Durante muito tempo se considerou que conquistar o poder deveria ser o objetivo principal para implementar o modelo de organização social e política em que se acredita. Valendo isto para qualquer ideologia. Quando o grupo escolhido abocanha o poder, deve gastar a maior parte do seu tempo e de sua energia em mantê-lo, afinal os opositores também o querem. É importante, desta forma, implementar ações que garantam a permanência no poder, de preferência que permitam obter mais poder. O poder em todas as instâncias garante que não haverá sobressaltos na hora de implementar o modelo. Qualquer semelhança com a instalação de um império pode ser considerada adequada. Impérios deixam seus súditos tranqüilos com pão e circo, assim duram bastante. Se o império não oferecer circo os súditos podem reagir ao tédio com idéias de mudança, e se não oferecer pão com idéias de rebelião (e mudança). De qualquer forma mudar é a ultima coisa a se cogitar. Hegemonia é a palavra de ordem.
Acontece que os súditos não participam do poder, são excluídos. Se por acaso estivermos tratando de uma organização democrática, onde uma classe (casta) conquista o poder através de uma eleição e implementa os métodos acima descritos, os excluídos são os eleitores. Se o império for criado dentro de uma organização social maior e mais poderosa os excluídos têm outras atividades para realizar fora do império e não precisam ficar entediados ou famintos. O império fica exclusivamente para a corte.
Por outro lado, se um bando de excluídos descobre que uma organização baseada na participação de todos, com respeito mútuo e colaboração (ao invés de competição) pode resultar em melhores condições de vida, certamente quererá derrubar o império. E claro que se corre o risco que os novos escolhidos para liderar a organização sucumbam aos seus impulsos humanos e queiram cada vez mais poder. A menos que o poder esteja com os excluídos, ou o mais próximo possível deles. Enfim, um sistema participativo de governo.
Agora vem a parte difícil. Os excluídos, que passaram muito tempo imersos numa grande organização onde o poder está longe deles, encontraram uma forma de obter pão e circo para si. Embora pudessem estar em uma condição melhor, a acomodação a uma situação de vida que se deteriora imperceptivelmente no dia-a-dia (a menos que se faça uma reflexão sobre um período mais longo de tempo) não os condiciona a formarem um bando. O problema é que se necessita de um tempo para perceber a solução, um esforço para se organizar e, o mais difícil, acreditar que é possível. Perceber que uma solução existe requer de um tempo de ócio para que a criatividade faça sua aparição e, no momento, é difícil de este tempo estar disponível para os professores universitários. Perceber que a solução somente pode ser alcançada coletivamente requer o duplo esforço de ter que mudar o comportamento individualista e dedicar tempo a tarefas que não tem retorno garantido. Finalmente, acreditar que é possível se organizar e conseguir uma solução, após décadas de ser um excluído dos processos decisórios, requer uma cota de esperança de que a criação de uma organização social nova é possível.
Organizar uma agenda para o Conselho de Representantes e, por extensão, para a Apufsc é uma forma dos professores criarem a organização que os atenda. O processo participativo de construção da agenda em si é de fundamental importância, e não tem mágica, a participação se dará a partir do respeito pelo participante, respeito independente da multiplicidade de concepções de mundo, independente das idéias. Os mecanismos para construção de agenda e organização do sindicato serão encontrados no caminho, certamente não por alguém, mas pelo coletivo exercendo seu poder.
Se achar que é importante, participe, sugira, critique, pergunte. O seu representante deve atendê-lo.