Ao mesmo tempo em que discute a possibilidade de ter que adiar ou suspender os reajustes salariais já autorizados ao funcionalismo, o governo estuda preservar alguns setores. Por terem ficado mais tempo na fila reivindicando melhorias nos soldos, os militares levam vantagem em relação às cerca de 60 carreiras civis contempladas no ano passado com aumentos. As mudanças salariais foram concedidas em parcelas que começaram a incidir nos contracheques dos servidores públicos em 2008 e terão impactos, de forma escalonada, até 2010. Boa parte dos funcionários do Executivo federal espera para julho uma nova parcela do reajuste, entre os quais ativos, inativos e pensionistas.
Internamente o assunto ainda está em aberto, mas se as receitas da União continuarem caindo, a decisão de reprogramar o calendário acertado com os sindicatos será tomada. Nos bastidores, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, trabalha pela manutenção das datas e dos percentuais garantidos aos militares. Ao presidente Lula e ao ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, Jobim teria dito que o clima nos quartéis ficaria muito ruim se civis e militares recebessem, neste caso, o mesmo tratamento.
Negociado diretamente entre Jobim e Bernardo, o reajuste dos militares foi concedido por meio de medida provisória, que acabou convertida em lei, em 2008, e encerrou um longo ciclo de negociações que envolveu a equipe econômica e até o presidente Lula. Ao todo, 612 mil militares se beneficiaram. No ano passado, o impacto financeiro chegou a R$ 4,19 bilhões, enquanto que em 2009 a previsão de gasto com a parcela de julho é de R$ 7,13 bilhões. No próximo ano, com os dois últimos módulos do aumento prometido, a repercussão orçamentária será de R$ 10 bilhões.
Ameaça – Assim como os civis, entidades ligadas aos militares não admitem repactuação de prazos e muito menos o cancelamento dos reajustes salariais. “Se houver adiamento vamos fazer um panelaço que o governo nunca viu antes”, disse Ivone Luzardo, presidente da União Nacional das Esposas de Militares das Forças Armadas.
Hoje, sindicatos que representam os servidores civis voltam à Esplanada dos Ministérios para um protesto que tem como objetivo pressionar o governo a manter o calendário de reajustes negociado com as categorias. No ato público de ontem, aproximadamente 3 mil pessoas caminharam na Esplanada para cobrar políticas salariais iguais para ativos e inativos.