A França viveu ontem sua maior jornada de protestos desde o aprofundamento da crise econômica mundial, em setembro de 2008. Em 226 passeatas, entre 1,2 milhão e 3 milhões de funcionários públicos e de empresas privadas foram às ruas protestar contra o desemprego, a queda do poder de compra, o auxílio aos bancos e o fechamento de usinas.
Em Paris, serviços essenciais como transporte e educação sofreram paradas parciais, de 12% a 35%. Uma marcha a partir da Praça da República, na tarde de ontem, reuniu de 85 mil, segundo a polícia, a 350 mil pessoas, segundo os organizadores. Entre palavras de ordem, um canto resumia o sentimento da maioria: “Aumentar os salários, não os acionários!”
Nicolas Cavagnon, universitário de 23 anos, era um em meio à massa. “As verdadeiras vítimas da crise internacional são os trabalhadores”, desabafou. “Aqueles que nos puseram nessa situação, banqueiros, altos funcionários, dirigentes industriais, só pensam em suas próprias recompensas, enquanto todos os outros sofrem.”
Movimentos semelhantes ocorreram nas principais cidades do interior, como Marselha, Lyon e Caen. Em Compiège, mais de 10 mil pessoas protestaram contra o fechamento de uma usina da fabricante de pneus alemã Continental. Atos semelhantes foram realizados por trabalhadores da Sony e da companhia petrolífera Total .
A insatisfação social vem crescendo na França tanto em relação ao governo, como contra empresas privadas. Na Total, onde o lucro em 2008 chegou a 13,9 bilhões, 555 vagas serão fechadas. Há revolta também contra os bônus dados a executivos de empresas em dificuldades. “Há cada vez mais manifestantes na rua e inclusive do setor privado”, disse o secretário-geral da Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT), Bernard Thibault.
A mobilização foi 20% maior do que a realizada em 29 de maio. Na ocasião, o presidente Nicolas Sarkozy anunciou um pacote social de 2,6 bilhões. Dessa vez, calou-se. Pela manhã, recebeu o primeiro-ministro do Reino Unido, Gordon Brown, e à tarde partiu a Bruxelas. Por meio de assessores, disse que não fará novas concessões, o que irritou sindicalistas. “O silêncio não pode ser a resposta do governo e do patronato”, disse François Chérèque, secretário-geral da Confederação Democrática do Trabalho (CFDT).