conquistou a legalização dos partidos de esquerda, comunistas e socialistas, além da convocação da Constituinte brasileira de 1986 a 1988.
Nas IFES, crescia a oposição à Andes que se fez presente no Congresso de Goiânia de 1986. O manifesto do Congresso de Juiz de Fora que se seguiu (1987-88) foi outra expressão disto tudo. A filiação à CUT gerou muitas batalhas e polêmicas no interior das IFES, mas, com as conquistas sindicais dos servidores públicos federais, a filiação a CUT se consumou no Congresso da USP, em 1988. A Greve da isonomia com as universidades fundacionais de 1987 agregou muitos senões ao sindicalismo da Andes, CUT e de SPFs, passando por 1988 e crescendo, continuadamente.
Seguindo daí se passou por um grande período de sindicalismo belicista e militarizado. Aparelhando-se, partidariamente, a Andes e as ADs, de modo nítido e crescente, excluindo, completamente os professores e as oposições de suas bases. Isto se alongou de 1988 até hoje. Mas, nós passamos pela oposição a Andes com o Renato Oliveira da ADUFRGS e o seu linchamento pela Andes aparelhada e partidarizada de 1996 a 2000. A Articulação Andes-AD abandonou a CUT e migrou para PSTU, MST, PSOL e Conlutas.
Esta é uma trajetória que está escrita no MD e que é bem presente na UFSC, desde 1980. E tudo começou com a Libelu dentro do PT e na CUT. Hoje estão todos bem legalmente divorciados! Mas isto tudo fortaleceu muito a oposição a Andes e foi alinhando ADs, em torno de um sindicalismo próprio e forte das IFES que redundou no Fórum do Pro-IFES, em 2004 e até vir desaguar no ProIfes de 2008-2009.
É este caldo todo que enquadra as discussões sobre o sindicalismo local de hoje. Diante disto tudo é que precisamos tratar de responder a muitas perguntas e inquietações como: Que futuro desejamos? Como e qual será a melhor representação dos professores das IFES? Qual será o nosso melhor futuro? A Andes terá futuro como sindicato ou como partido junto com a Conlutas? O que será melhor para os professores das IFES, para as suas ADs e suas Diretorias? O que faremos? Nós, aqui na UFSC e na Apufsc, que caminho escolheremos?